Um ser de circunstância e eterno

MURILO MENDES (1901-1975)

Murilo Mendes, “o poeta brasileiro de Roma”, é o protagonista desta terceira crônica da série. O cosmopolita poeta mineiro continua sendo o menino de Juiz de Fora que se fez Poeta como “ser de circunstância e eterno”

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Poesia Metafísica (3)

John Donne

(c) genius.com

DIFÍCIL DIZER ALGO RELEVANTE, agora,
neste século em que o mundo se mostra às avessas,
de ponta-cabeça; difícil quando o que temos é apenas…

“um….mundo
Fora dos eixos,
como de nascença, manco…”

QUANDO o amigo te anuncia solene o veredicto dos ‘especialistas’:

“Não publique versos, principalmente não os publique em linhas destacadas, i.e., versos alinhados como versos foram compostos, paridos, suados, tirados à fórceps da idéia do poeta…que os tirou de alhures, do éter, do Todo…
É como se anunciasse a morte de Elizabeth Drury ou de Laura, a Donne ou a Petrarca. Penso:

“….o corpo é nada, morto o coração,
A não ser que te nutras (banquetear-te, não!)
Do alimento transcendente – a Religião.”

As pessoas não lêem. Não se interessam por versos… E, afinal, todos queremos ser lidos, todos queremos audiência.
Um dos males do século é a audiência. O desejo dela. A ausência.
O inopinado desejo de possui-la, mesmo que ao preço do estupro mental.
Se cresces assim, à caça de tal público…segreda-me Elizabeth:

“….Por mais que cresças, cresces apoucado e seco.”

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Poesia Metafísica (3)

John Donne

(c) genius.com

DIFÍCIL DIZER ALGO RELEVANTE, agora,
neste século em que o mundo se mostra às avessas,
de ponta-cabeça; difícil quando o que temos é apenas…

“um….mundo
Fora dos eixos,
como de nascença, manco…”

QUANDO o amigo te anuncia solene o veredicto dos ‘especialistas’:

“Não publique versos, principalmente não os publique em linhas destacadas, i.e., versos alinhados como versos foram compostos, paridos, suados, tirados à fórceps da idéia do poeta…que os tirou de alhures, do éter, do Todo…
É como se anunciasse a morte de Elizabeth Drury ou de Laura, a Donne ou a Petrarca. Penso:

“….o corpo é nada, morto o coração,
A não ser que te nutras (banquetear-te, não!)
Do alimento transcendente – a Religião.”

As pessoas não lêem. Não se interessam por versos… E, afinal, todos queremos ser lidos, todos queremos audiência.
Um dos males do século é a audiência. O desejo dela. A ausência.
O inopinado desejo de possui-la, mesmo que ao preço do estupro mental.
Se cresces assim, à caça de tal público…segreda-me Elizabeth:

“….Por mais que cresças, cresces apoucado e seco.”

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Poesia Metafísica (2)

Cenas de poesia explícita em Antologia da Poesia Metafísica.
Poesia Metafísica

Uma Antologia.
Organização, tradução, introdução e notas de
Aíla de Oliveira Gomes

>>AQUI AMOSTRAS DO AMOR “Sensous Thought” na Poesia Metafísica.<< Áudio de Naxos Poetas Metafísicos (em inglês) Retiro outros poemas e outro trecho do TRABALHO CAPRICHOSO feito por minha tradutora predileta – D. Aíla de Oliveira Gomes -, de quem divulgo há muito tempo as traduções impecáveis de Emily Dickinson (devo ainda em breve dedicar-me às traduções de Gerard Manley Hopkins feitas por D. Aíla) – aqui, agora, o foco é em “Poesia Metafísica”. Recorro, ainda, às anotações de leitura de anos atrás. Já havíamos ressaltado o “pensamento e a sensibilidade” advindas da prática da meditação cristã na obra dos poetas desta “escola”. A profundeza da concepção cristã da vida e o forte pendor espiritual que os aproxima da poesia medieval, ainda que composições datadas dos “Seiscentos”. O segundo aspecto ressaltado pela organizadora do volume citado é o “sensous thought em uma aura de wit”. Continuar lendo

Poesia Metafísica (2)

Cenas de poesia explícita em Antologia da Poesia Metafísica.
Poesia Metafísica

Uma Antologia.
Organização, tradução, introdução e notas de
Aíla de Oliveira Gomes

>>AQUI AMOSTRAS DO AMOR “Sensous Thought” na Poesia Metafísica.<< Áudio de Naxos Poetas Metafísicos (em inglês) Retiro outros poemas e outro trecho do TRABALHO CAPRICHOSO feito por minha tradutora predileta – D. Aíla de Oliveira Gomes -, de quem divulgo há muito tempo as traduções impecáveis de Emily Dickinson (devo ainda em breve dedicar-me às traduções de Gerard Manley Hopkins feitas por D. Aíla) – aqui, agora, o foco é em “Poesia Metafísica”. Recorro, ainda, às anotações de leitura de anos atrás. Já havíamos ressaltado o “pensamento e a sensibilidade” advindas da prática da meditação cristã na obra dos poetas desta “escola”. A profundeza da concepção cristã da vida e o forte pendor espiritual que os aproxima da poesia medieval, ainda que composições datadas dos “Seiscentos”. O segundo aspecto ressaltado pela organizadora do volume citado é o “sensous thought em uma aura de wit”. Continuar lendo

Poesia Metafísica (1)

CEREBRAL e de profunda espiritualidade, eis a Poesia Metafísica, reabilitada para os leitores modernos.
CENAS POÉTICAS DA ANTOLOGIA organizada por Aíla de Oliveira Gomes.

Poesia Metafísica

Uma Antologia, org., trad. introd. e notas de                          D. Aíla de Oliveira Gomes

TRABALHO CAPRICHOSO da minha tradutora predileta – D. Aíla de Oliveira Gomes que já conhecíamos de traduções impecáveis de Emily Dickinson e Gerard Manley Hopkins – agora selecionou, organizou, traduziu e, ainda mais, brindou-nos com uma introdução magnífica deste volume de 1991, pela Schwarcz Editora (Cia das Letras).

Retiro o volume da estante com as anotações de 1993, feitas à época sob o influxo dos estudos que eu fazia e que me foram úteis à minha própria visão de mundo e do fazer poético.

Se T.S. Eliot compôs um clássico ensaio (“The metaphysical poets”) sobre a chamada poesia metafísica do séc. XVII, D. Aíla, com sua introdução a essa Antologia, alcança o mérito de nos situar nessa releitura de Eliot, como um guia seguro do leitor moderno que se aventura a viajar nesta “amálgama muito típico de paixão e pensamento“.

Pensamento e Sensibilidade
Tomamos gosto e passamos a apreciar essa “unificação do pensamento e sensibilidade” que entre os poetas metafísicos foi favorecida e exercitada pela prática da meditação sobre os temas religiosos fundamentais, muitas vezes desenvolvida na forma de oração mental.
A meditação cristã tem raiz em santo Inácio de Loyola (Exercícios Espirituais, 1548), relata-nos dona Aíla. John Donne, de família e formação católica muito enraizada, recebeu influência de seu tio, missionário jesuíta, que, ao que consta, morreu como mártir da Fé católica. Robert Southwell, poeta jesuíta e fervoroso adepto da meditação, teria sido o iniciador do movimento poético de “sensous thought” (Marz).
Três estágios são observados na meditação jesuítica:
i) Composição do cenário;
ii) Súplica ou análise de uma situação;
iii) Tentativa de comunicação com a divindade ou “exortação do devoto a si próprio, no sentido de um compromisso com seus bons propósitos.
São Francisco de Sales preconizava a prática da meditação cristão, à qual fora introduzido por Nicholas Ferrar, piedoso anglicano de Little Gidding. O livro de S. Francisco de Sales – “Introdução à vida devota” (1609) é inspiração para os católicos do séc. XVII na Inglaterra. Seria, segundo dona Aíla, “de natureza mais suave que a recomendada por Loyola em “Exercícios Espirituais”.

“A profundeza da concepção cristã da vida e o forte pendor espiritual entre os poetas metafísicos  – o humano, para eles, estando indissoluvelmente ligado ao divino – aproxima-os em sua inspiração, mais da poesia medieval (naturalmente em outra ambiência cultural) que da elisabetana; com esta, seus pontos de contato consistem no cunho erudito da arte que praticavam, na adoção frequente de certas formas poéticas – mormente o soneto -, no gosto pela imagística de navegação e descoberta de novas terras, no tema do efêmero da vida.” (Aíla de Oliveira Gomes).

Dois Poemas de Poesia Metafísica

1) John Donne – Preleção sobre a Sombra

Espera, que uma preleção eu vou te ler,
Amor, sobre o amor e sua filosofia.
Nessas três horas de nosso lazer,
Aqui vagando, um par nos precedia
De sombras, que eram por nós mesmos projetadas;
Ora o sol está a pino sobre nós, tu vês,
E nossas sombras, sob nossos pés;

E tudo se reduz à brava claridade.
Assim, ao que nosso amor infante crescia,
Nossas sombras, o nosso disfarce, sumia
De nós e nossos medos; mas avança o dia.

Nenhum amor atinge o seu mais alto grau
Enquanto a vista alheia teme, como um mal.

A menos que o amor no zênite haja parado,
Produziremos novas sombras do outro lado.
Se as primeiras servem a nos ocultar,
Aos outros cegando; estas, a atuar
Atrás de nós, é qual a nós mesmos cegar.
Se nosso amor definha e declina  no poente.
Tu a mim e eu a ti, falsamente,
Nossas ações deixamos se disfarcem
Entre nós. As sombras da manhã se desfazem;
Estas crescem sempre mais, todavia,
Pois, ai! se o amor se esvai, curto é o dia.

O amor é uma luz sempre crescente e constante;
Seu primeiro minuto após meio-dia é noite.

2) Henry Vaughan – Instante.

INSTANTE, poema de Henry Vaughan

Instante – poema de Henry Vaughan, trad. Aíla de Oliveira Gomes.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Fonte:


(1) Seg. Louis L. Marz, cit. by Aila de Oliveira GOmes.
(2) Poesia Metafísica / William Shakespeare…[et alli]; seleção, tradução, introdução e notas Aíla de Oliveira Gomes. – S. Paulo: Companhia das Letras, 1991.
1.Poesia Inglesa – Coletâneas I.Shakespeare, William, 1564-1616. II. Gomes, Aíla de Oliveira.
ISBN 85-7164-198-6.