Para os poetas Augusto Frederico Schmidt e Tasso da Silveira…
E ao traçar estes dois perfis em resumida crônica, encerro o ciclo “Poetas católicos do Brasil”.
Confira o artigo na íntegra, clicando no link abaixo:
*WLADIMIR SALDANHA nasceu em 1977, em Salvador, cidade onde reside. Estreou com As culpas do poema (Scortecci, 2012), livro distinguido com o X Prêmio Literário Asabeça para a Região Nordeste, categoria poesia. Esse primeiro título seria incorporado ao volume Culpe o vento (7Letras, 2014). Lançou ainda Lume Cardume Chama (7Letras, 2014) − obra selecionada para publicação pela Fundação Cultural da Bahia. Participou das antologias portuguesas Poetas na surrealidade em Estremoz (2007) e DiVersos – Poesia e Tradução (2008). Recebeu menção honrosa do Prêmio SESC de Literatura 2011-2012, categoria livro de contos. Possui formação jurídica, sendo também mestre e doutor em letras pela UFBA. Seu próximo título de poesia, Cacau inventado, será lançado em 2015, pela editora Mondrongo, de Itabuna.
CLIQUE para ler o artigo completo em Opção Cultural Online.
P.S.: Aos leitores que desejam saber mais sobre a obra de Wladimir, além de “Natal de Herodes”, recomendo esta seleta da Mallarmargens.
http://www.mallarmargens.com/2015/02/5-poemas-de-wladimir-saldanha.html
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Capa: rep. Mulher Tropical – escultura de Elifas Modesto.
Cresta a brasa em seus lábios –
o serafim contra o canto inerte.
Ei-lo aqui, a contestar os sábios
sua voz clamando no deserto.
E mesmo dos mares inavegados
sua voz clama por delicadeza –
deixai que o anjo de livro antigo
salte e vos desperte à Natureza.
As cores todas redivivas colhei
e da montanha antiga descei
ó bardo, e mostrai à nossa face
as tábuas de uma nova grei.
Todo homem sob a Terra
ainda que o mais triste,
o mais trôpego que seja
o peregrino exangue…
Saibam todos agora e exaltem
o passo à próxima porta aberta
salvos que foram pela tenaz.
O anjo crestou o lábio impuro.
Saiba todo homem e súbito
exalte a mensagem do profeta:
o vislumbre de sonho novo.
Que um pássaro da noite veio
é quem desata o próximo portal.
O poeta pela tenaz do Anjo –
fez-se em profeta alucinado.
Sim, ante à tenaz do arcanjo
de toda solidão curado,
toca o clarim da alvorada;
em rouxinol transmutado,
do Amor tece sua balada.
./.
Plantation (Flórida), 13 de FEV/2017.
[(*) Poema composto a partir da leitura de um trecho de Isaías, 6.]
LEIA-SE, dizia Manuel Anselmo em 1939, no Ensaio de Interpretação Crítica sobre A Poesia de Jorge de Lima:
Poema “Acendedor de Lampiões”, do livro XIV Alexandrinos (1907)
O ACENDEDOR DE LAMPIÕES
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Lá vem o acendedor de lampiões de rua!
Este mesmo que vem, infatigavelmente,
Parodiar o Sol e associar-se à lua
Quando a sobra da noite enegrece o poente.Um, dois, três lampiões, acende e continua
Outros mais a acender imperturbavelmente,
À medida que a noite, aos poucos, se acentua
E a palidez da lua apenas se pressente.Triste ironia atroz que o senso humano irrita:
Ele, que doira a noite e ilumina a cidade,
Talvez não tenha luz na choupana em que habita.Tanta gente também nos outros insinua
Crenças, religiões, amor, felicidade
Como este acendedor de lampiões de rua!—–
“LEIA-SE, com atenção, esse seu [dele, Jorge] célebre soneto “O Acendedor de Lampiões”, que consta hoje de várias antologias brasileiras…Aqui está, afinal, uma atitude de solidariedade humana que não destoa daqueloutra que consta dos seus poemas negros, por exemplo, “Pai João”, e se continua, com intensidade, nas páginas do seu romance “Calunga”. Além disso, esse soneto acusa uma facilidade verbal que não é, aliás, irmã dos esforços deslumbrados desses ourives florentinos que foram os parnasianos. Erradamente se apelidou, pois, de parnasiana, uma experiência que foi, afinal, clássica e tradicional.”
(*) Transcrito de Jorge de Lima, Poesia Completa, vol. I, p.37/8.
A ALEGRIA da descoberta deste artigo de José Carlos Zamboni opera a necessidade de repensar a tríade dos católicos-poetas do Brasil no séc. XX, transformando-o em um quarteto. Ainda hei de descobrir o 4o. elemento, o poeta Tasso da Silveira, de quem Zamboni perfila:
“O mais homogeneamente católico dos nossos poetas católicos foi sem dúvida o curitibano poeta Tasso da Silveira, cuja obra se encontra infelizmente esquecida dos editores e do público. Quando for reeditado, os futuros leitores de poesia tombarão de espanto (na remota hipótese dessa espécie, a dos leitores de poesia, sobreviver aos predadores culturais desta e das próximas décadas).”
Tudo que conheço dele é este poema gravado por Ted Rocha – Curitiba da infância morta. Confiram.
À medida que minha pesquisa avance, hei de trazer-lhes mais poemas.
Homenagem a Schmidt: 50 Anos de “Sonetos” (1965-2015)
– Poeta presente em nossas vidas de leitores e ali onde mora a imaginação poética para sempre há-de permanecer.
Augusto, membro da tríade de poetas católicos do Brasil.
Augusto católico que quando a fé titubeava e sentia-se qualquer coisa de descrente, qualquer coisa de dúvida, de pronto voltava ao seio da Mãe, a Igreja Católica, santa e apostólica para aí devotar-se mais e mais à Poesia.
50 Anos sem Augusto, para mim há-de melhor traduzir-se em “50 Anos com a poesia eterna de Augusto Frederico SCHMIDT”.
Augusto, o poeta-empresário, jornalista brilhante, editor, assessor de JK, o botafoguense, Augusto por vezes incompreendido; Augusto arrebatado, augustamente nacionalista, o criados do mote “50 Anos em cinco” – que seu (dele) amigo JK de pronto adotou como slogan de governo.
Augusto poeta – “próspero e pródigo” – que, humildemente confessa o “pecado literário” ter-lhe desde cedo o tomado; e, desde então, para a vida inteira…
Augusto poeta que viveu “as lembranças dos sonhos partidos” numa “casa construída pela imaginação“.
Livros de Augusto, estarão expostos no evnto “50 Anos de Sonetos”, a lembrar os 50 anos da morte de Augusto Schmidt, poeta eterno!
Augusto, “o poeta gordo” – e “gordo ele era e assim admite na ‘Oração do poeta gordo’ e que também era míope, mas enxergava longe…” – como viu Maria Adelaide do Amaral no prefácio do livro “Saudades de mim mesmo”, antologia de prosa, org. por Letícia Mey e Euda Alvim*.
Celebramos Augusto, 50 anos depois de sua morte, 50 anos da edição magistral de SONETOS.
Um evento na União Brasileira dos Escritores de Goiás (UBE/GO) relembrará a poesia e a memória de Augusto. Aguardem!
A morte de Augusto Frederico Schmidt relembrada no site da Fundação Yedda & Augusto F Schmidt : veja o link.
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*Fonte: SCHMIDT, Augusto Frederico (1906-1965). Saudades de mim mesmo: antologia da prosa de AFS/org. Letícia Mey, Euda Alvim, prefácio de Maria Adelaide Amaral. – S. Paulo, Globo, 2006.
6.IV
(…)
“Por una extraña manera
mil vuelos pasé de un vuelo
porque esperanza del cielo
tanto alcanza cuanto espera
esperé solo este lance
y en esperar no fui falto
pues fui tan alto tan alto,
que le di a la caza alcance.”
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“6.IV
“In a wonderful way
my one flight surpassed
a thousand,
for the hope of heaven
attains as much as it hopes for;
this seeking is my only hope,
and in hoping, I made no mistake,
because I flew so high, so high,
that I took the prey.”
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(c) S. João da Cruz, Complete Works, trad. de Kieran Kavanaugh & Otilio Rodriguez.