Lábios Impuros (II)*
Cresta a brasa em seus lábios –
o serafim contra o canto inerte.
Ei-lo aqui, a contestar os sábios
sua voz clamando no deserto.
E mesmo dos mares inavegados
sua voz clama por delicadeza –
deixai que o anjo de livro antigo
salte e vos desperte à Natureza.
As cores todas redivivas colhei
e da montanha antiga descei
ó bardo, e mostrai à nossa face
as tábuas de uma nova grei.
Todo homem sob a Terra
ainda que o mais triste,
o mais trôpego que seja
o peregrino exangue…
Saibam todos agora e exaltem
o passo à próxima porta aberta
salvos que foram pela tenaz.
O anjo crestou o lábio impuro.
Saiba todo homem e súbito
exalte a mensagem do profeta:
o vislumbre de sonho novo.
Que um pássaro da noite veio
é quem desata o próximo portal.
O poeta pela tenaz do Anjo –
fez-se em profeta alucinado.
Sim, ante à tenaz do arcanjo
de toda solidão curado,
toca o clarim da alvorada;
em rouxinol transmutado,
do Amor tece sua balada.
./.
Plantation (Flórida), 13 de FEV/2017.
[(*) Poema composto a partir da leitura de um trecho de Isaías, 6.]