Poesia Metafísica (2)


Cenas de poesia explícita em Antologia da Poesia Metafísica.
Poesia Metafísica

Uma Antologia.
Organização, tradução, introdução e notas de
Aíla de Oliveira Gomes

>>AQUI AMOSTRAS DO AMOR “Sensous Thought” na Poesia Metafísica.<< Áudio de Naxos Poetas Metafísicos (em inglês) Retiro outros poemas e outro trecho do TRABALHO CAPRICHOSO feito por minha tradutora predileta – D. Aíla de Oliveira Gomes -, de quem divulgo há muito tempo as traduções impecáveis de Emily Dickinson (devo ainda em breve dedicar-me às traduções de Gerard Manley Hopkins feitas por D. Aíla) – aqui, agora, o foco é em “Poesia Metafísica”. Recorro, ainda, às anotações de leitura de anos atrás. Já havíamos ressaltado o “pensamento e a sensibilidade” advindas da prática da meditação cristã na obra dos poetas desta “escola”. A profundeza da concepção cristã da vida e o forte pendor espiritual que os aproxima da poesia medieval, ainda que composições datadas dos “Seiscentos”. O segundo aspecto ressaltado pela organizadora do volume citado é o “sensous thought em uma aura de wit”. Sensuous Thought O poeta Robert Southwell, jesuíta e fervoroso adepto da meditação, teria sido o iniciador do movimento poético de “sensous thought“. Com os metafísicos, o poema de amor supera a tradição do “amor secular”. O pensamento poético dirigido ao “sensual”, à lírica amorosa traz o leitor para o universo a fruição amorosa, da separação, do êxtase e da perda amorosa. Dona Aíla fala de “uma metafísica do amor”, não restrito à “sátira picante” – de grande êxito na época. Com os metafísicos, ressalta Aíla “o tema do amor atinge um clímax dificilmente superado, tanto quantitativa como qualitativamente.

“A abordagem dos metafísicos ingleses distingue-se da que prevaleceu na época elisabetana (também féritl na lírica do amor), principalmente pela variedade das pautas exploradas: erótica, platônica, satírica, filosófica e mística. De modo geral, na poesia secular, o poeta interessa-se mais pelo mistério do amor que pelos próprios encantos da amada e, quer na poesia secular, que na religiosa, é certamente o Amor, em si, que fascina e exalta o poeta” (Aíla de Oliveira Gomes). No hino à Santa Teresa, de Crashaw há uma amostra disso:
“Amor, és senhor único e absoluto       Love, thou art Absolute sole 
Da Vida e da Morte.”                            Lord Of Life and Death.
– A hymn to saint Teresa.

O poeta-crítico T.S. Eliot encontrou nos metafísicos e, especificamente em Marvell, “uma flexível racionalidade sob o frágil encanto lírico”.  Os leitores do séc. XXI, mais apressados e menos críticos, talvez se enlevem com o frágil encanto lírico do sensous thought de Marvell e seus colegas. Creio no entanto que a idéia de “sensous thought numa aura de wit” (sensous thought sendo que a própria Aíla não encontrava correlato em português) pode atrair um novo leitor. Intraduzível mas considerado “elemento de sutil conceituação, sem um termo que o defina com exatidão” na lïngua de Camões, o “wit” pode ser achado em Eliot assim definido: “uma robusta racionalidade sob a leve graça da lírica”; e, ainda, como uma “aliança entre o frívolo e o sério”. O wit é mais que isso, para J.D. Palmer (adverte Aíla): “vai muito além dos recursos de uma técnica verbal; ele [o wit] decorre principalmente de uma percepção muito aguda das coisas e das situações nas quais se deleita com verdades que vão além da razão e da verossimilhança”. Assim, o wit parece ser mesmo “o antídoto contra a expressão excessiva da paixão, da veemência de sentimentos, da exagerada seriedade, ou mesmo das tensões emocionais”. O wit torna-se, assim, uma espécie de “tempero indispensável na poesia de John Donne e Marvell, bem como nos apelos de amor ou de aflição de George Herbert, dirigidos a Deus.


MAIS Poemas Metafísicos

1) George Herbert – Amor (Love)

O Amor deu-me boas-vindas :
minha alma recuou,
Coberta de culpa e pó.
Mas des’que ali entrei
o Amor me observou
A hesitar, arisco e só.
Então, gentil, aproximou-se perguntando
Se algo me estava faltando.

Sim, um conviva mais digno de aqui estar”
E o Amor diz, “Ei-lo a meu lado”.
”Eu! Pois se nem me atrevo a ti erguer o olhar
– Ruim, ingrato…Ah! meu amado!”
O Amor tomou-me a mão, sorrindo, e rebateu,
Quem deu-te olhos, senão eu!”
Sim, Senhor, mas os turvei;
e em culpa me irei
Aonde mereço ir”.
Mas tu não sabes que tuas culpas resgatei?”
Fico então para servir.”
”Senta-te aqui, prova minha ceia”,
ordena o Amor –
Então sentei-me e comi.


2) Andrew Marvell – The Definition Of Love

My Love is of a birth as rare
As ‘tis for object strange and high:
It was begotten by despair
Upon Impossibility.
Magnanimous Despair alone.
Could show me so divine a thing,
Where feeble Hope could ne’r have flown
But vainly flapt its Tinsel Wing.

And yet I quickly might arrive
Where my extended Soul is fixt,
But Fate does Iron wedges drive,
And always crouds itself betwixt.

For Fate with jealous Eye does see. Two perfect Loves; nor lets them close: Their union would her ruine be, And her Tyrannick pow’r depose. And therefore her Decrees of Steel Us as the distant Poles have plac’d, (Though Loves whole World on us doth wheel) Not by themselves to be embrac’d.Unless the giddy Heaven fall, And Earth some new Convulsion tear; And, us to joyn, the World should all Be cramp’d into a Planisphere. As Lines so Loves Oblique may well Themselves in every Angle greet: But ours so truly Paralel, Though infinite can never meet. Therefore the Love which us doth bind, But Fate so enviously debarrs, Is the Conjunction of the Mind, And Opposition of the Stars.  O poema de Marvell assim foi traduzido por Aíla de Oliveira Gomes”

image

Definição do Amor, por Marvel; trad. Aíla de Oliveira Gomes

Bônus track do post Um trecho do longo poema AS EXÉQUIAS (The Exequy), de Henry King .PoesiaMetafisica3


Fontes: (1) Seg. Louis L. Marz, cit. by Aila de Oliveira Gomes. (2) Poesia Metafísica / William Shakespeare…[et alli]; seleção, tradução, introdução e notas Aíla de Oliveira Gomes. – S. Paulo: Companhia das Letras, 1991. 1.Poesia Inglesa – Coletâneas I.Shakespeare, William, 1564-1616. II. Gomes, Aíla de Oliveira. ISBN 85-7164-198-6. (3) A diferença entre o adjetivo “sensual” e “sensous” – seg. Richard Nordquist. Sensual means affecting or gratifying the physical senses, especially in a sexual way. Sensuous means pleasing to the senses, especially those involved in aesthetic pleasure, as of art or music. Examples: a)”If one wants another only for some self-satisfaction, usually in the form of sensual pleasure, that wrong desire takes the form of lust rather than love.” (Mortimer Adler); b) Her first book of poems included several sensuous descriptions of flowers.


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