V
“Toute lune est atroce et tout soleil amer” (Rimbaud)
Se toda lua é atroz; se todo sol, amargo
o que seria de ti, oh triste caminhante
desse destino com o peso do desencargo
trazido às costas? sulcas o solo e avante
segues com afinco em busca do alvo
um dia após o outro, sem olhar pra trás.
És o que não importa com o Outro; salvo
se este vau alguém te auxilia a cruzares.
Inerte em frente a ti, o obstáculo vil –
o Amor acre, acerbo, solidão marmórea
em tudo desconforme ao teu ardil …
é preciso que sigas – o mundo o exigiu
e tu não queres ser a esposa de Ló.
A massa ignara força-te a ficar irado;
agastado reages e esqueces do que és,
do que foste – não há nenhum barco –
ébrio que seja, a tomar; estás embarcado
em seco. Et pourtant, a jornada é louca
como dantes e nada mais és que um
dos perdidos do século mau – és uno
só entre muitos afogados na amálgama;
em plena desordem – a caminho do Nada.
./.
Drafts poemas novíssimos, JAN/2017.
Republicou isso em Literatura Goyaze comentado:
Poemas contra o século xxi (v).
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