IVAN JUNQUEIRA e T.S. ELIOT ou:
Como um devoto quebra o altar onde sua poesia é incensada
e, ainda assim, se torna o maior criador da poesia inglesa?

legenda
– Essa a pergunta que o poeta e crítico literário Ivan Junqueira tenta responder num ensaio belíssimo (lembrando que a palavra ensaio tem também o sentido da “tentativa“) – que é uma aula para compreender um poeta considerado enigmático e difícil, erudito e fragmentário.
Por entender que esta pergunta e suas múltiplas respostas tem em Junqueira um bom ponto de parte é que repercuto o ensaio neste e em outros dois posts.
Sob o título “Eliot e a Poética do Fragmento”, Ivan Junqueira
traça com seu estilo inconfundível uma visão da erudição de Eliot e a representação do que ele chama de “fragmentação” e citação – um debruçar-se sobre as janelas da tradição (poético-literária) e reinventá-la, respeitando-a e recriando-a como um poeta inovador – o poeta par excellence do séc.XX.
“…Um devoto da tradição que quebrou os moldes tradicionais para dar novas formas à poesia inglesa”
– segundo Willy Lewin, citado por Junqueira.
Um devoto que quebra o altar? Como? Em que condições? É o que nos mostra o ensaio de Junqueira. E se foi um “devoto”, onde foi batizado o anglo-católico Eliot ?
E quais teriam sido as fontes extraordinárias a dessedentar esse ‘devoto’?
A resposta de pronto é “do passado sânscrito às pulsações greco-latinas; da Provence ancienne aos versos de Laforgue e Mallarmé, de Dante em diante, toda a tradição italiana dá formas novas aos fragmentos de Eliot que estruturou com essa fortuna erudita suas
“…matrizes de uma técnica de fragmentação, ou do que se poderia chamar de uma verdadeira “poética do fragmento” – como Junqueira prova neste belo ensaio, com exemplos tirados da obra de Eliot.
Eliot fez uma conta positiva com seu artesanato poético: juntou “parcelas = fragmentos” e chegou à uma “soma = poema” e fez isso a partir de duas veredas existenciais que se tornaram pilares na obra de Eliot, a saber:
“…O isolamento e a incomunicabilidade do Ser”.
Um ser humano – na pessoa do poeta e traduzino nas páginas que hoje continuamos lendo entusiasmados – onde, conforme Rainer Maria Rilke (cit. de I. Junqueira):
“está aqui, diante do Tempo e da História, sempre ‘em face’…
E, por isso mesmo, atormentado pela consciência crítica do mundo, da vida e de si próprio, pela consciência da consciência, por tudo aquilo que, enfim, nos alimenta a lacerante noção da queda (…) e do extravio.”
Queda e Extravio do Ser Humano
Em Eliot, Junqueira encontrou sinais da afirmação da “solidão e do desconcerto humanos“, desde a juventude do poeta anglo-americano, diante do movimento que os “nós dramáticos” impõem ao homem contemporâneo, vítima do “vazio e da ruína espirituais“. Esse, aliás, é um dos motivos porque se continua a ler Eliot com tanto entusiasmo, às vésperas dos 50 anos de sua morte (faleceu em Londres, em 4 de janeiro de 1965).
Diante desse “vazio” (Os Homens Ocos, Vazios) e dessa “ruína” de Terra Devastada (Desolada), o anglo-católico, “avesso a quaisquer formas de dogmatismo religioso” o que Eliot nos provê de modo encantador é “uma poesia de fundo nitidamente cristão”.
Criei uma página no Facebook com essa finalidade: exaltar e divulgar esse Poeta e essa Poesia – porque “T.S.Eliot é a “Imaginação Moral do Séc. XX ” (Russel Kirk) – à suivre…
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Fonte: ELIOT, T.S. (1888-1965). “Poesia”; trad. introd. e notas de JUNQUEIRA, Ivan. – Rio de Janeiro, Nova Fronteira Edit., 1981, p.17 e ss.
Ivan Junqueira (1934-2014), poeta e crítico literário, produziu o que talvez seja o ensaio em língua portugues de maior interesse para os leitores e estudiosos da obra de Thomas Stearns Eliot (ou simplesmente T.S.Eliot) – Missouri, EUA – 1888 / Londres, UK, 1965.
A Era de T.S. Eliot
A Imaginação Moral do Século XX
Autor: Russel Kirk
Notas para a Definição de Cultura
Autor: T. S. Eliot
Editora: http://www.erealizacoes.com.br
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Sim, Sim Raysnne. Um belo livro…
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