VIII – Farsante (I)
“Assim é que eu deveria ter escrito, dizia consigo.
Meus últimos livros são demasiado secos,
teria sido preciso passar várias camadas de tinta,
tornar a minha frase preciosa em si mesma,
como este panozinho de muro” – Marcel Proust.
Tempo não há de refazê-lo
a este livro duro e insone
a este pão, insosso, ei-lo!
Ainda pão, sem forma ou forma
própria, alimenta ao que tem fome
de poesia ou beleza, que importa!
Além da forma pronta de um nome,
deseja o moto próprio, chave da porta
à saída do inferno onde se encontra.
Também o bardo a chave busca
sozinho à deriva; afogado em ar.
E na enésima camada de tinta fresca
sofre com a secura do que dissera –
coxo solto em perdido paraíso
cego vagando o Éden imaginado
Seus brancos ossos, a Fera fixa:
– tempo não há de dizê-lo, Hélas!
Mas insiste, desafinado farsante –
pé-quebrado do verso, as falhas
o ferem de morte no instante.
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