Caros amigos do blog:T.S. ELIOT é o tema do tijolaço do Russel Kirk, intitulado “A Era de T.S. Eliot: a Imaginação Moral do séc. XX – da É Editora, SP, 2011, 655 páginas).
Entre uma e outra parte dos posts que pretendo dedicar à Escola de Frankfurt, permitam-me algumas anotações sobre ELIOT.
A primeira diz respeito ao capítulo 2, seção “O Exílio”.
Na primavera de 1914, Eliot partiu para descobrir “a diversidade européia”, que Kirk atribui ter-lhe sido comunicada por Santayanna, isto é, a partir da “limitação da Inglaterra”.
Eliot havia feito uma pós-graduação em Harvard (veja cronologia na obs. #1), onde fora aluno de Bertrand Russel, Irving Babbit e George Santayana – estes dois últimos os que mais o influenciaram, diz Kirk.
Depois, passara uma temporada em Paris e deixando para trás uma tese em andamento – só finalizada anos depois, de um doutorado do qual o poeta jamais sequer foi buscar o título…
”E assim, Eliot se dirigiu à bela e antiga Marburg, na primavera de 1914. Então, sem perceber o Velho Mundo o solicitava.” (pág. 172).
A estada em Marburg não permite a Eliot sequer desfazer a mala que o amigo Aiken lhe despachara, porque os acontecimentos de Saraievo colocaram os norte-americanos, às pressas, para fora do continente – diz Russell Kirk.
Na seção “O Exílio”, Russell Kirk mostra as dificuldades por que passou o poeta. Se, como queria Aiken, o incidente da partida de Marburg para a Inglaterra “provaria ser decisivo” é na Inglaterra que Eliot vai comer a “comida detestável dos britânicos” e respirar uma atmosfera de dificuldades financeiras (e diria até emocionais); porém, é na Inglaterra que “permaneceria a explorar e consolidar o novo terreno cultural, iniciando o laborioso trabalho de demarcar aquilo que lá seria o seu domínio” (Aiken, apud R. Kirk, pág. 173, citando carta da mãe do poeta – Charlotte C. Eliot a Bertrand Russell).
Em outubro de 1914, Eliot encontra-se por acaso com Bertrand Russel, que regressava de Harvard. O filósofo ex-professor – considerado por R. Kirk como “filósofo matemático iconoclasta” adota o poeta “solitário jovem norte-americano”, e diria: “duro”. Eliot vai morar,com a sua jovem esposa (Vivienne Haigh-Wood) de favor num quarto da casa de Bertrand Russel.
Os anos de dificuldade financeira levaram o poeta – que não desejava carreira acadêmica como professor universitário. E, ao contrário, foi professor assistente em escolas secundárias – como a Highgate Junior School – “um lugar adverso”, segundo um ex-aluno de Eliot; além de ministrar cursos de literatura para Adultos no Conselho do Condado de Londres.
R. Kirk assinala que o “professor-poeta ensinou francês, latim, matemática elementar, desenho, natação, geografia, história e besebol…”. Depois, ELIOT vai trabalhar no Lloyd’s Bank, no centro financeiro de Londres, onde passou a residir, tornou-se súdito britânico, tendo voltado raramente aos EUA, sendo a primeira vez 17 anos depois de ter deixado a pós-graduação em Harvard.
“…O intelectual norte-americano, hoje, quase não tem oportunidade de se desenvolver em seu país (…) deve ser um exilado”, disse T.S. Eliot em 1920. E mais: “era melhor ser um expatriado em Londres” – mesmo com a sua “detestável comida” – do que em Nova York, “a pior forma de exílio da vida norte-americana”, declarou Eliot (pág. 175).Sobre a sua experiência como professor, ELIOT deixou frase lapidar que transcrevo em slide, justamente agora que a presidente da República “ameaça” aumentar salários dos professores, mas aguarda o melhor momento deste ano eleitoral…
© Eliot em “To Criticize the Critic”, 1965, pág. 101 – via Google Books.Trecho da citação acima, na tradução de Márcia Xavier de Brito:
“Sei com base na experiência que trabalhar em um banco das 9h15 às 17h30, e um sábado inteiro a cada quatro semanas, com duas semanas de férias ao longo do ano, era um descanso reparador se comparado a dar aulas em uma escola.”
(#1) A cronologia dos anos dos estudos formais do poeta Eliot é a seguinte: 1906-1909 – Faz o “College” (faculdade) de Harvard, onde obtém o título de Bacharel;
1909-1910 (outonos) – Pós-Graduação em Harvard, onde obtém o grau de Mestre;
out/1910-jul/1911 – Estuda Literatura Francesa e Filosofia na Sorbonne em Paris;
Verão de 1911 – Munique (?)
1911-1913 – Harvard Graduate School – Estudos e Filosofias Hinduístas;
1913-1914 – Professor-Assistente de Filosofia em Harvard.
1914 – bolsista para Universidade em Marburg, Alemanha
(verão 14). “O Exílio” é seção do livro que se ocupa do tempo Eliotiano na Inglaterra.
(*) “Embora tivesse completado a dissertação sobre Francis Herbert Bradley em 1916, Eliot nunca requereu o título de doutor por Harvard nem buscou uma colocação profissional na Universidade” (Nota #36, pág. 168).
OBS.: A frase destacada na tradução de Márcia X. de Brito é o melhor trecho da citação de R. Kirk, mas há uma antecedente no slide que montei acima (pág.101 da obra citada), que é genial também, confira – tradução minha, portanto, sujeita a erros (aceito correções, s.v.p.):
(…) antes de preocuparmos em (contratar e) treinar mais professores, prefiro perguntar se estamos remunerando-os adequadamente. Eu nunca trabalhei numa mina de carvão, ou de urânio, nem como pescador de arenque, mas eu sei por experiência própria que, trabalhando num banco…” etc.
Amigos: se você consultou o slide com a transcrição do trecho do ELIOT, antes da frase traduzida por Márcia X.de Brito, há um texto anterior que dá mais sentido à frase traduzida e colocada em destaque. Assumo que posso ter traduzido errado, mas vá lá (correções são bem-vindas!):
“(…) antes de treinarmos mais professores, devemos avaliar se estamos pagando adequadamente os professores que temos. Nunca trabalhei numa mina de carvão, ou de urânio, ou na pesca do arenque, mas eu sei por experiência própria que… trabalhar em um banco das 9h15 às 17h30, e um sábado inteiro a cada quatro semanas, com duas semanas de férias ao longo do ano, era um descanso reparador se comparado a dar aulas em uma escola.”
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