Mes chers amis,
Numa semana em que passei frequentando médicos e clínicas, fazendo exames e sendo paciente em cada espera de hospital, pensei em minha poeta predileta por muitas vezes.
“Pain has an element in blank” declara Emily em poema já transcrito aqui. E se dor de amor ou dor real, não importa, minha tradutora predileta informa que o sintagma “blank” só veio a ser traduzido por “em branco” por tropeço e explica: “porque blank é espaço vazio, lacuna, frequentemente espaço não impresso ou escrito. Mentalmente, é um apagamento, um lapso subjetivamente sofrido. Referindo-se a atitudes e reações pessoais, significa também ´sem expressão`, sem sinal de receptividade, de compreensão ou interesse.”
Pronto, eis-me definido nessa semana de corredores e cama de hospital e vai-e-vem de clínicas. Embora, eu próprio penso que dona Aíla tenha até razão se levarmos em conta a gíria “me deu um branco…” por causa da dor. No meu caso, esta era bem real e incomodava. Fui a médicos, pacientemente. Neste fim-de-semana, além da enorme solidariedade de amigos, repouso em casa, com um diagnóstico da dor e um tratamento longo pela frente.
Abandono minhas queixas e penas e vos deixo com Emily falando de Amor, de forma sempre admirável. Um bom fin-de-semaine a todos! (AQ).
Post-Post: No domingo, dia 20.08.11, quando recebi a edição 2231, me deparei com a matéria de capa sobre “Dor, a aflição crônica de 40 milhões de brasileiros…” (dor física, não de amor, que essa se conta em outros tantos milhões). E, para minha agradável surpresa, a jornalista Giuliana Bergamo abre a longa reportagem justamente com Emily Dickinson, especialista em rimar Amor e Dor e, de quebra cita João Cabral de Mello Neto, nosso poeta especialista em dor real. Fico feliz que novos repórteres citem poetas (e filósofos, como o maluquinho do Friedrich N.) em seus artigos.
A quem interessar possa, a matéria citada esta nessa edição nr. 2231, de 24.AGO.2011, pág. 92-98.
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(*) Fonte: “Emily Dickinson uma Centena de Poemas”. Tradução, introdução e notas de Aíla de Oliveira Gomes. T.A.Queiroz/USP. S.Paulo, 1984, pág. 120/21. A observação sobre a tradução de “Pain” está no livro de dona Aíla (op.cit), pág.197. Para ouvir este e outros poemas de Emily D., clique neste link LibriVox.