Nelson Ascher tradutor de Emily Dickinson

O Estado-da-Arte de “O Estado de São Paulo” Nelson-Ascherpublicou hoje alguns poemas de Emily Dickinson traduzidos por Nelson Ascher.

Ascher já nos havia brindado com as traduções de poetas húngaros. É uma coisa sofisticada e quase impossível para 90.1% de nós brasileiros, presos à “última flor do Lácio”, incapazes quase de nos aventurarmos por outros idiomas.

Da Húngria, já se sabe, veio o mestre dos tradutores brasileiros — o sr. Paulo Rónai. A ele devemos o melhor dicionário Francês-Português-Francês do século XX; a ele devem todos (ou pelo menos 99.9%) dos tradutores brasileiros.

Ele bate em “A tradução vivida” naquela ideia que virou “um surrado trocadilho italiano traduttori-traditori” que “deixou a pecha da infidelidade aos cultores do ofício; prefiro “o chiste, de atribuição incerta [seg. Rónai] de que “as traduções são como as mulheres: quando fiéis, não são bonitas; e quando bonitas, não são fieis.”

Que os meus seis leitores julguem (e se deliciem) com as novas traduções de ASCHER para a poetisa que todos amamos aqui em “Leveza & Esperança” -— Emily Dickinson.
Clique na imagem abaixo para acessar os poemas traduzidos. Boa leitura!

Emily by Nelson Ascher

O mais traduzido dos poemas de Emily talvez seja esse (1212) – abaixo a tradução de Nelson Ascher e a minha predileta no link (Aíla de Oliveira Gomes), já internalizada há anos em memória poética…

Emily Dickinson_A word is deadPOEMA 1212

Palavra expressa,
dizem que cessa
depressa.

Eu, discordando,
digo que é quando
começa.

Original de Emily Dickinson.

A word is dead
when it is said,
some say.
I say it just
begins to live
that day.

+++++
Livro citado: RÓNAI, Paulo, 1907-1992. A tradução vivida – 4a. ed., Rio de Janeiro, José Olympio, 2012, p. 29.

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Meus posts mais lidos em 2016

Leitores amigos de Leveza & Esperança:

Olá! As veredas da leitura e da reflexão. É o que posso dizer sobre meu persistente trabalho aqui no blog. Um exercício pessoal que vai ganhando adeptos, sem nunca ceder à mesmice e ao mainstream editorial – estou mais interessado naqueles “talvez uns dois em mil” leitores de que nos fala o poema de  Wislawa SZYMBORSKA
(1923-2012).

Alguns gostam de poesia

Alguns –

ou seja nem todos.

Nem mesmo a maioria de todos, mas a minoria.
Sem contar a escola onde é obrigatório
e os próprios poetas
seriam talvez uns dois em mil.

Sim, dois em mil. Não milhões, tampouco half a million –  como parece imperar nos sites e portais atuais aqui você e eu (dois em mil) podemos nos deleitar com temas que não passam na web massiva; notadamente temas como Literatura e Fé, catolicismo, poesia e crítica literária. Essas reflexões sobre leituras ganharam este ano uma nova série de posts, intitulada “Queres ler o quê?” 

Eis-nos diante de mais um ano que chega, com aquela tendência natural ao ser humano racional e minimamente organizado: fazer um balanço do ano que se vai…

Nas estatísticas de 2016, eis os 5 posts mais lidos:

  1. Queres ler o quê (IV).

    BALZAC

    Se disser sim a Honoré de Balzac, terá o leitor uma miríade de informações a seu dispor – entre romances, originais e em tradução ao português, bem como uma das mais ricas fortunas críticas. Siga lendo…

  2. A Prece, Emily Dickinson.

    PRAYER is ……
    Pintura_Sassoferrato-The-Virgin-in-Prayer MilleChristi

    Prayer is the little implement…continue lendo!

  3. José J. Veiga – a ilha dos gatos pingados.

    Um conto excepcional, lido por mim… confira neste link.

  4. Especial Georges Bernanos

    DAQUI, você pode ir direto aos posts dedicados a Georges Bernanos, o mais brasileiro dos autores franceses. Confira no link.

    Capas Novos Livros Bernanos
  5. Livros – a lista 2015.

    Confira no link.

  6. Observação final.

    Espero que você, leitor especial do blog – dois deles especialíssimos (Eliana Pessoa e Nelson L. Castro) que sempre vêem, lêem e nem sempre comentam – tenha um bom 2017.

    Que a leitura seja sua, minha, nossa companheira, nosso alimento e nossa reserva de isolamento do mundo que se encontra em atoleiros cultural e moral inaceitáveis.
    Dois dos novíssimos escritores apreciados numa nova série de posts também tiveram enorme repercussão aqui e no Facebook. Autores do século XXI – uma fortuna crítica para os que (ainda) não são escritores famosos!
    6.1 – Karleno Bocarro – que apreciei neste post (ver link).
    karleno-bocarro_perfil
    6.2 – Rodrigo Duarte Garcia – neste aqui.
    O artigo completo está nos arquivos de Opção Cultural.
    os-invernos-da-ilha
    Em 2017, espero continuar trazendo até, você leitor, minhas avaliações de leituras, reflexões poéticas e culturais sobre o que vai publicando, aquilo que considero o melhor, sem influências outras que as dos irmãos de Fé e da tradição Católica. Espero continuar respondendo à pergunta:  “Queres ler o quê?
    Au revoir. Merci!
    Ω.Ω.Ω.Ω.Ω

Emily Dickinson, P. Henriques Britto e o leitor

Um poema de Emily Dickinson e duas traduções de Paulo Henriques Britto (2)

NO POST anterior, trouxemos o original do poema #185 (da coletânea de poemas de Emily Dickinson, por Johnson*) e duas traduções de Paulo Henriques Britto.

Nosso desafio ao leitor era o de escolher entre “A” e “B”.

O tradutor o fez. Saiba como, lendo antes o processo que levou Britto às duas versões citadas. As anotações estão no livro “A tradução literária”, da editora Civilização Brasileira, 1ª. ed., 2012.

Inicialmente, Britto constata que “no campo da tradução, poucos temas têm sido tão discutidos, e têm levado à adoção de posturas tão radicalmente opostas, quanto a tradução de poesia”. E por quê?
Embora o interesse teórico seja “inversamente  proporcional ao volume de traduções de poesia efetivamente publicadas”, Britto alinha algumas verdades sobre o contexto brasileiro:

i. “Num extremo, temos aqueles que defendem a absoluta impossibilidade de se traduzir poesia; no extremo oposto, temos os que afirmam que se pode traduzir poesia tal como qualquer outro tipo de texto.”
ii. Nas posições intermediárias, Britto localiza os que defendem: a)“em tese, é possível traduzir poesia, mas na prática todas as traduções poéticas são falhas; b) a poesia não pode (e não deve) ser propriamente traduzida, mas sim recriada, ou imitada, ou parafraseada, ou transpoetizada; c) é possível traduzir poesia, mas é impossível julgar a qualidade da tradução: tudo que se pode dizer a respeito da tradução de um um poema é “eu gosto” ou “eu não gosto”. O Autor assume – antes de explicar (ou apresentar) algumas dessas posições, a dele:

A meu ver, um poema é um texto literário que pode ser traduzido como qualquer outro texto literário. A diferença é que, quando se trata de um poema, em princípio toda e qualquer característica do texto – o significado das palavras, a divisão em versos, o agrupamento de versos em estrofes, o número de sílabas por verso, a distribuição de acentos em cada verso, as vogais, as consoantes, as rimas, as aliterações, a aparência visual das palavras no papel etc. – pode ser de importância crucial. Ou seja: no poema, tudo, em princípio, pode ser significativo; cabe ao tradutor determinar, para cada poema, quais são os elementos mais relevantes, que portanto devem necessariamente ser recriados na tradução, e quais são menos importantes e podem ser sacrificados – pois, como já vimos, todo ato de tradução implica perdas. Quanto a esse aspecto, a diferença entre poesia e prosa literária é apenas de grau.”

Por ser “o aspecto formal” o que caracteriza a poesia acima de tudo, assinala Britto, “os jogos de palavras, trocadilhos, duplos sentidos e demais efeitos semânticos são recursos que também ocorrem na prosa, embora sejam mais frequentes na poesia” – eis, pois, “o que há de mais específico na Poesia” –  esse aspecto formal tão fundamental provê ao leitor (e desafia o tradutor) no que um teórico (Meschonnic) traduziu numa palavra: “ritmo”. É à procura dessa essência que Paulo Henriques Britto propõe um exercício com um poema curto de Emily Dickinson – o de #185 da coletânea de Th. H. Johnson* (Dickinson: The Complete Poems, p.87).

PHBritto+EmilyPoema

Pois bem, as considerações do tradutor são muito relevantes e nos ensinam – mesmo não tendo nenhum interesse em tornar-nos tradutores – como ler mais apurada e acuradamente uma tradução. O mal-estar de ler uma tradução e não se conformar com o que apreendemos do original, às vezes são frequentes em tradutores da própria Emily Dickinson (tal foi a sensação que meu causou a maioria das traduções do Sr. José Lira e as liberdades tomadas com os poemas de ED em “Alguns Poemas”, edit. Iluminuras, para ficar em um único exemplo).

As considerações citadas estão nas páginas de 135-146 – que trarei, em breve, em outro post, no modo ‘escaneado’ por absoluta preguiça de as transcrever.

Eu vos asseguro, leitores! Vale a pena lê-las.

De tudo pesado e bem lido, fico com o Autor (Sr. Britto) com a tradução “B”, onde

Original – poem 185* Trad. “A”
“Faith” is a fine invention Quando se pode enxergar
When Gentlemen can see A “Fé” tem conveniência;
But Microscopes are prudent Mas Microscópios convêm
In an Emergency. Em caso de Emergência.

 

A versão “B”, por Paulo Henriques Britto:

Trad. “B”
A “Fé” é um ótimo invento
Quando se enxerga a contento;
Mas numa Emergência, não:
Tenha um Microscópio à mão.

Assista a um vídeo sobre a Poesia sintética de Emily Dickinson, com P.H.Britto, na ABL.

Sobre P.H. Britto – fonte: website da ABL: Paulo Henriques Britto nasceu no Rio de Janeiro em 1951. É tradutor e professor de tradução, literatura e criação literária da PUC-Rio. Publicou seis livros de poesia: Liturgia da matéria (1982); Mínima lírica (1989); Trovar claro(1997, Prêmio Alphonsus de Guimaraens); Macau (2003, Prêmio Portugal Telecom de Literatura Brasileira e Prêmio Alceu Amoroso Lima); Tarde (2007, Prêmio Alphonsus de Guimaraens); e Formas do nada (2012, 8º Prêmio Bravo! Bradesco Prime de Literatura, Melhor Livro).

Publicou ainda um livro de contos, Paraísos artificiais (2004, segundo lugar, Prêmio Jabuti); e três de ensaios: Eu quero é botar meu bloco na rua, de Sérgio Sampaio (2009); Claudia Roquette-Pinto (2010); e A tradução literária(Prêmio Literário Fundação Biblioteca Nacional 2013, categoria Ensaio Literário).

Traduziu cerca de 110 livros, entre os de português e os inglês. Sua tradução de A mecânica das águas, de E. L. Doctorow (1995) ganhou o Prêmio Paulo Rónai de tradução. Organizou e traduziu antologias poéticas de Wallace Stevens e Elizabeth Bishop, e traduziu também livros de poesia de Byron, Allen Ginsberg e Ted Hughes. Entre as traduções de ficção mais importantes dos últimos anos destacam-se Contra o dia, de Thomas Pynchon, e Grandes esperanças, de Charles Dickens, ambos de 2012.

Veja esse vídeo da TvSenado com o Paulo Henriques Britto.

Obs.: por último, mas não menos importante: sou um dickinsoniano desde a minha 1a. viagem aos States, há umas décadas atrás. Depois que descobri o volume de traduções e comentários de dona Aíla de Oliveira Gomes (E.Dickinson: Uma centena de poemas, da T.A. Queiroz editora) nunca mais deixei de lê-la com regularidade quase religiosa. E postar poemas escritos e falados.

+++++

Fontes: BRITTO, Paulo Henriques. “A tradução literária”, Civilização Brasilieira, Rio de Janeiro, 2012, 157 pág.
(*) O poema citado é o de n◦. 185 cf. a edição de Thomas H. Johnson (Emily Dickinson: The Complete poems, p.184 – edição digital).

Emily Dickinson: beleza imortal

AO LEITOR submeto meu artigo em Opção Cultural. Clique para ler o artigo completo.
Artigo Beto_EmilyDickinsonOpcaoJan16

Emily, a intraduzível ?

PAULO RÓNAI, o luminar dos tradutores no Brasil, já dissera sobre o trabalho de uma tradutora excepcional (Aíla de Oliveira Gomes) que Emily é intraduzível.

Intraduzível por intraduzível, cabe a quem deseja decifrar a solitária de Amherst entender primeiro antes de ousar qualquer passo no caminho da traição. Desviar-se da senda do tradutor-traidor parece possível, embora alguns insistam em usar uma ferramenta automática de tradução e, apegados à fôrma ou talvez hipnotizados pela forma, traduzam algo inapreensível pelo leitor não bilíngue.

Foi pensando nisso que provoquei o bom tradutor não automático, sr. Wagner Schadeck para um exercício de tradução do poema “There is another sky” de nossa amada Emily. O esquema de rimas é ABC-BCD-EC-FCG-HIH no original. A provocação rendeu-me uma aula de tradução.

Fez-me pensar na frase sempre presente quando diante de um texto de poesia em outro idioma: “A tradução não é possível se não for reinventada.” Bia Ortiz. Do meu ponto de vista não se pode “reinventar” traindo – só isso. Ou como dizem os jovens deste século: “simples assim…”
Seguem o original e a tradução.
EmilyTraduzida por W Schadeck

Meu nome está aposto ali na assinatura por pura generosidade do talentoso confrade Wagner Schadeck. 11950202_1191954234152199_7417800796659732030_oemilydickinsonphoto1.jpg
O meu papel foi só o de “provocador” como admirador (verdadeiro fã) de Emily Dickinson.
Minha tradutora favorita para o português – como sabem os que acompanham meu blog – é a dona Aíla de Oliveira Gomes. A gênese desta tradução foi a insatisfação com uma tradução enviesada que li na web há alguns dias.
O Wagner atendeu o convite com presteza e trabalhou na tradução durante todo o último dia Existem duas opções: heptassílabos, versos tão tradicionais em nossa língua quanto o usado por ela; hexassílabos, menos comuns, mas mais precisos para reproduzir o efeito.
Em inglês, dá pra desprezar as vogais e rimar consoantes, coisa que não funciona em português. É basicamente o esquema de rimas usado por ela. Daria para usar rimas toantes, mais livres em nossa língua além de apresentarem o efeito de simplicidade do original.
Mas dadas as dificuldade talvez seja mais profícuo algum recriação, usando esses elementos.
Permita-me, confrade, um humilde esboço nesse sentido – foi assim que tudo começou.

“Invejem-me: tive as primícias deste trabalho. D. Aíla de Oliveira Gomes fez-me a honra de pedir a minha opinião.
Ei-la, em poucas palavras. Trata-se de empreendimento excepcional, corado de pleno êxito, tanto no campo da tradução poética quanto no da interpretação literária.”
“Emily Dickinson: Uma Centena de Poemas”, Edit. T.A.Queiroz/USP, S.Paulo, 1984. Tradução, introdução e notas de Aíla de Oliveira Gomes.

A PRECE, Emily Dickinson

PRAYER is ……
Pintura_Sassoferrato-The-Virgin-in-Prayer MilleChristi

Prayer is the little implement
Through which Men reach
Where Presence – is denied them.
They fling their Speech

By means of it – in God’s Ear –
If then He hear –
This sums the Apparatus
Comprised in Prayer –
*

A prece é o minúsculo petrecho
Com que o homem alcança
Onde sua presença é proibida.
Sua palavra arremessa.

Por esse meio, aos ouvidos de Deus;
Se por Ele é ouvida –
Isto então totaliza a aparelhagem
Compreendida na prece.
*****
Trad. dona Aíla de Oliveira Gomes.
Emily Dickinson: Uma centena de Poemas
Ed. TA Queiroz/USP, 1984, p.76/77.

Poesia falada especial Emily Dickinson

image 
Basta clicar na figura para ir ao LibriVox e achar poemas de Emily lidos por voluntários do projeto LibriVox.

Emily Dickinson, a natureza e suas cores…

Galeria

Esta galeria contém 2 imagens.

Emily Dickinson A Natureza raro usa o amarelo,Antes prefere outros tons;Reserva-o todo para o pôr-do-sol;Azul, gasta aos borbotões. Como a mulher abusa do carmim, Mas o amarelo – esta cor Com parcimônia a seleciona, – assim Como palavras de Amor. … Continuar lendo

Emily Dickinson (“uma centena de poemas”)

QUÃO SABOROSAS SÃO AS MANHÃS DE SÁBADO… Tanto mais quando as completamos com poesia.

ABRO “Uma Centena de Poemas”(*) ao acaso, como quem abrisse um breviário. E me vem este presente:

Trad., introd. e notas de Aíla de Oliveira Gomes

Trad., introd. e notas de Aíla de Oliveira Gomes

Dizem, ‘com o tempo se esquece’,
Mas isto não é verdade,
Que a dor real endurece,
Como os músculos, com a idade.

O tempo é o teste da dor,
Mas não é o seu remédio –
Prove-o e, se provado for,
É que não houve moléstia.
(686)
School

E virando a página:

“Um pensamento me veio hoje à mente
Que já antes me ocorreu.
Não o concluí; foi tempo atrás; que ano
Não lembro corretamente;

Nem para onde foi, nem porque veio
A mim por segunda vez;
Nem, em definitivo, o que ele era
Tenho a arte de dizer.

Mas – em algum canto – em minha alma – eu sei
Que já encontrei Coisa assim –
Foi só um relembrar – foi tão somente –
E já não mais veio a mim.
(701)

 

+++++
Fonte: DICKINSON, Emily. “Uma Centena de Poemas”. Trad., introd. e notas por Aíla de Oliveira Gomes. T.A. Queiroz/USP, S.Paulo, 1984, p. 100/103.

Ver também os poemas no original:
606
They say that “Time assuages” –
Time never did assuage –
An actual suffering strengthens
As Sinews do, with age –

Time is a Test of Trouble –
But not a Remedy –
If such it prove, it prove too
There was no Malady –


701
A Thought went up my mind today –
That I have had before –
But did not finish – some way back –
I could not fix the Year –

Nor where it went – nor why it came
The second time to me –
Nor definitely, what it was –
Have I the Art to say –

But somewhere – in my Soul – I know –
I’ve met the thing before –
It just reminded me – ‘twas all –
And came my way no more –
© Emily Dickinson, trad. AÍLA DE OLIVEIRA GOMES.

Emily Dickinson (“uma centena de poemas”)

QUÃO SABOROSAS SÃO AS MANHÃS DE SÁBADO… Tanto mais quando as completamos com poesia.

ABRO “Uma Centena de Poemas”(*) ao acaso, como quem abrisse um breviário. E me vem este presente:

Trad., introd. e notas de Aíla de Oliveira Gomes

Trad., introd. e notas de Aíla de Oliveira Gomes

Dizem, ‘com o tempo se esquece’,
Mas isto não é verdade,
Que a dor real endurece,
Como os músculos, com a idade.

O tempo é o teste da dor,
Mas não é o seu remédio –
Prove-o e, se provado for,
É que não houve moléstia.
(686)
School

E virando a página:

“Um pensamento me veio hoje à mente
Que já antes me ocorreu.
Não o concluí; foi tempo atrás; que ano
Não lembro corretamente;

Nem para onde foi, nem porque veio
A mim por segunda vez;
Nem, em definitivo, o que ele era
Tenho a arte de dizer.

Mas – em algum canto – em minha alma – eu sei
Que já encontrei Coisa assim –
Foi só um relembrar – foi tão somente –
E já não mais veio a mim.
(701)

 

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Fonte: DICKINSON, Emily. “Uma Centena de Poemas”. Trad., introd. e notas por Aíla de Oliveira Gomes. T.A. Queiroz/USP, S.Paulo, 1984, p. 100/103.

Ver também os poemas no original:
606
They say that “Time assuages” –
Time never did assuage –
An actual suffering strengthens
As Sinews do, with age –

Time is a Test of Trouble –
But not a Remedy –
If such it prove, it prove too
There was no Malady –


701
A Thought went up my mind today –
That I have had before –
But did not finish – some way back –
I could not fix the Year –

Nor where it went – nor why it came
The second time to me –
Nor definitely, what it was –
Have I the Art to say –

But somewhere – in my Soul – I know –
I’ve met the thing before –
It just reminded me – ‘twas all –
And came my way no more –
© Emily Dickinson, trad. AÍLA DE OLIVEIRA GOMES.