Emily, a intraduzível ?


PAULO RÓNAI, o luminar dos tradutores no Brasil, já dissera sobre o trabalho de uma tradutora excepcional (Aíla de Oliveira Gomes) que Emily é intraduzível.

Intraduzível por intraduzível, cabe a quem deseja decifrar a solitária de Amherst entender primeiro antes de ousar qualquer passo no caminho da traição. Desviar-se da senda do tradutor-traidor parece possível, embora alguns insistam em usar uma ferramenta automática de tradução e, apegados à fôrma ou talvez hipnotizados pela forma, traduzam algo inapreensível pelo leitor não bilíngue.

Foi pensando nisso que provoquei o bom tradutor não automático, sr. Wagner Schadeck para um exercício de tradução do poema “There is another sky” de nossa amada Emily. O esquema de rimas é ABC-BCD-EC-FCG-HIH no original. A provocação rendeu-me uma aula de tradução.

Fez-me pensar na frase sempre presente quando diante de um texto de poesia em outro idioma: “A tradução não é possível se não for reinventada.” Bia Ortiz. Do meu ponto de vista não se pode “reinventar” traindo – só isso. Ou como dizem os jovens deste século: “simples assim…”
Seguem o original e a tradução.
EmilyTraduzida por W Schadeck

Meu nome está aposto ali na assinatura por pura generosidade do talentoso confrade Wagner Schadeck. 11950202_1191954234152199_7417800796659732030_oemilydickinsonphoto1.jpg
O meu papel foi só o de “provocador” como admirador (verdadeiro fã) de Emily Dickinson.
Minha tradutora favorita para o português – como sabem os que acompanham meu blog – é a dona Aíla de Oliveira Gomes. A gênese desta tradução foi a insatisfação com uma tradução enviesada que li na web há alguns dias.
O Wagner atendeu o convite com presteza e trabalhou na tradução durante todo o último dia Existem duas opções: heptassílabos, versos tão tradicionais em nossa língua quanto o usado por ela; hexassílabos, menos comuns, mas mais precisos para reproduzir o efeito.
Em inglês, dá pra desprezar as vogais e rimar consoantes, coisa que não funciona em português. É basicamente o esquema de rimas usado por ela. Daria para usar rimas toantes, mais livres em nossa língua além de apresentarem o efeito de simplicidade do original.
Mas dadas as dificuldade talvez seja mais profícuo algum recriação, usando esses elementos.
Permita-me, confrade, um humilde esboço nesse sentido – foi assim que tudo começou.

“Invejem-me: tive as primícias deste trabalho. D. Aíla de Oliveira Gomes fez-me a honra de pedir a minha opinião.
Ei-la, em poucas palavras. Trata-se de empreendimento excepcional, corado de pleno êxito, tanto no campo da tradução poética quanto no da interpretação literária.”
“Emily Dickinson: Uma Centena de Poemas”, Edit. T.A.Queiroz/USP, S.Paulo, 1984. Tradução, introdução e notas de Aíla de Oliveira Gomes.

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