Poemas inéditos, 2020 (1)


Isaías fala

Vida minha vida de tecelão,
que vai tecendo malha simples
tal qual a de todo cidadão –
era trama antes de lhe cortarem
de uma vez sua essência de trama,
agora não há tear ou urdidura,
não há pente que permita levantar
ou abaixar a vista do que tecendo estava,
não há passagem tecida; não há nada –
só a parede que recebe o pranto;
e o choro sobe ao alto: até o rei de Judá chorou.

Que agulha, qual navete a mim deixada,
antes que o relógio de Acaz seja atrasado
e produza a sombra: os quinze anos a mais
que lhe são dados de sonho antes do Sono?
Urdidura de tudo é tensa; não resolve a parada.
Sentindo o coração doente de desejo,
de morte tenho a alma adoentada.

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