Poesia Falada*
palavra à noite cantada
co´a manhã se desfaz
em palavra granulada:
matinal achocolatado
já não sente a poesia
tal qual ressoara clara
na madrugada alta
– Et pourtant, fala!
Será a escrita fogo fátuo?
marca gravada em gado,
ou cardo na sua pata?
(O poeta-boi rumina,
mas não é vaca sagrada).
Estrela cadente, cabala:
meros fogos de artifício
ruidosos melros da fala:
na calma manhã se calam
…
E de novo à noite
continua a caça
– Ah! Noite, tu
a guia do vate és,
virtualmente, baça.
Cães dão o alarma:
acordam a sentinela
ansiosos, ladram
nessa guarita alta
do posto de fronteira
entre escrita e fala
entre noite e dia
o poeta (aprisionado)
se cala.
****
Fonte: QUEIROZ, Adalberto. Cadernos de Sizenando: poemas e crônicas, Goiânia: Kelps, 2014. Disponível em Revolução eBook.