Seria um sonho ou estaria ainda o leitor apaixonado no estado de vigília?
– De fato, só tive noção do que pensava intensamente, quando levantei-me para tomar nota de situações que envolvem alguns escritores que passaram por minha vida de leitor mediano (mas sempre apaixonado), em que leituras e destinos “turísticos e culturais”. Esses lugares onde viveram, trabalharam (ou apenas reúnem suas memórias e acervo) se impõem a quem ama a literatura e se interessa pela vida dos escritores prediletos.
São 5 casas-museus, das quais 4 visitadas em emoções e tempos diversos. Uma que aguarda um tempo de retraite para a ela se dedicar.
Thomas Mann, François Mauriac, Rui Barbosa e Georges Bernanos se encontram neste post, como os personagens dos quadros de uma pinacoteca saltassem para se encontrar com séculos de diferença, apenas porque expostos no mesmo hall de um museu.
Primeiro, uma crônica de Carlos Drummond – que não sei se publicada em O Globo ou no JB (imagino, pois eram os 2 jornais de minha predileção no final dos anos ´70 e início dos ´80, onde também acompanhava com ritual atenção os comentários sempre imaginosos e divertidos de Nélson Rodrigues).
Pois bem, daquela folha contendo a exaltação de Rui Barbosa e da casa-museu que lhe dedicaram no bairro de Botafogo (RJ), nasceu a vontade de visitar a casa – o que só veio a ocorrer em 81, pois que um amigo juiz-de-forano, meu chefe à época, animou-me a conhecer, superando meu espírito caipira e interiorano e assustado de enfrentar o Rio de Janeiro.
Visitei a casa e fiquei com boas emoções da biblioteca, do espaço do museu criado em torno da figura do homem público que “volta glorioso aos jornais, vencidos os prazos do silêncio” com a comemoração da campanha civilista. Mas o Rui, que pouco conheci sem tê-lo visto, à exemplo do poeta que confessa “bem o conheci, sem tê-lo visto”, era o Rui dos manuais de retórica e pouco se nos interessava à época, não fôssemos candidatos ao curso de Direito. Eis uma casa-museu visitada pelo apelo do Poeta CDA e de onde trago apenas a lembrança de um agradável espaço à figura cívica do jurista.
Depois, vieram minhas viagens à Europa, onde minha mulher e eu procurávamos sempre incluir o alimento cultural às fatias gastronômicas tradicionais da cuisine française aux bières et au vin, para que o impacto da paisagem não nos causasse logo de início a síndrome de Stendhal. Em Zurich, visitamos “Das Thomas Mann Archiv”.
Era o tempo da minha paixão pelos escritos de Mann – “Os Buddenbrook”, a saga de “José do Egito” (formalmente, José e seus Irmãos) e, sobretudo pela “Montanha Mágica”, que me deixava à vontade por seus diálogos em francês, adequadamente mantidos na tradução para o português, feitas pelo inesquecível Herbet Caro (RS).
Embora a barreira da língua alemã se impusesse como uma montanha sobre a visita, uma esforçada atendente me proporcionou apreciar a casa-museu com um atendimento em um francês sofrível mas que denotava seu esforço em agradar um leitor brasileiro do mestre da casa-museu. Guardo até hoje a brochura (um caderninho) com que me presentearam na visita (veja foto).
Com Gilberto Freire, diria que a casa-museu (Solar) de Apipucos foi por mim esnobado em toda a temporada recifense que me proporcionou o trabalho em um banco, trabalhando bem próximo a Marcos Freire, no Recife. Só muito tempo depois, tendo compreendido o papel de Freire (o Gilberto)
para a compreensão do Brasil, com sua análise sempre atual, volto ao Recife a negócios e dedico uma tarde a visitar o solar, donde trouxe cartões-postais e uma certeza de que a casa merecia manutenção adequada e recursos, que provavelmente vão para fundações como a de Sarney (no Maranhão).
Com François Mauriac, a experiência da visita já foi reportada aqui. A alegria de
visitar Malagar foi (é) similar ao tamanho da melancolia que me invade pensando na contradição entre o destino desses dois escritores (católicos e franceses) e sobre a pobre residência de Georges Bernanos no Brasil, mas que bem cuidada com voluntarismo, sobrevive aos tempos, como um barroco pobre em uma Minas Gerais de (antigos e atuais imponentes) áureos recursos.
Ele, Bernanos que viveu e amou o Brasil, tem sua casinha-museu humilde (mas resistente) na sua amada “Cruz das Almas”,
como a testemunhar o que profetizara o exilado francês em Minas Gerais (ver trans
crição).
Beto, eu já disse que o seu estilo tem algo das crônicas lidas em jornais de papel?
Acho que seu texto no geral é pouco “internetês”. E isso é um elogio. Embora eu goste de muita coisa no mundo virtual, alguns vícios – como a superficialidade e o toque apressado da escrita – por vezes me incomodam.
Vários textos seus me passam esse ‘tempo fora do tempo’, esse ‘sem pressa’. Como este. Que quereria mais extenso. Mas saboroso assim mesmo.
Visito raramente o universo dos blogs, mas continuo achando que alguns bons cronistas estão nele.
um abraço e todo o meu carinho.
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Ma chère CLAIRE,
Muito Obrigado pela visita e pelo comentário que me anima a manter meu jeito (e a vontade) de continuar escrevendo aqui.
Eu próprio me pego interessado em desdobrar a palavra “destino”, tirando do meramente turístico-cultural para o Destino que tiveram esses meus queridos escritores.
Talvez o faça no futuro, Qui sais?
Fiquei feliz de saber que os livros, embora na gaveta, evoluem bem.
Bisous,
BetoQ.
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Eu tenho, tenho mesmo, que visitar a casa de Gilberto Freyre e de Bernanos, nem que seja uma desculpa para visitar o Recife e o apaixonante interior de Minas.
Forte abraço,
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Olá, IGOR T.
Obrigado pela visita e pelo comentário.
Ah, se eu fosse você (com a idade e a oportunidade à frente), me animaria a conhecer a Maison Mauriac aussi!
Mes Amitiés,
BetoQ.
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Amigo, elaborei um canhestro comentário ao post…
Espero que seja merecedor de seus comentários.
Com um amplo e fraterno amplexo; Pimenta.
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Meu caro Pimenta,
Não achei o comentário. Aguardo sua resposta para poder apreciá-lo.
Amitiés,
Beto
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Agora sim, Marcus, vi/li e gostei do comentário – nada canhestro!
Aos que se interessarem, sigam o link http://www.orkut.com.br/Main#Profile?uid=1697363092401317866
No Orkut do MMLPimenta, procure o Grupo Georges Bernanos.
Abraço fraterno do Beto.
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Meu amigo Beto,
É com muita alegria que venho lhe informar que estamos conseguindo recuperar cada dia mais a casa de Bernanos em Barbacena-MG. Os anexos se transformam cada dia mais num Centro Cultural sólido. Estou lutando p/ tornar legal o centro cultural que se chamará: Museu e Centro Cultural Georges Bernanos. Bernanos… O homem que amava e respeitava as crianças, hoje abriga em sua humilde casa mais de 200 crianças carentes. A cultura, a ética e o amor estão sendo plantados … Vale lembrar que o casarão está sendo preservado como museu e somente os anexos servem de centro cultural. Gostaria de lhe enviar fotos p/ que publique em seu blog…Um grande abraço.
Mírian Rossi/Diretora do Museu G Bernanos
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Ah, que bela notícia, Mírian.
Fico feliz em saber.
Fraternellement,
Beto.
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