Talvez até por conta da forte presença de Voegelin e seus experimentos de Anamnese tão presentes hoje, troco um poema de flor e pássaro e natureza – com o que desejava saudar a primavera -, por um poema de igual grandeza e remembrance da sempre eterna Emily, na tradução da sempre competente Aíla de Oliveira Gomes
You cannot make remembrance grow
When it has lost its Root ―
The tightening of the soil around
And setting it upright
Deceives perhaps the Universe
But not retrieves the Plant ―
Real Memory, like Cedar Feet
Is shod in Adamant ―
Nor can you cut Remembrance down
When it shall once have grown ―
Its Iron Buds will sprout anew
However everthrown ―
A lembrança, ninguém a faz crescer
Quando perdeu a raiz.
Apertar-se em volta a terra,
Mantê-la ereta, talvez
Possa enganar o universo,
Mas não recupera a planta.
A memória verdadeira
É como o cedro ― tem pés
Calçados em diamante.
Nem se pense que adiante
Cortá-la, se já arraigou:
Seus brotos de ferro irrompem
Novamente, se alguém a derrubou.
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Fonte: “Emily Dickinson: Uma Centena de Poemas”, Trad. Aíla de Oliveira Gomes, Ed. T.A. Queiroz/USP, SP, 1984, Pág. 140/41.
(Poema 1508) – Nota da Tradutora: A autora usa geralmente 3 acentos, nesse poema, e, quando necessário, 4. Na tradução adotou-se a medida de sete sílabas, excetuando-se apenas os decassílabos no primeiro e último versos. As rimas sáo ocasionais e, na maioria, imperfeitas, como no original. A memória é tema repetido numa fase mais tardia da obra de Emily Dickinson; pode, às vezes, ser buscada com afã (cf. poema 939), mas é mais frequentemente temida (cf. p.ex, P.1182 e 1342).
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