MIL PALAVRAS.
POEMA DE NELSON ASCHER.
p/ ny
Quanto mais eu, que vi
(digamos) tudo, vejo,
mais vejo que uma imagem
vale por mil palavras.
Quanto mais vejo ( e vi
de tudo), mais provável
parece que uma imagem
(digamos, um avião
rumo a um arranha-céu)
vale por mil palavras.
Por tudo o que já vi,
quanto mais vejo, menos
duvido que uma imagem
(digamos, outro avião
rumo a outro arranha-céu)
vale por mil palavras.
Quanto mais vejo, menos
tenho, pois uma imagem
vale por mil palavras,
a ver (digamos, quando
se cravam dois aviões,
duas facas de obsidiana,
em dois arranha-céus)
com tudo o que já vi.
Agora que vi tudo
(já que, de tudo aquilo
que acabei vendo, nada
mais há para se ver),
quanto mais vejo, menos
tenho a dizer, exceto
(digamos) que uma imagem
vale por mil palavras.
./.
Do livro “PARTE ALGUMA: Poesia (1997-2004)”, Nelson Ascher, S. Paulo : Cia. das Letras, 2005, p.36/7.