Salve, ANTONIO TABUCCHI (II)


Caro Antonio,
Estou agora com 6 de seus livros sobre a escrivaninha.
É uma manhã ensolarada em Goiânia, a TV está ligada n’outro cômodo (e ouço o barulho dos carros de corrida, motores que roncam forte).
Confesso, amigo, que prefiro os pássaros em nosso jardim; minha mulher divide a biblioteca comigo, rompendo o silêncio, de quando em quando, para comentar sobre les faits divers.

Quanto te conheci, não foi por referência de nenhum resenhista ou por artigo de jornal ou revista. Estava de férias num hotel numa estação de águas, quando te descobri na biblioteca. Queria te dizer também que a biblioteca leva o nome de um dos mais importantes escritores de nossa terra – que não é Goa, mas Goiás. Bernardo Elis é o nome. Bernardo, como você, também esculpiu na língua de Pessoa com maestria.

Você se esconde mais do que ele (note que já desisti do tu, para essa missiva) – e o efeito é que me sinto mais próximo assim.

Pensei um dia desses sobre uma frase do Noturno, aquele insone que talvez tu fostes em vida: “tudo pode acontecer na vida, até mesmo dormir no hotel Zuari”.
A India me “entusiasma” e sei que as lembranças de viagem serão sempre o que tu dissestes no Noturno Indiano:

“(…) na lembrança, como sempre nas lembranças … a realidade é sempre sempre menos má do que foi efetivamente”.

E sei disso porque os índios de minha terra (Goyaz) me ensinaram que a memória é uma falsária encantadora e tu dissestes: “a memória é uma formidável falsária”. Eu sei que o que lembramos é cheio da “sujeira” e da “beleza” de tudo que a “falsária” nos indica, indicou ou indicará.
Eu, dormindo num hotel de uma estação de águas quentes, onde te conheci. Eu admiro sua escrita, caro amigo, não importa onde estejas (espero que num lugar onde te reencontre!). Não é fácil pensar que a memória e a auto-biografia poderia ser d’Outro.

Antonio, é tão bom ler você na língua de Dante, como posso fazer agora, que achei resenhas de seus livros no site: Rai Libro

Caro amigo, seu diálogo com o Pai, não importando como se deu, se dá, é emocionante!(Star )
As coisas de biografias me remetem a outros livros seus que devo ler depois. Por ora, tenho estes livros e estou me divertindo muito com tudo (de vez em quando me “inculcando”, me preocupando, pensando em demasia), mas não se preocupe (eu sei que este é o papel da Literatura. Sei também que você (tu!?) não veio ao Brasil por uma causa justa. Sei também, Antonio, que você amou minha terra de origem: Portugal. Por tudo isso, e principalmente por sua literatura e sua vida, me considero seu Amigo.

Abraços do Beto.
+++++
Fontes:
imageTABUCCHI, Antonio. “Noturno Indiano”. Cosac Naify, 2012. Trad. Wander M. Miranda. (Star )Il silenzio, trecho do livro “Autobiografie Altrui”, Feltrinelli, 2003, p.18/21. Clique para aumentar e ler (no original italiano):
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