O crítico Franklin de Oliveira escreveu sobre a obra de Bruckner alguns comentários que são decisivos para quem quer conhecer ou já conhece (e ama) A. Bruckner.
O texto de Franklin é uma ode a 5a. Sinfonia. Em “A Fantasia Exata”, livro de 1959, ele afirma que Anton Bruckner era
“um homem solitário que só confiava sua alma ao órgão – era sua maneira de estar com Deus – é uma das maiores enseadas de concórdia humana” que o crítico dizia ter conhecido, isso pelo que chamou de “mystical conception of sound”. Em tudo que fez, escreveu, continua Franklin, “Deus é a grande presença. Talvez a respeito de Bruckner mais do que a respeito de qualquer outro compositor possamos falar das relações da música com a Teologia como duas esferas intimamente interligadas. ‘Músico de Deus’ era o seu epíteto e talvez fosse por isto que mais do que qualquer outro romântico, ele fundava sua sinfonia sobretudo no puro som. Dele disse Alfred Einstein: ‘a romantic in so far as he made pure sound the basis of his symphonies….”
De Anton Bruckner se pode mesmo afirmar – confirmando o mestre-crítico F.O. que “raros músicos foram tão sensíveis ao êxtase a que somos levados pela contemplação do som puro, pelas harmonias potenciais do acorde, quanto Bruckner e Mahler. A respeito deles podemos lembrar a tese wagneriana: ‘o acorde representa as forças cósmicas do Universo’. Daí, provavelmente Eistein achar que as sinfonias de Bruckner respiram um espírito cósmico. ‘His symphonies breathe once more a cosmic spirit… As de Mahler, também.” Mas este post é dedicado somente a Bruckner. Portanto, eis abaixo a segunda parte da Quinta de Bruckner.
Franklin fala ainda “das fontes da expressão musical de Bruckner” que teriam sido Beethoven, Schubert e Wagner – a influência schubertiana foi a que alimentou com maior riqueza as suas sinfonias. Do criador da música psicológica recebeu Bruckner uma herança maravilhosa – a herança do grande adágio beethoveniano. De Schubert, a amplitude das formas que se ligam em suas frases lentas e os seus ‘scherzi’ com a simplicidade com que o camponês cuida dos frutos, coisas da terra e do sol, e pois, do céu. Campônio, alma rude de camponês era a de Bruckner, nascido nas regiões montanhosas da Áustria Alta”, destaca Franklin. Portanto, para finalizar, a terceira parte da Quinta, que é de longe a mais elogiada no YouTube, finalizo prometendo voltar com a Quarta Sinfonia de A.Bruckner que, segundo Franklin de Oliveira, é “música dos anjos para os homens atormentados” (expressão cunhada por Mahler para definir a música mística das Missas e do Te-Deum de Bruckner, coisa que até um ateu ouve e por um momento é levado a acreditar em Deus).
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Fonte: OLIVEIRA, Franklin de. “A Fantasia Exata”, Zahar Editores, Rio de Janeiro, 1959, p. 68-70.
Republicou isso em Adalberto de Queiroze comentado:
Na falta de tempo para cumprir a promessa de lhes trazer mais Bruckner, comentado e sonorizado, fiquem com este velho post, de 20111. Bom weekend.
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