É do poema de Bruno Tolentino que me salta a inspiração:
“…busco um meio
de fazer da lição o uso mais certo,
ou menos parecido com o enxerto
que se vive a extrair ao canto alheio”.
E mais, falando do poeta irlandês W.B.Yeats, o bem-amado poeta do testamento literário de BT:
“Segundo o último Yeats, o acordado,
tudo o que não é Deus, se consumindo
no incêndio do intelecto, é um repentino
holocausto de sombras…”
A vida talvez seja – do que não levou adiante seu dom recebido e viveu à sombra de outras frondosas árvores frutíferas, no conforto do sonhar o sonho alheio -, a pura inspiração o canto alheio.
Transcrever, pois, é a melhor arte (justificativa do não-silêncio, quando por vezes bem ressequida a própria árvore – é como gerar sombra com a copa dos outros); mas eis que lembrar, lembrar (com Deus sempre presente na lembrança), e não deixar a memória ressecar de todo da Arte que outro de fato construiu. Eis uma saída para justificar o canto alheio. Eis um caminho para fugir ao holocausto de sombras. (AQ).
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Fonte: TOLENTINO, Bruno. “Os Deus de Hoje”, Rio de Janeiro, Record, 1995, p.242.
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