Remebrance has a Rear and Front ´Tis something like a House – It has a Garret also For Refuse and the Mouse Besides the deepest Cellar – That ever Mason laid – Look to it by its Fathoms Ourselves be not pursued – |
A recordação tem frente e fundos –
É tal e qual uma casa – Ela também tem um sótão Para o refugo e o rato. E tem o porão mais fundo Que pedreiro já cavou. Cuidado, que dos desvãos Não nos venha asssombração. |
Fonte: Dickinson, Emily. “Uma Centena de poemas“. Tradução, introdução e notas de Aíla de Oliveira Gomes. Ed. T.A.Queiroz/USP, S.Paulo, 1985, p.136-137.
Comentários de Dona Aíla: “No original o primeiro verso tem 8 sílabas e os demais, 6; na tradução, respectivamente, 9 e 7. Não ocorreram rimas que parecessem naturais; jogou-se então com ecos e recorrências de sons vocálicos mais ´fundos`.
Nas últimas linhas, o afastamento da literalidade não parece ferir o sentido. Substituiu-se ´fathoms` (medida de profundidade, sonda, profundidade) por ´escavação`, pois ousou-se uma adaptação, com acréscimo, ´assombração`, onde há conotações de algo que persegue.
Este é um dos muitos poemas-definição, onde não faltaram o ´wit` dickinsoniano, nem a imagem familiar, caseira, para as perplexidades da mente – esse tema obsessivo de Emily Dickinson. Incessantemente ela se perscruta, procura entender o mecanismo da consciência, discrimina suas faculdades, espanta-se com sua infinita expansão, assusta-se com sua imprevisibilidade. Mas nunca se deixa embair por abstrações; nem uma vez deixará de testá-las em imagens cotidianas, concretas que provêem analogias ou personificam ou, ao menos, corporificam os fenômenos mentais que a intrigam e fascinam. (op. cit. pág. 229).