3 Alqueires + 1 vaca.
Essa fórmula romântica de um distributivista de direita tem mais dicas de vida e ficção do que de economia.
Convenhamos, há que se considerar como verdade absoluta que “o leitor desejado pelo escritor é o que recebe o livro como carta que esperasse há muito tempo“.
É claro que um livro nem sempre “traz a força de uma resposta” – como pretende Corção.
Partindo da frase de Stevenson de que “o livro é uma carta particular aos amigos do escritor… e o público é apenas o generoso patrocinador das despesas postais“, Corção elabora sobre os segredos da escrita…
O leitor desejado pelo escritor é, pois, o que recebe o livro como uma carta pessoal, que esperasse há muito tempo… Então, quando isso acontece (eu o digo como testemunha desse evento, não só com este livro, mas principalmente “A Descoberta do Outro“), “uma profunda reorganização se opera em nossa vida“.
Então, é o momento que o leitor termina a leitura saboreando a frase inaudita: “eis o livro que eu queria ter escrito”. Ou, frase ainda mais generosa e grata: “este é o livro que foi escrito PARA MIM…”
Há ainda, nas obras ditas por Corção ( e válidas para todos nós ainda hoje ) como GENUÍNAS uma espécie de REFRAÇÃO, quando nós leitores autênticos vemos no que lemos um reflexo dos livros que já temos como LIDOS e ASSIMILADOS.
O fato final, diz GC, é que “na cultura universal corre uma seiva comum, tornando as obras comunicantes e comunicadas“.
No entanto, este livro lido e amado continua decisivo e interessante porque situado como todo livro deveria ser “um objeto situado no mundo espírito” . Corção sempre viveu na contra-corrente e afirmar que obras de arte formam uma “trama orgânica”, citando obras díspares e autores de espectros políticos diversos mostra a generosidade e capacidade crítica de GC, juntando no mesmo pack da obra de Otávio Faria (tão esquecido!): Homero, Tertuliano, Santo Agostinho, Erasmo e Pascal, Verlaine e Proust…
Essa a essência do capítulo “Há uma carta em cada livro”. Essa a essência da leitura em todos os livros essenciais.
Por tudo isso e muito mais para quem achar e ler esse opúsculo, esse livro foi escrito pra mim… nascido 2 anos depois de sua edição (53) e lido bem recentemente, com muita emoção. Como quem repetisse o bordão: esse livro foi escrito para mim!
+++
Fonte: CORÇÃO, Gustavo. “Três Alqueires e Uma Vaca”. Ed. Agir, RJ, 1953. pág. 26 e ss.
Meu amigo e compadre,
Ainda não li por inteiro este livro de GC apenas folheei em sua vistosa e completa biblioteca, mas, nas poucas linhas que li, percebi que GC faz uma análise das idéias de G K Chesterton. Sei que você dedica especial atenção a estes autores. Como prova, o texto escrito por você no blog Oito Colunas, logo no inicio de sua conversão ao catolicismo, intitulado “Três Alqueires do Coração ou Resposta a uma carta de 1935.”
http://oitocolunas.blogs.sapo.pt/arquivo/228957.html
Fraterno abraço
CurtirCurtir
Sim, sim, meu caro compadre. Corção e G.K.Chesterton tiveram muito a ver com a minha conversão ao Catolicismo e os recomendo “como se recomenda o quinino, principalmente para aqueles que por dever de ofício freqüentam os mangues da inteligência, as paragens encharcadas de lugares comuns, as baixadas do pensamento…”
Mes Amitiés,
BetoQ.
CurtirCurtir