O último dia do ano está recoberto de significados e memórias. No Brasil, adotamos o francesismo “Réveillon” para designar este dia e inauguramos uma corrida de São Silvestre em homenagem ao santo do dia.
Diante da vida seja imprevisível, no novo ano que se inicia, podemos prever coisas melhores, cultivar a esperança de novos motivos de alegria; e, no último dia do ano que finda, nada melhor do que nos vermos em meio à mirada dos fogos de artifício, ouvindo músicas animadas, vestidos com as cores que vão do tradicional branco ao dourado (ou aos modismos improváveis), mas, principalmente, estarmos próximos às pessoas que mais merecem o nosso afeto.
Estamos às vésperas do que se convencionou ser o último dia desse ciclo do calendário gregoriano – esta invenção maravilhosa de dividir o ano em doze meses e que nos permite impor uma parada obrigatória para refletir sobre o ano que passou; exatamente como concluiu o cronista Roberto Pompeu de Toledo:
“Quem teve a ideia de cortar o tempo em fatias, a que se deu o nome de ano, foi um indivíduo genial. Doze meses dão pra qualquer ser humano se cansar e entregar os pontos”.
Nem sempre foi assim, como assegura o britânico Robert Graves em “A deusa branca”, onde ele fala do ano celta de 13 meses de 28 dias, baseado no antigo calendário lunar dos celtas.
A prática de contar o ano pelo ciclo lunissolar ainda se mantém entre os hindus, os judeus e alguns povos asiáticos. Os chineses celebram o Ano Novo em uma data variável entre 21 de janeiro e 20 de fevereiro, então para eles o ano de 2025 só começará no dia 29 de janeiro.
Guardadas as devidas diferenças culturais, o que se nos oferece é um ano novinho em folha, diante do qual a gratidão pelo dom da Vida nos leva a reunir a família e os amigos, a trocar beijos e abraços, a assistir pela TV aos fogos de artifício que iluminam os céus no Rio, Paris ou Nova Iorque, e a celebrar a chegada do novo ano, renovando os votos de feliz 2025.
Ainda que algumas delas sejam esquecidas logo, o costume de estabelecer nossas “resoluções de Ano Novo” demonstram um desejo de mudança, de uma vida mais alinhada aos próprios valores e sonhos; e sinalizam que sempre temos uma nova chance de sonhar alto, redefinir caminhos, transformar o que precisa de novos rumos e recomeçar com força o que tem valor.
O desejo deste cronista é que você desperte amanhã com saúde, espírito de gratidão, ânimo e astral de festa – pronto para celebrar com alegria a chegada do ano novo.
Espero que possamos brindar este novo ano que se anuncia, como uma epifania, a exemplo do derradeiro canto de esperança do poeta Lêdo Ivo, no seu último livro escrito (“Aurora”), e publicado na Espanha post-mortem – como no poema “A resposta de Deus”:
Não sei
se Deus é escuridão ou claridade.
Se é a luz de uma estrela que me guia
na fria noite fria
ou o céu radioso após a tempestade.Também não sei
se Deus é o silêncio ou a palavra,
a noite ou o dia,
a paz ansiada ou a guerra sempre intérmina
que entre os homens lavra.Nada saber
é saber tudo e ouvir na imensidade
a voz de um deus que cala.
Vivo na sombra da árvore do mundo
à espera da grande claridade.É só no seu silêncio que Deus fala
e diz tudo.
E na aurora que rompe todo dia
e por todo o universo se irradia
está sua resposta de Deus mudo.
*Crônica originalmente publicada no Jornal O Popular de Goiânia, 30/12/2024.


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