Um artigo, quando bem lido – o que pressupõe, às vezes, ser relido, pode dar ao leitor muitos insights, propor novas visões e ampliar-lhe os horizontes para novas leituras e o conhecimento de novos autores.

Fabrício Tavares de Moraes, cristão, tradutor e Doutor em Literatura pela Queen Mary University of London.
Se o ensaio pressupõe uma tentativa, um misto linguístico de poesia e raciocínio, de liberdade temática, em Fabrício Tavares Moraes vemos o desenvolvimento claro de um misto de erudição e pedagogia — tudo isso feito sem fogos de artifício na linguagem, embora sempre desafiador para o comum dos leitores, mas principalmente tudo feito para a glória de Deus, pois que o autor é um cristão dedicado e racional.
Quando o que se lê é um artigo da erudição do amigo (e irmão em Cristo) Fabrício Tavares de Moraes, isso se torna um desafio à inteligência e ao desenvolvimento de potencialidades que estão amortecidas ou dormentes em nossas rotinas cansativas e nossas retinas desacostumadas às grandes e belas imagens — sim, pois ainda as possuímos, malgrado o desastre deste apocalíptico século mau.
Tome-se por exemplo a coluna dele, em “Estado da arte”, do último sábado, 02 de setembro, sob o título e leia-a com atenção e cuidado.
Fomos dados em espetáculo ao mundo: o drama divino e humano em Kevin Vanhoozer, parte 1 de 2
Começa assim…
“Para lá do deserto da crítica, queremos ser interpelados de novo”, disse Paul Ricouer em sua obra A Simbólica do Mal. O deserto no qual ele e outros perambulavam era precisamente a crítica textual e a hermenêutica modernas que somente ofereciam miragens, mantendo-os num eterno êxodo que impedia tanto a entrada na terra da promessa do sentido do texto quanto o retorno à realidade referencial.
“A morte do autor, a hermenêutica da suspeita e a epistemologia da dúvida aparentemente são elos numa cadeia que atravancou, quando não aprisionou, a compreensão e o famigerado “prazer da leitura”. O desconstrucionismo, por exemplo, sagrou no meio acadêmico a concepção do texto como uma espécie de mise en abyme, um eco de outros ecos numa regressão sem fim. (…)
E prossegue no link, mas antes de se ir veja que uma das referências apenas já valeu-me uma imersão num pensador interessantíssimo, pelo que agradeço ao articulista amigo e divido com meus seis leitores.
Trata-se de Robert C. Roberts,
- Professor Dr. Robert C. Roberts autor de “Emotions, perception and moral judgment”, entre outros…
autor de “Emotions, perception and moral judgment”. Há uma série de vídeos em que Roberts expõe uma síntese de suas ideias e há em Google Livros partes importantes de outro de seus livros (escrito em parceria com W. Jay Wood) – Intellectual virtues: an essay in regulative epistemology (ver link abaixo).
Mas, antes de seguir esse link, permita-me citar que, de acordo com um mestre do ensaio, Michel de Montaigne, é acertado associar a virtude ao hábito; donde exara a recomendação: “aos jovens que se preparem e aos velhos, que gozem do fruto desse preparo”. O jovem Fabrício mostra-se virtuoso, preparou-se com a lei da prudência para isso. Eu, de minha parte, como idoso, dou-me o prazer da leitura de seus elaborados textos. Acertado é levar em conta a lição de São Tomás de Aquino, pois estamos diante de um jovem escritor que podemos chamar virtuoso, à vista do que o Aquinate afirma:
(…) “a virtude designa uma certa perfeição da potência. Ora, o fim da potência é o ato. Por onde, consideramos perfeita a potência na medida em que é determinada para o seu ato. Ora, há certas potências que, em si mesmas, se determinam para os seus atos; tais as potências naturais ativas; e por isso, estas se chamam em si mesmas virtudes. Porém as potências racionais, próprias do homem, não são determinadas a uma só operação, mas, são indeterminadas e relativas a muitas. Ora, elas determinam-se aos atos pelos hábitos, como do sobredito resulta; logo, as virtudes humanas são hábitos.” (Tomás de Aquino, Suma Teológica, IaIIæ, questão 55, solução).
Possivelmente não é o único a enveredar profundos e profícuos esforços sob o enfoque almejado por ele, mas posso dizer que, em se tratando de imediato assombro, de uma espécie de êxtase que nos acomete quando estamos não só diante de textos baseados em um conhecimento profundo sobre dada perspectiva, mas também pela fluidez linguística, pelo domínio altíssimo de temas que nos são completamente anômalos, ao menos no que diz respeito ao burburinho dos dias de nosso país, que influencia e profana a nossa existência.
Nos faz parecer algo fácil de se adquirir, como se fosse um algo trivial, algo acessível da forma mais clara à todos nós.
E não é. Está incrivelmente longe de ser trivial.
Fazer uma conjunção extremamente elegante entre dimensões várias da filosofia e a dimensão teológica mais profunda, proposta e estudada por dedicados exegetas é algo de uma dificuldade realmente extenuante.
Fico extremamente feliz de ter conhecido há alguns meses, no portal da Revista Amálgama, um ensaio que me introduziu nesse sopro de virtudes e fina inteligência que marca o pensamento de nosso caríssimo Fabrício Tavares.
Não há dúvida de que trilhará caminhos extraordinários no pensamento nacional, além de nos presentear com essa abundância de conhecimento tão característica.
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