O texto tem destino?


A provocação me chegou pela pena (ou pelo teclado?) de Vilém Flusser, no livro A Escrita (1):

(…)Etimologicamente, a palavra ‘texto’ quer dizer tecido, e a palavra ‘linha’, um fio de um tecido de linho. Textos são, contudo, tecidos inacabados: são feitos de linhas (da ‘corrente’) e não são unidos, como tecidos acabados, por fios (a ‘trama’) verticais. A literatura (o universo dos textos é um produto semiacabado (2). Ela necessita de acabamento. A literatura dirige-se a um receptor, de quem exige que a complete. Quem escreve tece fios, que devem ser recolhidos pelo receptor para serem urdidos. Só assim o texto ganha significado. O texto tem, pois, tantos significados quanto o número de leitores.

“A famosa frase ‘habent fata libelli’ (os livros tem destinos) corresponde de maneira imprecisa ao que se encontra subentendido aqui. Não se pretende dizer que aquele que escreve transfere forças ao texto, e que essas forças funcionam com uma dinâmica própria. O que se pretende afirmar aqui é que o texto foi conformado para ser concluído. Portanto, o texto não ‘tem’ destino, ele “é” um destino. Em outras palavras: o texto é ‘pleno’de significados, e essa completude é atingida por cada leitor de maneira própria. O texto será, então, tanto mais significativo, quanto maior for o número de modos de leitura…”

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Fonte: FLUSSER, Vilém. “A Escrita: Há futuro para a escrita?”
Trad. do alemão por Murilo J da Costa. SP, Annablume, 2010. (2)No original, “Halbfabrikat”.

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