Destarte, #3 – O futuro da Poesia

LEIA minha coluna desta sexta-feira, excepcionalmente não publicada na quinta-feira —, em virtude do evento de lançamento do meu “Frágil armação”(2a. edição), editado por Livraria e Editora Caminhos.
Clique no link para ler na íntegra.
Destarte 15 09 2017

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O texto tem destino?

A provocação me chegou pela pena (ou pelo teclado?) de Vilém Flusser, no livro A Escrita (1):

(…)Etimologicamente, a palavra ‘texto’ quer dizer tecido, e a palavra ‘linha’, um fio de um tecido de linho. Textos são, contudo, tecidos inacabados: são feitos de linhas (da ‘corrente’) e não são unidos, como tecidos acabados, por fios (a ‘trama’) verticais. A literatura (o universo dos textos é um produto semiacabado (2). Ela necessita de acabamento. A literatura dirige-se a um receptor, de quem exige que a complete. Quem escreve tece fios, que devem ser recolhidos pelo receptor para serem urdidos. Só assim o texto ganha significado. O texto tem, pois, tantos significados quanto o número de leitores.

“A famosa frase ‘habent fata libelli’ (os livros tem destinos) corresponde de maneira imprecisa ao que se encontra subentendido aqui. Não se pretende dizer que aquele que escreve transfere forças ao texto, e que essas forças funcionam com uma dinâmica própria. O que se pretende afirmar aqui é que o texto foi conformado para ser concluído. Portanto, o texto não ‘tem’ destino, ele “é” um destino. Em outras palavras: o texto é ‘pleno’de significados, e essa completude é atingida por cada leitor de maneira própria. O texto será, então, tanto mais significativo, quanto maior for o número de modos de leitura…”

+++++
Fonte: FLUSSER, Vilém. “A Escrita: Há futuro para a escrita?”
Trad. do alemão por Murilo J da Costa. SP, Annablume, 2010. (2)No original, “Halbfabrikat”.

Excertos de uma palestra irreal

Tese 2 e caminhos (2.3)
O universo das palavras – eis a chave!
O mundo dos negócios se subordina a este universo.
O ambiente de negócios é a realidade que se constrói como um ecossistema através das ideias e das palavras.
As portas se abrem ou se fecham pelo poder das palavras (resgatar a frase de Balzac que eu próprio não me lembro…rs!)
A sintese balzaquiana (resgatada por minha mulher): “As palavras são a roupa da personalidade”.

Portanto, parece que o sucesso é uma função de como você usa suas palavras. Que me perdoem os mudos, mas pelo menos a palavra parece ser uma das mais importantes variáveis do êxito em muitas profissões, sobretudo no comércio.

Portanto, parece que a palavra é uma das importantes variáveis para o sucesso.

Palavra ao pensador tcheco-brasileiro Vilém Flussén:

“O intelecto ´sensu stricto` é uma tecelagem que usa palavras como fios…”

O intelecto ´sensu lato´ tem uma ante-sala na qual funcionam uma fiação que transforma algodão bruto (dados dos sentidos) em fios (palavras). A maioria da matéria-prima, porém, já vem em forma de fios.
Seus “vocábulos da realidade” virão de resgatar “seus fios de algodão tecidos na mente”

(Fonte: aqui mesmo  no Blog do Beto – http://bit.ly/sPKFgw).


Seus “vocábulos da realidade” virão, pois, resgatar
seus fios de algodão tecidos na mente

(V. Flussén http://bit.ly/sPKFgw).

POSSO com certeza, como o personagem Piscine do filme “As Aventuras de PI”, afirmar que se sobrevivo até aqui é porque a Divina Misericórdia e as palavras foram generosos com um menino órfão e pobre que se fez o empresário de (relativo) sucesso e um profissional respeitado, que – principal e essencialmente – fez muitos amigos ao longo desses 56 anos de vida.

A minha vida, de todo modo, tem sido a confirmação de que a ideia move o mundo (o meu pequeno mundo), como desde a compreensão da cosmogonia judaico-cristã – na qual creio profundamente! Cremos que assim sucede as coisas: a ideia veio ao Criador para depois ‘ver que era Bom’ e assim também que era Bom – o Bom e o Verdadeiro que eram desde o princípio.

No início, desde o Gênesis, sabemos que Deus deu sentido à “face do Abismo”. Sabemos ainda que a Sabedoria vagava sobre a superfície das águas. Nós também precisamos investir contra a falta de tempo e a inércia para pensar com sabedoria sobre a vida e mesmo assim quando somos apenas pequenos comerciantes num mundo de grandes (big) empresários…

Meu desejo sempre foi abrir uma palestra (virtual) como esta com versos da poetisa norte-americana Emily Dickinson que agora projeto na tela (em letras grandes)

“Uma palavra morre
Quando é dita –
Dir-se-ia –
Pois eu digo
Que ela nasce Nesse dia.”

(Emily Dickinson)”

Além desta citação (entre tantas que vocês vão ser reféns no próximo quarto de hora). |TRAGO comigo essas duas para iniciar minha alocução hoje.

A linguagem é “morada do ser”,

como a nomeia Heidegger.

COM frases de uma poetisa e de um pensador, lembro que não estarei delirando em tentar (ensaio = tentar) essa aproximação porque desde tempos memoriais o mundo dos negócios é fundamentado na palavra.

Antes que existessem os advogados e os escritórios especializados em direito comercial, as pessoas firmavam seus negócios com a palavra. Daí, pois, o surgimento das expressões:

– Eu te dou minha Palavra!
– Palavra de Honra!
– E o elogio maior a quem firmava um contrato “com um fio do bigode” e, ao cumprir o trato, era dado como Um Homem de Palavra.

E, ainda me apoiando em outro pensador – o tcheco-brasileiro Vilém Flusser – a quem retornaria outras vezes nesses próximos 15 minutos:
“Se definirmos ´realidade´ como ´conjunto dos dados´, podemos dizer que vivemos em realidade dupla: na realidade das palavras e na realidade dos dados ´brutos´ ou ´imediatos´. Como os dados ´brutos´alcançam o intelecto propriamente dito em forma de palavras, podemos ainda dizer que a realidade consiste de palavras e de palavras  ´in statu nascendi´.” (Vilem Flusser, Língua e Realidade (1963).

Meu desejo, pois, caros ouvintes, nesta palestra que seria feita (ou será um dia) no TED-x PUC/GO é refletir sobre realidade dos negócios e o mundo das palavras (salvação de todo uma mesmice que pode ser o comércio per si).

O que é negócio e como podemos de forma tranquila fazer a defesa da livre iniciativa no Brasil, num momento em que isso parece indefensável. Que estigma o Brasil lançou sobre o mudo do comércio e sobre os homens de negócios que faz os jovens preferirem carreiras públicas, concursos públicos à aventura e o risco da iniciativa privada ? Curiosamente, porque ao contrário daqui, na India e na China milhares de jovens se lançam ao empreendedorismo com ânimo e talento – ocupando postos de destaque nas maiores escolas de comércio de todo o mundo ? (ex. Nitin Nohria, indiano e presidente da Harvard Business School no seu ano do Centenário)! [Dados…de alunos estrangeiros em escolas de comércio ‘ditas de Ponta”]
Pra mim, Negócio pode ser arte!

Logo, Negócio-arte pode tirar-nos do sombrio, do ‘marginal’ em que nos querem colocar, sob efeito deste estigma do empreendedor no Brasil.
Ex. a pergunta da repórter (bem informada, by the way) do Globo News a Nitin Nohria (o primeiro presidente indiano da Harvard Business School).
Como o universo das palavras pode criar pra todos nós um cosmo que nos afaste dos dados ‘brutos’ da realidade e a ela dar dimensão inovadora?

Etimologia da palavra negócio – negocium… anti-ócio!
Queria trazer uma nota séria e outra bem-humorada… Lembro-me apenas da séria!! Mas não sou candidato ao CQC, então… ei-la:
“Tratando Francisco Vitoria da questão de se é permitido no comércio
vender algo mais caro do que se comprou, citando Santo Tomás, diz,
primeiramente, que o comércio não é, em si mesmo, ilícito, embora o
comércio de comutação de dinheiro por dinheiro ou de bens por dinheiro,
para além das necessidades da vida, enquanto visa o lucro, é reprovada com
justiça, porque de si mesma, fomenta a cobiça do lucro, que não conhece
limite, mas tende ao infinito, o que possui algo em si mesmo vergonhoso, pois
não visa nenhum bem honesto ou necessário. Mas deve-se observar que são
as ações viciosas dos homens que tornam injusta a prática do comércio. O
lucro ordenado e justo não é ilícito se ordenado ao que é necessário e honesto…”
(Revista Aquinate, n.4, 2006) Em resumo, LUCRO não é pecado.
Empresa que não tem lucro é empresa falida.
Empresa que tem lucro DEVE retornar à sociedade o lucro com resultados de desenvolvimento.

César Miranda http://protensao.apostos.com/?s=neg%C3%B3cio
(À suivre…)

Transcrevendo Vilém Flusser (i)

http://www.flusser-archive.org/

Vilém Flusser
(*12 de maio de 1920, Praga, República Checa +: 27 de novembro de 1991)

VILÉM FLUSSER, O `FILÓSOFO-POETA´
(SEG. ANATOL ROSENFELD, 1964).
Em trecho que É poesia pura…

O intelecto ´sensu stricto` é uma tecelagem que usa palavras como fios.

O intelecto ´sensu lato´ tem uma ante-sala na qual funcionam uma fiação que transforma algodão bruto (dados dos sentidos) em fios (palavras). A maioria da matéria-prima, porém, já vem em forma de fios.
Se definirmos ´realidade´ como ´conjunto dos dados´, podemos dizer que vivemos em realidade dupla: na realidade das palavras e na realidade dos dados ´brutos´ ou ´imediatos´. Como os dados ´brutos´alcançam o intelecto propriamente dito em forma de palavras, podemos ainda dizer que a realidade consiste de palavras e de palavras  ´in statu nascendi´.”

(…)

“ …Os elementos do cosmo da língua são as palavras. Correspondem aos átomos dentro do cosmo democritiano, ou às mônadas dentro do cosmos leibnitziano. São percebidas como aglomerados de sons (quando ouvidas) ou de formas (quando lidas). São, portanto, divísiveis, tal como os átomos da física. Além de percebidas, são as palavras apreendidas. Como tais, são indivísiveis.

“… a sociedade é a base da realidade e … o homem é real somente como membro da sociedade. No entanto, nesta perspectiva, a língua se revela como sendo a essência (e não instrumento) da sociedade.

“Contudo, a atividade do intelecto não se limita à apreensão, compreensão, reformulação e criação de palavras e frases (pensamento), e à articulação dessas frases (pensamentos). O intelecto carrega sobre os ombros, como Atlas, um mundo de silêncio, para dentro do qual os pensamentos (as frases) desembocam e dentro do qual evaporam…”

+++++
FLUSSER, Vilém. “Língua e Realidade”. 3a. edição. Edit. Annablume, SP, 2007, pág. 41-56.

Transcrevendo Vilém Flusser (i)

http://www.flusser-archive.org/

Vilém Flusser
(*12 de maio de 1920, Praga, República Checa +: 27 de novembro de 1991)

VILÉM FLUSSER, O `FILÓSOFO-POETA´
(SEG. ANATOL ROSENFELD, 1964).
Em trecho que É poesia pura…

O intelecto ´sensu stricto` é uma tecelagem que usa palavras como fios.

O intelecto ´sensu lato´ tem uma ante-sala na qual funcionam uma fiação que transforma algodão bruto (dados dos sentidos) em fios (palavras). A maioria da matéria-prima, porém, já vem em forma de fios.
Se definirmos ´realidade´ como ´conjunto dos dados´, podemos dizer que vivemos em realidade dupla: na realidade das palavras e na realidade dos dados ´brutos´ ou ´imediatos´. Como os dados ´brutos´alcançam o intelecto propriamente dito em forma de palavras, podemos ainda dizer que a realidade consiste de palavras e de palavras  ´in statu nascendi´.”

(…)

“ …Os elementos do cosmo da língua são as palavras. Correspondem aos átomos dentro do cosmo democritiano, ou às mônadas dentro do cosmos leibnitziano. São percebidas como aglomerados de sons (quando ouvidas) ou de formas (quando lidas). São, portanto, divísiveis, tal como os átomos da física. Além de percebidas, são as palavras apreendidas. Como tais, são indivísiveis.

“… a sociedade é a base da realidade e … o homem é real somente como membro da sociedade. No entanto, nesta perspectiva, a língua se revela como sendo a essência (e não instrumento) da sociedade.

“Contudo, a atividade do intelecto não se limita à apreensão, compreensão, reformulação e criação de palavras e frases (pensamento), e à articulação dessas frases (pensamentos). O intelecto carrega sobre os ombros, como Atlas, um mundo de silêncio, para dentro do qual os pensamentos (as frases) desembocam e dentro do qual evaporam…”

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FLUSSER, Vilém. “Língua e Realidade”. 3a. edição. Edit. Annablume, SP, 2007, pág. 41-56.

Post auxiliar ao post definitivo (1)

image

Fonte: FLUSSER, Vilém. “Língua e Realidade”. 3a.edição. AnaBlume.