Fim-de-ano é sempre um momento para celebrar – beber e comer de graça faz parte, brother! – rir um bocado do(a)s personagens que nos rodeiam está incluso no pacote.
São tantas as oportunidades (de aproveitar e se chatear com a longa cerimônia), que recorri a Henri Bergson para compreender tudo isso. É um texto antigo mas muito esclarecedor. Confira:
“Passemos à sociedade. Vivendo nela, vivendo por ela, não podemos abster-nos de tratá-la como um ser vivo. Risível será, portanto, uma imagem que nos sugira a ideia de uma sociedade fantasiada e, por assim dizer, de uma mascarada social. Ora, essa ideia se forma logo que percebemos o que há de inerte, de pronto, de confeccionado enfim, na superfície da sociedade viva. É rigidez outra vez, e que destoa da flexibilidade interior da vida. O lado cerimonioso da vida social deverá, pois, conter uma comicidade latente, que só precisará de uma oportunidade para vir à luz. Pode-se dizer que as cerimônias estão para o corpo social como o traje está para o corpo individual: sua gravidade se deve ao fato de se identificarem, para nós, com o objeto sério ao qual o uso as vincula, e perdem essa gravidade assim que nossa imaginação as isola dele. Desse modo, para que uma cerimônia se torne cômica, basta que nossa atenção se concentre no que ela tem de cerimonioso, e que desprezemos sua matéria, como dizem os filósofos, para só pensar em sua forma. É ocioso insistir neste ponto. Todos sabem com que facilidade a invenção cômica é exercida sobre os atos sociais que tem forma imutável, desde a simples distribuição de condecorações até uma sessão de tribunal. São formas e fórmulas, molduras prontas onde a comicidades se inserirá. (…)
Pensem nisso enquanto eu fecho este post pensando no Brasil do Séc. XXI.
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Fonte: BERGSON, Henri. “O Riso”. Trad. Ivone C. Benedetti. SP, Martins Fontes, 2001, pág. 33/4.