Origem da Quaresma


“…Assinalar com festas e preces o ano, o mês e a semana é fazer passar para a imortalidade aquilo que a nossa vida tem de mais perecível; é, de alguma forma, estabelecer uma relação imediata entre a nossa natureza, ligada ao efêmero, e a ordem sobrenatural da Eternidade divina. É preciso consagrar o tempo, como é preciso consagrar a vida, como é preciso dar tudo ao Senhor!
“A semana ordena-se então em volta do domingo, dia da Ressurreição, que se torna o seu ponto de partida. Da mesma maneira, retomando a tradição judaica dos jejuns(1), mas deslocando-os para evitar confusões, a quarta e a sexta-feira lembram aos fiéis a necessidade da penitência, e o sábado, conservando alguma coisa do antigo Sabbath, é um dia de preparação para a glória do domingo. Pouco a pouco, o ano inteiro é organizado dentro de um ciclo litúrgico que consagra a Deus todos os meses, todas as estações, todos os dias. No começo, parece existir apenas uma grande festa: a da Páscoa, para a qual converge o tempo, que culmina com a Ressurreição; mas bem depressa, antes do séc. IV, outros episódios da vida de Cristo impõem comemorações particulares. Tais são sobretudo o nascimento divino, que será celebrado desde época muito recuada, em datas variáveis; e o Pentecostes, a antiga festa judaica tornada cristã, comemorando a descida do Espírito Santo sobre os Apóstolos.”
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Fonte – Daniel-Rops, “A Igreja dos Apóstolos e dos Mártires”, ed.Quadrante, S.Paulo, 1988, p. 220/221.
(1) “O jejum consistia na abstenção de todo o alimento e de toda a bebida até a hora nona, isto é, até o meio da tarde. O jejum da sexta-feira assinalava a comemoração da morte de Cristo; o da quarta-feira talvez expiasse a traição de Judas.  Aos jejuns da semana acrescentraram-se jejuns anuais que precediam a Páscoa; foram fixados em quarenta dias, em memória do jejum que Cristo fez no deserto. Esta é a origem – que data do séc. I – da nossa Quaresma. (Cfrm. par. “Não podemos deixar de falar do que vimos e ouvimos” (cap. 1).

Post-Post:O jejum no Cristianismo se distingue desta prática em outras religiões, pois tem por objetivo descobrir Deus, e não descobrir a si mesmo. Ao contrário do budismo e do islamismo, tem outro sentido”. É o que afirma o cardealPaul Josef Cordes, presidente do conselho Pontifício ´Cor Unum`. E conclui: “para o cristão o desejo místico não é nunca o descenso em si mesmo, mas sim o descenso na profundidade da fé, onde encontra Deus“.

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