Por que o Olavo tem razão?

O que estou fazendo aqui?


I. De todos os bens humanos, a inteligência –e inteligência não quer dizer senão consciência –se distingue dos demais por um traço distintivo peculiar: quanto mais a perdemos, menos damos pela sua falta.
Aí as mais óbvias conexões de causa e efeito se tornam um mistério inacessível, um segredo esotérico impensável. A conduta desencontrada e absurda torna-se, então, a norma geral.
(…)

II. O que neste país se chama de “debate político” é de uma miséria intelectual indescritível, que por si só já fornece a explicação suficiente do fracasso nacional em todos os domínios – economia, segurança pública, justiça, educação, saúde, relações internacionais etc.
Digo isso porque a intelectualidade falante demarca a envergadura e a altitude máximas da consciência de um povo. Sua incapacidade e sua baixeza, que venho documentando desde os tempos do Imbecil Coletivo (1996), mas que depois dessa época vieram saltando do alarmante ao calamitoso e daí ao catastrófico e ao infernal, refletem-se na degradação mental e moral da população inteira.
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Kierkegaard: Exórdio à “Doença até à Morte”

Meus caro(a)s amigo(a)s:

Tendo passado das “Migalhas Filosóficas”
ao livro em referência, Kierkegaard

ganhei em leitura e vivi mais uma experiência com o Autor que me habilita a elevá-lo ao posto de um dos meus pensadores favoritos. Nesta quadra da vida em que há mais tempo para pensar e onde a reflexão torna-se sua companheira durante longas horas vividas a só, aproximei-me de Sören A. Kierkegaard, com a humildade do “leitor estarrecido” (que foi a definição dada por minha amiga Claire S. em um comentário neste blog).

Sigo o conselho do professor Olavo de Carvalho, que nos convida a “dialogar e se impregnar com a cultura de outras épocas”, como saída para a convivência insossa com uma “sociedade pervertida”. De fato, “é preciso, [é salutar, é revificador] transcender nossa época, nossa sociedade, saindo deste cotidiano restrito” para dialogar com pensadores como o grande Kierkegaard. Esse diálogo é capaz de fazer transcender o cotidiano muitas vezes mesquinho e reduzido.

Exórdio à “Doença até à Morte”*.
(Transcrição).

Esta enfermidade não é para morte (João 11, 4) e contudo Lázaro morreu; mas como os discípulos não compreendessem a continuação: Lázaro, o nosso amigo, dorme, mas eu vou acordá-lo do seu sono, Cristo disse-lhes sem ambigüidade: Lázaro está morto (11, 14). Lázaro, portanto, está morto, e contudo a sua doença não era mortal, mas o fato é que está morto, sem que tenha estado mortalmente doente.

Cristo pensava nesse momento, sem dúvida, no milagre que mostrasse aos contemporâneos, ou seja, àqueles que podem crer, a glória de Deus, no milagre que acordou Lázaro de entre os mortos; de modo que não só essa doença não era mortal, mas ele o predisse, para maior glória de Deus, a fim de que o filho de Deus por tal fosse glorificado.

Mas, ainda que Cristo não tivesse acordado Lázaro, nem por isso seria menos verdade que essa doença, a própria morte, não é mortal!

Desde o instante em que Cristo se aproxima do túmulo e exclama: Lázaro, levanta-te e caminha! (11, 43) já estamos certos de que essa doença não é mortal. Mas até sem essas palavras, não mostra ele, ele que é a Ressurreição e Vida (11, 25), só pelo aproximar-se do túmulo, que essa doença não é mortal? e simples fato da existência de Cristo, não é isso evidente? Que proveito haveria, para Lázaro, em ter ressuscitado para ter de acabar por morrer! Que proveito, sem a existência daquele que é a Ressurreição e a Vida para qualquer homem que n ‘Ele creia! Não, não é por causa da ressurreição de Lázaro que essa doença não é mortal, mas por Ele existir, por Ele. Visto que na linguagem humana a morte é o fim de tudo, e, como é costume dizer-se, enquanto há vida há esperança.

Mas, para o cristão, a morte de modo algum é o fim de tudo, e nem sequer um simples episódio perdido na realidade única que é a vida eterna; e ela implica para nós infinitamente mais esperança do que a vida comporta, mesmo transbordante de saúde e de força.

Assim, para o cristão, nem sequer a morte é a doença mortal, e muito menos todos os sofrimentos temporais: desgostos, doenças, miséria, aflição, adversidades, torturas do corpo ou da alma, mágoas e luto. E de tudo isso que coube em sorte aos homens, por muito pesado, por muito duro que lhes seja, pelo menos àqueles que sofrem, a tal ponto que os faça dizer que a morte não é pior, de tudo isso, que se assemelha à doença, mesmo quando não o seja, nada é aos olhos do cristão doença mortal.
Tal é a maneira magnânima como o cristianismo ensina ao cristão a pensar sobre todas as coisas deste mundo a morte incluída.

É quase como se lhe fosse necessário orgulhar-se de estar altivamente para além daquilo que correntemente é considerado infelicidade, daquilo que vulgarmente se diz ser o pior dos males… Mas em compensação o cristianismo descobriu uma miséria cuja existência o homem, como homem, ignora; e essa miséria é a doença mortal.

O homem natural pode enumerar à vontade tudo o que é horrível — e tudo esgotar, o cristão ri-se da soma. A diferença que há entre o homem natural e o cristão é semelhante à da criança e do adulto. O que faz tremer a criança nada é para o adulto. A criança ignora o que seja o horrível, o homem sabe e treme. O defeito da infância está, em primeiro lugar, em não conhecer o horrível, e em seguida, devido à sua ignorância, em tremer pelo que não é para fazer tremer. Assim o homem natural; ele ignora onde de fato jaz o horror, o que todavia não o livra de tremer. Mas é do que não é horrível que ele treme. Assim o pagão na sua relação com a divindade; não só ele ignora o verdadeiro Deus, mas adora, para mais, um ídolo como se fosse um deus.

O cristão é o único que conhece a doença mortal. Dá-lhe o cristianismo uma coragem ignorada pelo homem natural — coragem recebida com o receio dum maior grau de horrível. Certo é que a coragem a todos é dada; e que o receio dum maior perigo nos dá forças para afrontar um menor; e que o infinito temor dum único perigo nos torna como inexistentes todos os outros. Mas a lição horrível do cristão está em ter aprendido a conhecer a doença mortal.

+++++
*Fonte: KIERKEGAARD, Sören Aabye. “O Desespero Humano (Doença até à Morte)”, em “Os Pensadores”, vol. s/nr. da Ed. Abril, trad. Adolfo Casais Monteiro, 2a. ed., S. Paulo, Abril Cultural, pp. 191/2.
Para download do livro completo, clique aqui.

Kierkegaard: Exórdio à “Doença até à Morte”

Meus caro(a)s amigo(a)s:

Tendo passado das “Migalhas Filosóficas”
ao livro em referência, Kierkegaard

ganhei em leitura e vivi mais uma experiência com o Autor que me habilita a elevá-lo ao posto de um dos meus pensadores favoritos. Nesta quadra da vida em que há mais tempo para pensar e onde a reflexão torna-se sua companheira durante longas horas vividas a só, aproximei-me de Sören A. Kierkegaard, com a humildade do “leitor estarrecido” (que foi a definição dada por minha amiga Claire S. em um comentário neste blog).

Sigo o conselho do professor Olavo de Carvalho, que nos convida a “dialogar e se impregnar com a cultura de outras épocas”, como saída para a convivência insossa com uma “sociedade pervertida”. De fato, “é preciso, [é salutar, é revificador] transcender nossa época, nossa sociedade, saindo deste cotidiano restrito” para dialogar com pensadores como o grande Kierkegaard. Esse diálogo é capaz de fazer transcender o cotidiano muitas vezes mesquinho e reduzido.

Exórdio à “Doença até à Morte”*.
(Transcrição).

Esta enfermidade não é para morte (João 11, 4) e contudo Lázaro morreu; mas como os discípulos não compreendessem a continuação: Lázaro, o nosso amigo, dorme, mas eu vou acordá-lo do seu sono, Cristo disse-lhes sem ambigüidade: Lázaro está morto (11, 14). Lázaro, portanto, está morto, e contudo a sua doença não era mortal, mas o fato é que está morto, sem que tenha estado mortalmente doente.

Cristo pensava nesse momento, sem dúvida, no milagre que mostrasse aos contemporâneos, ou seja, àqueles que podem crer, a glória de Deus, no milagre que acordou Lázaro de entre os mortos; de modo que não só essa doença não era mortal, mas ele o predisse, para maior glória de Deus, a fim de que o filho de Deus por tal fosse glorificado.

Mas, ainda que Cristo não tivesse acordado Lázaro, nem por isso seria menos verdade que essa doença, a própria morte, não é mortal!

Desde o instante em que Cristo se aproxima do túmulo e exclama: Lázaro, levanta-te e caminha! (11, 43) já estamos certos de que essa doença não é mortal. Mas até sem essas palavras, não mostra ele, ele que é a Ressurreição e Vida (11, 25), só pelo aproximar-se do túmulo, que essa doença não é mortal? e simples fato da existência de Cristo, não é isso evidente? Que proveito haveria, para Lázaro, em ter ressuscitado para ter de acabar por morrer! Que proveito, sem a existência daquele que é a Ressurreição e a Vida para qualquer homem que n ‘Ele creia! Não, não é por causa da ressurreição de Lázaro que essa doença não é mortal, mas por Ele existir, por Ele. Visto que na linguagem humana a morte é o fim de tudo, e, como é costume dizer-se, enquanto há vida há esperança.

Mas, para o cristão, a morte de modo algum é o fim de tudo, e nem sequer um simples episódio perdido na realidade única que é a vida eterna; e ela implica para nós infinitamente mais esperança do que a vida comporta, mesmo transbordante de saúde e de força.

Assim, para o cristão, nem sequer a morte é a doença mortal, e muito menos todos os sofrimentos temporais: desgostos, doenças, miséria, aflição, adversidades, torturas do corpo ou da alma, mágoas e luto. E de tudo isso que coube em sorte aos homens, por muito pesado, por muito duro que lhes seja, pelo menos àqueles que sofrem, a tal ponto que os faça dizer que a morte não é pior, de tudo isso, que se assemelha à doença, mesmo quando não o seja, nada é aos olhos do cristão doença mortal.
Tal é a maneira magnânima como o cristianismo ensina ao cristão a pensar sobre todas as coisas deste mundo a morte incluída.

É quase como se lhe fosse necessário orgulhar-se de estar altivamente para além daquilo que correntemente é considerado infelicidade, daquilo que vulgarmente se diz ser o pior dos males… Mas em compensação o cristianismo descobriu uma miséria cuja existência o homem, como homem, ignora; e essa miséria é a doença mortal.

O homem natural pode enumerar à vontade tudo o que é horrível — e tudo esgotar, o cristão ri-se da soma. A diferença que há entre o homem natural e o cristão é semelhante à da criança e do adulto. O que faz tremer a criança nada é para o adulto. A criança ignora o que seja o horrível, o homem sabe e treme. O defeito da infância está, em primeiro lugar, em não conhecer o horrível, e em seguida, devido à sua ignorância, em tremer pelo que não é para fazer tremer. Assim o homem natural; ele ignora onde de fato jaz o horror, o que todavia não o livra de tremer. Mas é do que não é horrível que ele treme. Assim o pagão na sua relação com a divindade; não só ele ignora o verdadeiro Deus, mas adora, para mais, um ídolo como se fosse um deus.

O cristão é o único que conhece a doença mortal. Dá-lhe o cristianismo uma coragem ignorada pelo homem natural — coragem recebida com o receio dum maior grau de horrível. Certo é que a coragem a todos é dada; e que o receio dum maior perigo nos dá forças para afrontar um menor; e que o infinito temor dum único perigo nos torna como inexistentes todos os outros. Mas a lição horrível do cristão está em ter aprendido a conhecer a doença mortal.

+++++
*Fonte: KIERKEGAARD, Sören Aabye. “O Desespero Humano (Doença até à Morte)”, em “Os Pensadores”, vol. s/nr. da Ed. Abril, trad. Adolfo Casais Monteiro, 2a. ed., S. Paulo, Abril Cultural, pp. 191/2.
Para download do livro completo, clique aqui.

Teria esta Lição maior validez…

“Se em vez de carioquinha, o Millôr fosse um velho chinês…”

(paródia a um poema do Millôr (*)

Um dia depois de eu ter transformado o jogador colombiano Zúñiga em “bode expiatório” de minha revolta contra o “cordeiro imolado” que é nosso melhor jogador de futebol (e um dos mais jovens da Copa), pensei, repensei.

Lembrei-me de dois textos que me ajudam a entender o momento e por um instante, racionalmente deixo minha paixão futebolística de lado, para refletir sobre violência do homem contra o homem (homem lobo do homem?! – mesmo? Deixe sua resposta para o final do texto do Millôr.

Leiam o texto “Homem” de Millôr (abaixo), após o um texto do pensador francês René Girard sobre Violência e a Teoria do Bode Expiatório.  E entre Millôr e Girard, naturalmente, fico com o francês, mas ambos válidos para esta minha mirada para entender-me, entender-nos, nós Homens – seres humanos, mulheres inclusas, viu dona Ministra da igualdade pe(a)Teista).

O professor Olavo de Carvalho resumiu, em 1998, o pensamento de René Girard em um parágrafo:

(…) Todas as instituições humanas têm origem ritual, e o ritual resume-se no sacrifício. O sacrifício consiste em descarregar sobre um bode expiatório, vítima inocente e indefesa, os ódios e tensões acumulados que ameaçavam romper a unidade social. Estes ódios e tensões, por sua vez, surgem da impossibilidade de conciliar os desejos humanos. A razão desta impossibilidade reside no caráter mimético do desejo: cada homem não deseja isto ou aquilo simplesmente porque sim, porque é bonito, porque é gostoso, porque satisfaz alguma necessidade, mas sim porque é desejado também por outro ser humano, cujo prestígio cobre de encantos, aos olhos do primeiro, um objeto que em si pode ser inócuo, ruim, feio ou prejudicial. O mimetismo é o tema dominante da literatura, assim como o sacrifício do bode expiatório é o tema dominante, se não único, da mitologia universal e do complexo sistema de ritos sobre o qual se ergue, aos poucos, o edifício político e judiciário. A vítima é escolhida entre as criaturas isoladas, inermes, cuja morte não ofenderá uma família, grupo ou facção: ela não tem vingadores, sua morte portanto detém o ciclo da retaliação mútua. Mas a paz é provisória. Por um tempo, a recordação do sacrifício basta para restabelecê-la. Nesta fase a vítima sacrificial se torna retroativamente objeto de culto, como divindade ou herói cultural. Ritualizado, o sacrifício tende a despejar-se sobre vítimas simbólicas ou de substituição: um carneiro, um boi. Quando o sistema ritual perde sua força apaziguante, renascem as tensões, espalha-se a violência que, se não encontrar novas vítimas sacrificiais, leverá tudo ao caos e à ruína. A sociedade humana ergue-se assim sobre uma violência originária, que o rito ao mesmo tempo encobre e reproduz.”
(Fonte: Continue lendo no Site Olavo de Carvalho).

Apoio-me ainda, nas palavras de Felipe Cherubin:
A função do sacrifício é, portanto, apaziguar a violência e impedir a explosão de conflitos decorrentes de rivalidades cada vez mais crescentes que paradoxalmente focalizam uma vítima arbitrária cuja eliminação reconcilia o grupo e alcança o estatuto do sagrado. Essa vítima é chamada por Girard de “bode expiatório”, um inocente que polariza para si o ódio universal.”  (Felipe Cherubin, na Dicta & Contradicta)

Dá tempo até o próximo jogo interessante…

“Homem!”

© Millôr Fernandes.

“Besta! Você é uma besta!” Besta é como aprendemos a xingar desde cedo. E chamamos de animais os que matam com crueldade, os que violentam, agridem, ferem: “O criminoso reagiu à polícia como uma verdadeira fera!” Como? Correu? Não – atirou, esfaqueou, matou.

Porco-chovinista. A hiena-nazista. Alimentei uma serpente no meu seio. “Rato!” “Cavalos, são todos umas ca-valgaduras!” Pato. Cão. Teimoso como uma mula. Bêbado co-mo um gambá. Burro. Galinha. Lesma. Lágrimas de cro-co-di–lo. Traiçoeiro como uma raposa. Praticamente todos os ani-mais têm sido usados pelo homem para símiles das suas pró-prias fraquezas e defeitos. E os animais, dóceis, conti-nuam sua vida, ignorando que os usamos para cobrir toda a gama de nossa imensa canalhice, quando bebemos mais do que podemos, espancamos os mais fracos, prevaricamos sem medida, agimos, enfim, “como verdadeiros animais selvagens”.

Talvez isso se deva ao fato de que os animais sempre nos evitaram, com raras exceções, como a do cão (um quisling animal, o Pai Thomaz da espécie). Mas, agora que a história natural sabe muito mais sobre os animais, você já tentou ler, ao mesmo tempo, paralelamente, a biografia de uma família “ilustre” e a monografia de um grupo de chimpanzés? Em qualquer família “ilustre” a prevaricação sexual é a constante, a traição sentimental a regra, o ciúme, o impulso, e a violência resultado quase fatal.

Mas um grupo de chimpanzés do Quênia, estudado detidamente por naturalistas holandeses, mostrou que os brutos (perdão!) ficam satisfeitos com apenas seis atos sexuais por ano, já que as fêmeas só se interessam pelo assunto duas ou três vezes por mês e nem querem ouvir falar (grunhir) disso em todo o período da gestação e da lactação. O problema, porém, vejam bem, não é saber se os gorilas são ou não melhores do que o homem porque se importam menos com sexo, mas apenas mostrar que não é válido, na descrição de violências sexuais, num caso de estupro, por exemplo, dizer que o homem “cedeu a seus instintos bestiais”. O que ele cedeu mesmo foi a seus instintos humanos.

Mas, se alguns animais copulam menos, todos brigam menos do que os homens. Ainda estou para ver elefantes se adestrando militarmente para atacar leões, tigres se mobilizando para enfrentar uma horda de jacarés invasores, búfalos matando bisões por questões de fronteiras, ri-no-ce-ron-tes vendendo chifres a girafas, e assim por diante. Quando não se sentem efetivamente atacados, todos os animais deixam pra lá. Não brigam por conceitos, não reagem por pressupostos, não se ofendem por questões lingüísticas, não matam por religião. E, mesmo atacados por razões vitais, inúmeras vezes rugem, (zurram, escoiceiam, berram) mas, assim que podem, satisfeitas as necessidades teatrais da espécie, fingem que não foi nada e dão o fora. Paz! Paz!

Mesmo os animais definitivamente vitoriosos em lutas quase nunca procuram tirar partido disso. Viram as costas e vão embora. No máximo comem um pedaço do inimigo, se for o caso; se o caso é fome. Não há condecorações, butins de guerra, nem retaliações em nome do passado, tratados preservando um pasto para o futuro, colinas de Golan contestadas entre jaguatiricas e cascáveis, e, sobretudo, não há arcos do triunfo.

Pois é: já é tempo de inverter os termos e afirmar que uma pessoa é “suave como um elefante”, “maternal como uma cobra”, “tímido como um rinoceronte”, “delicado como um urso”, ou que “o coelhinho me olhou com um olhar quase humano”, isto é, de ódio ou inveja. Pois desde a Bíblia a interpretação foi sempre contra os animais: a serpente era pérfida e perdeu o homem. E, no entanto, tudo o que a serpente fez, afinal, foi contestar uma portaria aparentemente sem nexo. Possivelmente ela teve apenas a intenção de instigar o homem a um prazer que ele até então não desfrutara. E certamente a coisa não teria o desfecho desastroso que teve (o pão com o suor de nosso rosto, etc.) se não tivesse se metido na história o elemento agressivo e agressor, o anjo com a espada de fogo na mão. Um homem!

+++++
Fontes: Texto “Homem”, de Millôr Fernandes, transcrito de Revista Veja online.
(*) Poemas do Millôr (não achei a fonte – se você, leitor, souber, me envia por favor!):
”Tudo o que eu digo
Teria maior validez
Se em vez de carioquinha
Eu fosse um velho chinês”.

Teria esta Lição maior validez…

“Se em vez de carioquinha, o Millôr fosse um velho chinês…”

(paródia a um poema do Millôr (*)

Um dia depois de eu ter transformado o jogador colombiano Zúñiga em “bode expiatório” de minha revolta contra o “cordeiro imolado” que é nosso melhor jogador de futebol (e um dos mais jovens da Copa), pensei, repensei.

Lembrei-me de dois textos que me ajudam a entender o momento e por um instante, racionalmente deixo minha paixão futebolística de lado, para refletir sobre violência do homem contra o homem (homem lobo do homem?! – mesmo? Deixe sua resposta para o final do texto do Millôr.

Leiam o texto “Homem” de Millôr (abaixo), após o um texto do pensador francês René Girard sobre Violência e a Teoria do Bode Expiatório.  E entre Millôr e Girard, naturalmente, fico com o francês, mas ambos válidos para esta minha mirada para entender-me, entender-nos, nós Homens – seres humanos, mulheres inclusas, viu dona Ministra da igualdade pe(a)Teista).

O professor Olavo de Carvalho resumiu, em 1998, o pensamento de René Girard em um parágrafo:

(…) Todas as instituições humanas têm origem ritual, e o ritual resume-se no sacrifício. O sacrifício consiste em descarregar sobre um bode expiatório, vítima inocente e indefesa, os ódios e tensões acumulados que ameaçavam romper a unidade social. Estes ódios e tensões, por sua vez, surgem da impossibilidade de conciliar os desejos humanos. A razão desta impossibilidade reside no caráter mimético do desejo: cada homem não deseja isto ou aquilo simplesmente porque sim, porque é bonito, porque é gostoso, porque satisfaz alguma necessidade, mas sim porque é desejado também por outro ser humano, cujo prestígio cobre de encantos, aos olhos do primeiro, um objeto que em si pode ser inócuo, ruim, feio ou prejudicial. O mimetismo é o tema dominante da literatura, assim como o sacrifício do bode expiatório é o tema dominante, se não único, da mitologia universal e do complexo sistema de ritos sobre o qual se ergue, aos poucos, o edifício político e judiciário. A vítima é escolhida entre as criaturas isoladas, inermes, cuja morte não ofenderá uma família, grupo ou facção: ela não tem vingadores, sua morte portanto detém o ciclo da retaliação mútua. Mas a paz é provisória. Por um tempo, a recordação do sacrifício basta para restabelecê-la. Nesta fase a vítima sacrificial se torna retroativamente objeto de culto, como divindade ou herói cultural. Ritualizado, o sacrifício tende a despejar-se sobre vítimas simbólicas ou de substituição: um carneiro, um boi. Quando o sistema ritual perde sua força apaziguante, renascem as tensões, espalha-se a violência que, se não encontrar novas vítimas sacrificiais, leverá tudo ao caos e à ruína. A sociedade humana ergue-se assim sobre uma violência originária, que o rito ao mesmo tempo encobre e reproduz.”
(Fonte: Continue lendo no Site Olavo de Carvalho).

Apoio-me ainda, nas palavras de Felipe Cherubin:
A função do sacrifício é, portanto, apaziguar a violência e impedir a explosão de conflitos decorrentes de rivalidades cada vez mais crescentes que paradoxalmente focalizam uma vítima arbitrária cuja eliminação reconcilia o grupo e alcança o estatuto do sagrado. Essa vítima é chamada por Girard de “bode expiatório”, um inocente que polariza para si o ódio universal.”  (Felipe Cherubin, na Dicta & Contradicta)

Dá tempo até o próximo jogo interessante…

“Homem!”

© Millôr Fernandes.

“Besta! Você é uma besta!” Besta é como aprendemos a xingar desde cedo. E chamamos de animais os que matam com crueldade, os que violentam, agridem, ferem: “O criminoso reagiu à polícia como uma verdadeira fera!” Como? Correu? Não – atirou, esfaqueou, matou.

Porco-chovinista. A hiena-nazista. Alimentei uma serpente no meu seio. “Rato!” “Cavalos, são todos umas ca-valgaduras!” Pato. Cão. Teimoso como uma mula. Bêbado co-mo um gambá. Burro. Galinha. Lesma. Lágrimas de cro-co-di–lo. Traiçoeiro como uma raposa. Praticamente todos os ani-mais têm sido usados pelo homem para símiles das suas pró-prias fraquezas e defeitos. E os animais, dóceis, conti-nuam sua vida, ignorando que os usamos para cobrir toda a gama de nossa imensa canalhice, quando bebemos mais do que podemos, espancamos os mais fracos, prevaricamos sem medida, agimos, enfim, “como verdadeiros animais selvagens”.

Talvez isso se deva ao fato de que os animais sempre nos evitaram, com raras exceções, como a do cão (um quisling animal, o Pai Thomaz da espécie). Mas, agora que a história natural sabe muito mais sobre os animais, você já tentou ler, ao mesmo tempo, paralelamente, a biografia de uma família “ilustre” e a monografia de um grupo de chimpanzés? Em qualquer família “ilustre” a prevaricação sexual é a constante, a traição sentimental a regra, o ciúme, o impulso, e a violência resultado quase fatal.

Mas um grupo de chimpanzés do Quênia, estudado detidamente por naturalistas holandeses, mostrou que os brutos (perdão!) ficam satisfeitos com apenas seis atos sexuais por ano, já que as fêmeas só se interessam pelo assunto duas ou três vezes por mês e nem querem ouvir falar (grunhir) disso em todo o período da gestação e da lactação. O problema, porém, vejam bem, não é saber se os gorilas são ou não melhores do que o homem porque se importam menos com sexo, mas apenas mostrar que não é válido, na descrição de violências sexuais, num caso de estupro, por exemplo, dizer que o homem “cedeu a seus instintos bestiais”. O que ele cedeu mesmo foi a seus instintos humanos.

Mas, se alguns animais copulam menos, todos brigam menos do que os homens. Ainda estou para ver elefantes se adestrando militarmente para atacar leões, tigres se mobilizando para enfrentar uma horda de jacarés invasores, búfalos matando bisões por questões de fronteiras, ri-no-ce-ron-tes vendendo chifres a girafas, e assim por diante. Quando não se sentem efetivamente atacados, todos os animais deixam pra lá. Não brigam por conceitos, não reagem por pressupostos, não se ofendem por questões lingüísticas, não matam por religião. E, mesmo atacados por razões vitais, inúmeras vezes rugem, (zurram, escoiceiam, berram) mas, assim que podem, satisfeitas as necessidades teatrais da espécie, fingem que não foi nada e dão o fora. Paz! Paz!

Mesmo os animais definitivamente vitoriosos em lutas quase nunca procuram tirar partido disso. Viram as costas e vão embora. No máximo comem um pedaço do inimigo, se for o caso; se o caso é fome. Não há condecorações, butins de guerra, nem retaliações em nome do passado, tratados preservando um pasto para o futuro, colinas de Golan contestadas entre jaguatiricas e cascáveis, e, sobretudo, não há arcos do triunfo.

Pois é: já é tempo de inverter os termos e afirmar que uma pessoa é “suave como um elefante”, “maternal como uma cobra”, “tímido como um rinoceronte”, “delicado como um urso”, ou que “o coelhinho me olhou com um olhar quase humano”, isto é, de ódio ou inveja. Pois desde a Bíblia a interpretação foi sempre contra os animais: a serpente era pérfida e perdeu o homem. E, no entanto, tudo o que a serpente fez, afinal, foi contestar uma portaria aparentemente sem nexo. Possivelmente ela teve apenas a intenção de instigar o homem a um prazer que ele até então não desfrutara. E certamente a coisa não teria o desfecho desastroso que teve (o pão com o suor de nosso rosto, etc.) se não tivesse se metido na história o elemento agressivo e agressor, o anjo com a espada de fogo na mão. Um homem!

+++++
Fontes: Texto “Homem”, de Millôr Fernandes, transcrito de Revista Veja online.
(*) Poemas do Millôr (não achei a fonte – se você, leitor, souber, me envia por favor!):
”Tudo o que eu digo
Teria maior validez
Se em vez de carioquinha
Eu fosse um velho chinês”.

Olavo de Carvalho interpreta Eric Voegelin

Mes chers amis:

QUANDO A IDEOLOGIA REINA,
A DESORDEM É O ARGUMENTO ÚNICO

Impressionado por uma cena divulgada no YouTube, em que alunos aparecem invadindo uma sala de aula, onde um professor expõe sua visão sobre os males do Comunismo (no contexto da historia do Brasil, Revolução de 64), fiquei estarrecido e triste.

Achei oportuno trazer-lhes este texto que resume de forma didática a visão de Voegelin sobre a Ordem na História.

Minha intuição é que estamos desmerecendo a insígnia de nossa Bandeira, quando desistimos de perseguir com Estudo, Trabalho e Disciplina a legenda de “ORDEM e PROGRESSO”.

Entregamos o governo a um bando de cínicos, que se movem pela ideologia. E os resultados deletérios estão se tornando cada vez mais visíveis. Nos porões, há muito mais lixo comportamental do que este vídeo do You Tube nos escancara… Há a questão já pincelada aqui da PNE e a questão de “gênero”… Amplamente contestada pela Igreja Católica (não vi nenhuma manifestação dos irmão protestantes e dos espíritas!).

Há a questão visceral que é a apropriação dos “aparelhos de estado”, que é como designam eles – marxistas no Poder (leia-se os lulo-petistas) – o que chamamos de instituições: a Escola, a Igreja (lotada de ideologia hoje em dia…), a Família, o(s) Partido(s) – o desejável deles é que seja o Partido Único! – os ministérios etc. etc.

Diante disso, transcrevo aqui o meu desabafo no YouTube:

“VIVEMOS “Tempos Sombrios” no Brasil. É a conclusão a que chega o espectador deste vídeo. Estes tempos do Brasil do (des)governo lulo-petista, no qual as instituições se colocaram de joelhos para servir à Ideologia só pode levar a isso…

 

TRISTE foi como me senti, ao ver este vídeo, fiquei tão triste quanto ao ver as depredações da propriedade alheia em atos de rua no ano passado (e o que está sendo urdido agora mesmo, para a Copa 2014). Deus nos proteja do vexame internacional.

 

O desrespeito a este professor é apenas o pequeno sinal, o viés virulento da doença mental que se apoderou de nosso pobre país. Espiritualmente doentes, sem consciência do mal em que nos chafurdamos, só resta aos homens de bem continuar um processo de educação para salvar as futuras gerações.

Eu não desejo em hipótese nenhuma que meus netos cheguem à Universidade daqui a dez anos, tendo que conviver com essa desordem. A ordem nos ambientes públicos – como na Escola, na Igreja, no Estádio, nos meios de transporte etc. – é consequência da Ordem no interior das pessoas; sendo requisito para a boa e harmoniosa convivência e a PAZ.

Recomendo que leiam “Hitler e os Alemães” do filósofo Eric Voegelin e pensem sobre como cada um de nós pode fazer (por pequena iniciativa que seja) para que os demônios da ideologia esquerdizante alastre-se ainda mais. Foi em parte o silêncio e a omissão gerais que possibilitou o caos nacional-socialista (nazista)….

 

Há uma tarefa a ser feita por cada um(a) homem (e mulheres, mães, esposas, filhas,,,educadoras ou não, formalmente constituídas) para que a praga da ideologia não se alastre mais…Se apenas um entre todos os leitores deste espaço for contagiado pelo desejo de mudar pela via da Educação (Capacitação – que é o mais comum em nossas escolas hoje – é outra coisa, seja dito), estarei menos triste.

Deixo-lhes um texto do professor e pensador brasileiro Olavo de Carvalho sobre o tema no link abaixo.

Ordem e desordem.

Transcrevo um trechinho para que tenham vontade de continuar lendo:

“A rebelião gnóstica e messiânica contra a ordem divina trancou as almas – e a política que elas fazem – no recinto exíguo da ação imanente, onde tudo o que resta a fazer é criar uma idéia e subjugar ou matar os que dela discordam.

“Os únicos instrumentos de ação que restam nessas circunstâncias são a manipulação e a violência. A persuasão racional está excluída por hipótese. A política torna-se um reino diabólico, onde o Príncipe das Trevas se delicia na contemplação de esforços histórico-sociais tanto mais gigantescos quanto mais inelutavelmente condenados ao fracasso. Essa política é o contrário do que Platão e Aristóteles chamavam de política, mas é, cada vez mais, a única política que temos…” (O.C.)

Abaixo o Link para o vídeo que motivou este post e o artigo do professor Olavo na íntegra:

EM CRISTO!

Beto Queiroz.