A É Realizações Editora lança “Não se Esqueça de Viver — Goethe e a tradição dos exercícios espirituais”, de Pierre Hadot.
Estudioso responsável pela redescoberta do caráter vivencial da filosofia antiga, o autor analisa como isso está presente na visão de mundo goetheana.
Pierre Hadot é unanimemente aclamado como o erudito que recuperou a dimensão prática da filosofia tal como concebida pelos gregos e latinos.
A coleção Filosofia Atual dispõe de duas obras que apresentam essa redescoberta — A Filosofia como Maneira de Viver e Exercícios Espirituais e Filosofia Antiga. Mas há um segundo grande feito cujo mérito se deve a Hadot: o esforço de localizar em autores modernos a continuação da linhagem experiencial iniciada pelos pensadores clássicos. Essa atitude dá origem ao estudo Wittgenstein e os Limites da Linguagem, também incluído na coleção, e editado com resenha da grande wittgensteiniana G. E. M. Anscombe.
É nesse campo de pesquisa que se deve situar Não se Esqueça de Viver – Goethe e a tradição dos exercícios espirituais — com o diferencial de o literato estudado neste livro ser a figura maior da cultura alemã, um dos luminares de toda a arte moderna e escritor da predileção do autor deste volume.
Além disso, trata-se da última obra publicada por Hadot, uma espécie de homenagem-testamento e de arremate da sua vida de estudos. Carreira, aliás, que merece ser explorada; afinal, Hadot congrega a influência que recebeu de Louis Lavelle e a influência que exerceu sobre Michel Foucault — intelectuais tão distantes —, uma amplitude que ainda hoje resulta na admiração de filósofos prestigiados, como Luc Ferry.
Os exercícios de autodisciplina que Pierre Hadot descobre na vida e na obra de Goethe são três. No primeiro capítulo, o autor expõe a prática de concentrar-se totalmente no momento vivido, sem se permitir perturbar por eventos do passado ou expectativas sobre o futuro.
O segundo exercício espiritual é a tentativa de encarar cada situação considerando-a com visão abrangente, que evite a parcialidade e a estreiteza das circunstâncias particulares. Como esse capítulo da obra demonstra, tal ação pode implicar uma ação concreta, por exemplo o ato de escalar uma montanha.
