Ah que o Amor de Cristo nos constrange :
Depois d´Ele, nenhum cordeiro imolado, não mais.
Depois do processo e infâmia contra o inocente:
– Não mais ovelha sacrificada, não mais…
Em nenhum altar invocado o sacrifício, não mais.
Depois dele, nenhuma vítima inocente, não mais.
– Só a cruz erguida.
Só essa árvore cósmica.
Esse madeiro pro náufrago à deriva…
Suas raízes penetrando o dia-a-dia
Do que crê.
Arrostando
O lombo do
Descrente
Ralo da dúvida.
“O Cristo não venceu apenas a Morte, Ele venceu também a solidão humana. Em vão acusam a Cruz de fazer sombra à vida. A Igreja nos responde, com uma alegria cheia de lágrimas, na Quinta-feira Santa:
“Ecce enim propter lignum venit gaudium in universo mundo…” (*)
(*)“Crucem tuam adoramus, Domine, et sanctam ressurrectionem tuam laudamus et glorificamus: ecce enim propter lignum venit gaudium in universo mundo” : adoramos, Senhor, a tua Cruz, e louvamos e glorificamos a tua santa ressurreição: por causa do lenho da Cruz vem a todo o mundo o gozo (Antífona1ª para ser cantada enquanto se adora a Santa Cruz).
E para fechar essas reflexões desta Sexta-Feira Santa, 2009, um poema de Bruno Tolentino:
O Segredo
*****Bruno TolentinoO Cristo não é
um belo episódio
da história ou da fé:nem o clavicórdio
nos dedos da luz,
nem o monocórdiochamado da Cruz.
O crucificado
chamado Jesusé o encontro marcado
entre a solidão
e o significadodo teu coração:
de um lado teu medo,
teu ódio, teu não;de outro o segredo
com seu cofre aberto,
onde o teu degredo,onde o teu deserto,
vão morrer, mas vão
morrer muito pertoda ressurreição.
Poema O Segredo, “As horas de Katharina”. São Paulo: Companhia das Letras, 1994. p. 180.
(*) F. Mauriac, “Sofrimento e Felicidade do Cristão”, p. 182.