Dois poemas de Edmar Guimarães


INTERIORES
John-Keats_oleoJosephSevern.jpg
Permeável o que não se vê:
ave só pena
no ateliê do texto.

O invisível exercita
o êxtase.

Dentro das plumas não há
carne. Só uma ilusão de ave
vive.

O vento se espalha sopros,
deixa nu o invisível corpo.

O poeta põe palavras.
Imprime o pombo.

♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦

45ESTRUTURA DO REAL

Como em Dalí.
A cor gotejante.

O abstrato bale.

Terras estragadas,
tons trincados.

O que se pisa em pincel
ou desliza.
Instaura auras.

Andaimes de forquilhas
erguem o rosto
gordo do vento.

Linhas labirínticas
bocas
tintas – o precário
império.

Domo em Dalí
a cor
cotidiana
na tez da tela

luz
de janela urbana.

Regiões rasuradas
onde o real ousa,
mansamente,
seus pombos.
♠♠♠♠♠♠♠♠♠♠♠♠♠♠♠

Fonte: GUIMARÃES, Edmar. Caderno (Poesia). Goiânia: Kelps, 2a. ed, 2005, p. 35/38-39.

Publicidade

Deixe uma resposta

Preencha os seus dados abaixo ou clique em um ícone para log in:

Logo do WordPress.com

Você está comentando utilizando sua conta WordPress.com. Sair /  Alterar )

Foto do Facebook

Você está comentando utilizando sua conta Facebook. Sair /  Alterar )

Conectando a %s

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Saiba como seus dados em comentários são processados.