INTERIORES
Permeável o que não se vê:
ave só pena
no ateliê do texto.
O invisível exercita
o êxtase.
Dentro das plumas não há
carne. Só uma ilusão de ave
vive.
O vento se espalha sopros,
deixa nu o invisível corpo.
O poeta põe palavras.
Imprime o pombo.
♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦♦
ESTRUTURA DO REAL
Como em Dalí.
A cor gotejante.
O abstrato bale.
Terras estragadas,
tons trincados.
O que se pisa em pincel
ou desliza.
Instaura auras.
Andaimes de forquilhas
erguem o rosto
gordo do vento.
Linhas labirínticas
bocas
tintas – o precário
império.
Domo em Dalí
a cor
cotidiana
na tez da tela
luz
de janela urbana.
Regiões rasuradas
onde o real ousa,
mansamente,
seus pombos.
♠♠♠♠♠♠♠♠♠♠♠♠♠♠♠
Fonte: GUIMARÃES, Edmar. Caderno (Poesia). Goiânia: Kelps, 2a. ed, 2005, p. 35/38-39.