Uma Excursão Aventurosa


Seguindo o conselho do poeta gaúcho, poeta do mundo, Augusto Meyer, preparei-me para uma “excursão aventurosa” nos territórios do mais famoso florentino (e expatriado) Dante Alighieri, poeta da Humanidade.

O poeta gaúcho A.Meyer

Augusto Meyer, foto-autógrafo, ABL

E PARA SEGUIR o conselho do mestre Meyer à risca, tomei o atalho dessa viagem, como prescrito:

No caso de Dante, sempre me pareceu que valia a pena tentar a experiência que o reparo de Eliot* sugere. Em meu curso de Teoria Literária, mais uma vez recomendei essa excursão aventurosa, não digo pelo Inferno, sem Virgílio e sem guia turístico, mas pela Vita Nuova. Mais precisamente: recomendei, com ou sem preparo, a leitura de alguns sonetos e trechos de prosa do singular livrinho”.

Na minha última viagem aos EUA, tive a chance de incluir essa “excursão aventurosa” nas minhas visitas à Universidade do Novo México (UNM), onde descobri um paraíso chamado Zimmerman Library.

Lá, além de poder ler, adquiri o direito que toda a comunidade de Albuquerque (NM) tem de se tornar leitor frequente da biblioteca ZL e retirar livros, como o recomendado por Augusto Meyer, nos anos ‘60…
e continuamente recomendado pelos bons críticos da obra do ‘florentino’, como mr. Dreher no carderno de literatura do WSJ / Review do sábado pascoal de 2014 – e que já referenciei aqui (vide foto abaixo).

Este “singular livrinho” de Dante me deu aquela alegria que Meyer chama de uma dádiva especial ao “leitor comum” (por oposição ao ‘letrado’); com a sua fruição que traz uma “colaboração emotiva”, por causa do “frescor da sensibilidade” do leitor apaixonado pela Poesia. Só na pele de leitor desarmado temos a “tonalidade emotiva” onde fala mais alto a linguagem do sentimento.

Desejo, pois, que você, leitor, aproveite o soneto que não poucos críticos catalogam como dos melhores na história da literatura mundial (Musa). Trago o dito soneto “Tanto gentile…” – o famoso Soneto XV de “Vita Nuova”, em 3 versões.
Num próximo post, pretendo supreender-lhe, dileto leitor, com algumas notas de Augusto Meyer sobre a tradução deste famoso soneto.

Aqui o original italiano e a tradução de Mark Musa (que se nega a aplicar rimas em inglês, ao traduzir a obra de Dante para a língua de Shakespeare – sábia decisão, pois que aí muitos tropeçam).

Abaixo, a transcrição em português, de uma das tantas traduções do famoso soneto de Vita Nuova –autoria de Eliane A. Zucculin Nucci; não se esquecendo de anotar o que Dante (o nosso) Milano disse, ao traduzir 3 cantos do “Inferno”:
“É enorme a diferença entre o verbo forte e áspero de Dante e a nossa língua de índole branda” (isso aplicável aos cantos do Inferno, seria cabível a este doce soneto?
– “A linguagem de um poeta não pode ser trasladada a outro idioma; pode-se traduzir o que ele quis dizer, mas nunca o que ele disse…”(D.M.):

Trad. do Soneto XV de Vita Nuova - Dante, by Zucculin Nucci

Dificuldades da tradução em Dante, (c) : Eliane A. Zucculin Nucci



(*) Quando se refere ao “reparo de Eliot”, Meyer está falando da famosa frase que abre seu ensaio “Tradução e Traição”, dele Meyer:
“Observa Eliot no seu ensaio sobre Dante: I have always found that the less I knew about the poet and his work, before I began to read it, the better. Tome-se isto, não como conselho paradoxal e um tanto aluado, mas como incentivo aos leitores tímidos e convite a uma experiência. O que Eliot queria dizer é que a genuína poesia pode ser sentida e transmitida sem perfeita compreensão do conteúdo: “that genuine poetry can communicate before it is understood”.

A audácia de um leitor petulante muitas vezes é ajudada pela intuição divinatória que dá de graça ao atrevido a mesma revelação poética que só como recompensa de canseiras e pestana queimada o escrupuloso vem a conquistar. Mas há também o corretivo desse atrevimento: sem um longo aprendizado, errando muito e superando aos poucos o erro nada se aprende muito bem, pois aprender é acautelar-se contra o erro ©A.Meyer, 1965.
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Tanto gentile e tanto onesta pare
la donna mia quand’ella altrui saluta,
ch’ogne lingua deven tremando muta,
e li occhi no l’ardiscon di guardare.
Ella si va, sentendosi laudare,
benignamente d’umiltà vestuta;
e par che sia una cosa venuta
da cielo in terra a miracol mostrare.

Mostrasi sì piacente a chi la mira,
che dà per li occhi una dolcezza al core
che ‘ ntender no la puo chi no lo prova:
e par che la sua labbia simova
un spirito soave pier d’ amore,
che va dicendo a l’ anima: sospira.
—-
©Vita Nuova, Dante Alighieri, circa 1292 e il 1295.

Fontes: WSJ, cfme. capa acima.
MEYER, Augusto. “A Forma Secreta” (ensaios). Rio de Janeiro, Francisco Alves Editora, 1965. p.94/97.

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Uma resposta em “Uma Excursão Aventurosa

  1. Republicou isso em Adalberto de Queiroze comentado:
    “A audácia de um leitor petulante muitas vezes é ajudada pela intuição divinatória que dá de graça ao atrevido a mesma revelação poética que só como recompensa de canseiras e pestana queimada o escrupuloso vem a conquistar. Mas há também o corretivo desse atrevimento: sem um longo aprendizado, errando muito e superando aos poucos o erro nada se aprende muito bem, pois aprender é acautelar-se contra o erro” ©A.Meyer, 1965.

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