Falando sobre o trabalho (1)


ORA ET LABORA*, a regra de São Bento introduzida no Ocidente como lei de ouro para o monasticismo exemplar dos beneditinos me vem à mente quando começo este post sobre trabalho. Num livro de 1947, DSC01651Alceu Amoroso Lima se ocupou de refletir sobre o trabalho e as formas de relações com (e no) trabalho, inclusive separando – o que era impositivo na época – a “democracia no trabalho, com respeito pela dignidade do homem e suas liberdades essenciais”  da “ditadura do proletariado – inumana e coercitiva como todos os regimes autoritários (regimes comunistas, lembrem-se, estavam em moda e em ascensão na época). Mas este não é o caso a se discutir agora.
A citação me motiva a trazer o tema do trabalho à discussão e situá-lo como um tema sempre renovado.

Diz Alceu, a certa altura do seu livro: “pelo trabalho, trouxe Cristo ao mundo a alegria. O trabalho santificado pelo Filho de Deus, se transformou, de peso ou castigo, como era entre os selvagens, entre os pagãos civilizados ou mesmo na servidão da Velha Aliança, em alegria. Cristo é a alegria do mundo. O exemplo da sua vida é a lição moral suprema para todos os homens até a consumação dos séculos. Escolhendo o trabalho manual como meio de vida, como ocupação cotidiana, como ambiente de seus longos dias de preparação para o magistério público, Cristo (o Verbo Divino) o santificou para todo o sempre…”


“A lei natural e a lei revelada, portanto a lei cristã em sua integralidade, fazem do trabalho o centro e o cimo de toda vida social bem constituída”, diz Alceu. E, relembrando as lições do Cristianismo e sua relação com o trabalho, desde a origem do filho de Deus e do Carpinteiro de Nazaré, em tudo se descobre há muita “…dignidade do trabalho no conjunto das atividades da sociedade governada segundo as regras da virtude e do Amor.”

Pensando sobre o trabalho no mundo atual, deparamos com a importância da internet. Este meio que está comemorando 23 anos de existência comercial, representa, sem dúvida, uma ‘revolução virtual’ na vida de bilhões de pessoas ao redor do mundo – no Brasil, com estimados 82 milhões de usuários. Assim como o marco que representa Gutenberg, com a invenção da imprensa, a internet deu ao ser humano incríveis possibilidades de reprodução do conhecimento, de interação, de compartilhamento e de ferramentas para uma nova forma de trabalho.

“Espero que a internet se torne um mar de conhecimento compartilhado”, diz o físico inglês Tim Bernes-Lee, criador da “www”, uma pessoa representantiva dessa revolução, junto com outros tantos colaboradores que embarcaram nessa aventura humana, adicionando valor ao longo desses anos.

E eis que o século XXI nos anuncia uma nova e inusitada forma de trabalhar, onde 38% das pessoas do planeta acessam a Web diariamente, para trabalho ou lazer. Estudos sobre as tecnologias colaborativas mostram que esta nova forma de trabalhar em equipe, usando a colaboração eletrônica como foco, tem enorme potencial para ampliar os pontos fortes de uma organização de alta performance.

Como profissional de T.I., tenho conhecido e compartilhado visões novas sobre esse novo ambiente de trabalho, onde a convivência entre diferentes gerações enriquecem o ‘caldo cultural’ herdado do séc. XX, de modo que enxergo muitos modos de superação da cultura estreita da competição acirrada, e privilegiando a colaboração e o compartilhamento de projetos, mesmo entre ‘concorrentes’ – que passam a se enxergar como “coopetidores” (coopetition é o termo em inglês) – termo próprio para designar o novo modelo de cooperação/competição.

É claro que não podemos ser ingênuos a ponto de imaginar que o capitalismo abdicará de sua (talvez melhor), característica de se fundamentar na competição. O mercado ganha com isso, o consumidor ganha alternativas, mas é o que afirmo baseado em minhas conversas e observações, notamos muito mais disposição intra-muros nas empresas para a criação e a manutenção de um espírito novo de colaboração. É sim, um mundo em que novas formas de trabalhar são postas em prática e é sim hiperconectado e hipercompetitivo, mas tem lugar para a colaboração e o compartilhamento. Aqui a frase de um Gandhi dos negócios seria “diferença de atuação não devem significar hostilidades” e sim acesso a um mar de conhecimento e trabalho compartilhados…

Foi dentro desse cenário que promovemos, recentemente, o evento MultiMeeting 2012, que trouxe para clientes e parceiros de negócio de nossa empresa uma visão das oportunidades e riscos das novas tecnologias de colaboração eletrônica; examinando as abordagens técnicas de nossos parceiros que trabalham o conceito do BYOD(bring your own device: traga seu próprio dispositivo) nos escritórios (ou nas redes conectadas); bem como novidades do mundo que espera muitos bons resultados da mobilidade e da colaboração. O objetivo e o propósito dessa iniciativa na nossa organização não é outro senão colaborar para que nossos clientes (e nós próprios) possam(os) enfrentar este mundo hipercompetitivo e hiperconectado.

Nestas novas formas que o trabalho se apresenta, só um personagem não muda: é o ser feito à imagem e semelhança de Deus, que deve ter com o trabalho a disciplina de se deixar governar pelas regras da Virtude e do Amor.

++++
Fonte: AMOROSO LIMA, Alceu. “O problema do trabalho”, Agir, RJ, 1947. pág. 114/5. (*)Ora et labora: reza e trabalha (regra beneditina). Ambroggio Lorenzetti é citado por Alceu como o ilustrador por excelência da “dignidade do trabalho no conjunto das atividades de uma sociedade governada segundo as regras da virtude e do Amor” (as ilustrações deste post são do mural do Palazzo della Signoria de Siena).
© AMBROGIO LORENZETTI, Good and Bad Government, Palazzo Pubblico, Siena.

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