ENDEREÇO*
O poeta não tem endereço
senhor de senhorio
e usufruto do tempo
mora na cabana da sílaba
onde anoitece o verso – ali
onde triunfa algum dissílabo
funda a morada.Mora nas cidreiras de Catarina
depois nas touceiras de violeta de Marina – mora
no anel de topázio de Joana
– ó virilhas de Joana!
no punho do punhal de ouro de Cellini – mora
no sermão de Bacio della Porta, Edi,
no sermão de Madalena
no sopro de Melpômene e Afrodite
no assobio de Ganimedes:estes e outros são
seu endereço certo incerto:
ruas sem nome, memórias de Polymnia,
labirintos de Tegucigalpa, onde andava Dolores.
Mora na vida e na morte
sua pátria não tem chão
mora morto – em vida morto
mora noite e madrugada
nalguma constelação.
Rio de Janeiro, 1997.
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Fonte “Cânon & Fuga”, Ed. Record, RJ, 1999.
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