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20 de dezembro de 2019 por Adalberto De Queiroz 8 Comentários
Opoeta e crítico anglo-americano T.S. Eliot, em “Virgílio e o mundo cristão” compilou ideias valiosas para esta quadra da celebração do Advento de Jesus – o Natal – sobretudo a estima que o poeta romano angariou e que o tornou “singularmente simpático à mentalidade cristã” – seu foco inicial é a famosa quarta Écloga:
“Terá a vida dos deuses o menino, que os verá
no meio dos heróis, e será visto em meio a eles,
regendo com as virtudes de seu pai um mundo em paz .”
Este “querido rebento dos deuses, grande descendente de Júpiter” é “aquele que receberá o dom da vida divina, verá os heróis” – poderia apenas ser uma profecia do nascimento do próprio Cristo, acreditamos os Cristãos, desde Santo Agostinho.
A “profecia poética” que descobrimos em Virgílio se repetiu nesses mais de dois mil anos de história do Cristianismo, na reescrita do mito por excelência – aquele do renascimento.
Vendo piscantes luzes à vitrine exposta,
à véspera do Natal de Jesus; acende-se
em mim de pronto este mortal desgosto
do falso brilho emanado dessa luz.
Não há nesses presentes ouro, incenso e mirra.
Sábios de bom gosto; presentes de dois mil anos;
antes fossem hoje mimos a compor eterno hino.
Entanto, hoje, não há senão mercadoria
n’alma do infante extasiada e fria —
que marca p’ra sempre a criança inerte.
Há múltiplos bens todos vazios:
comprando o que de Graça teríamos —
a vida e a alegria do Jesus Menino.
∴∴∴∴∴∴∴
*Draft de poema inédito em livro.
Por Adélia Prado, poetisa e cronista mineira.
Minha alma debate-se, tentada à tristeza e seus requintes. Meu pai morto não vai repetir este ano: “Nada como um frango com arroz depois da missa“.
Minha irmã chora porque seu marido é amarradinho com dinheiro e ela queria muito comprar uns festões, uns presentinhos mais regalados, ô vida, e ele acha tudo bobagem e só quer saber de encher a geladeira com mortadela e cerveja.
Talvez, por isto, ou porque me achei velha demais no espelho da loja, sinto dificuldades em ajudar Corália. Queria muito chorar, deveras estou chorando, às vésperas do nascimento do Senhor, eu que estremeço recém-nascidos.
Estou achando o mundo triste, querendo pai e mãe, eu também. Corália disse: você é tão criativa! E sou mesmo, poderia inventar agora um sofrimento tão insuportável que murcharia tudo à minha volta. Mas não quero. E ainda que quisesse, por destino, não posso.
Este musgo entre as pedras não consente, é muito verde. E esta areia. São bonitos demais! À meia-noite o Menino vem, à meia-noite em ponto. Forro o cocho de palha. Ele vem, as coisas sabem, pois estão pulsando, os carneiros de gesso, a estrela de purpurina, a lagoa feita de espelhos.
Vou fazer as guirlandas para Corália enfeitar sua loja. A radiação da “luz que não fere os olhos” abre caminho entre escombros, avança imperceptível e os brutos, até os brutos, banhados. Desfoco um pouco o olhar e lá está o halo, a expectante claridade, em Corália, em Joana com seu marido e em mim, também em mim que escolho beber o vinho da alegria, porque deste lugar, onde “o leão come a palha com o boi“, esta certeza me toma: “um menino pequeno nos conduzirá”.
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Fonte: PRADO, Adélia.
“Filandras”, Editora Record –
Rio de Janeiro, 2001, pág. 111.
Um menino pobrecito
Numa manjedoura
E hoje, nós todos tão faceiros,
A visitar shoppings…
– Eis que salta a pergunta:
Onde o sapatinho,
Na janela?
No quintal?
Ah, o quintal de nossas memórias.
Aqui se vê a estrela de Belém?
– Não. Só o escambo apressado.
Eis-nos diante de abraços não-dados.
Eu os quero.
Dar e receber abraços e afagos.
Eis-nos diante do Amor não recebido.
…
Mas há quem nos diga
Com gestos simples
O que é mesmo essa data.
– Contemplar o milagre
Do Deus-Menino
Num gesto apenas.
Onde o menos vale muito mais.
++++
Feliz Natal, caros leitores.
Paz & Bem.
Em meio à noite, eu me recordo das palavras de um velho escritor português e seu tom arcaico, pronunciado em crônica datada de 1886, a frase não me chega inteiramente como deve ser agora lembrada aos leitores:
“…Dia seguido a dia, melancolicamente, esterilmente, nos foge o tempo… O dia de Natal vai de novo chegar. Com quanta saudade do doce e risonho tempo da minha infância eu o digo! Vai dar a hora de se retirar do presépio iluminado e florido, do centro do grupo orante dos pastores e dos Reis Magos, a sorridente imagem do mimoso e terno Menino destinado a padecer e a morrer crucificado para remir os homens”.
(*) Texto originalmente publicado em 2004, no site Oito Colunas.
Natal!
O Natal de Cristo representa (e deve nos relembrar) a Encarnação de Deus no meio dos homens.
Jesus Cristo, o Nazareno, nasceu numa manjedoura, em Belém da Judéia, como um pequenino ser Humano, que veio para salvar os filhos de Adão. Sua mãe, Maria Santíssima, interecede junto ao Trono do Altíssimo por nós, os degredados filhos de Eva.
É tempo de se entender melhor o aforisma: “non coerceri maximo, contineri tamen a minimo, divinum est – não ser abarcado pelo máximo, mas deixar-se abarcar pelo mínimo, isso é divino”
Desejo um Feliz & Santo Natal aos poucos mas sempre frequentes leitores deste blog.