Meu artigo quinzenal

Contemplando formas eternas

12 de junho de 2020 por Adalberto De Queiroz 1 Comment (Edit)

Como um aprendiz de xadrez que estuda com disciplina os movimentos do jogo, leio Filosofia porque amo ler, sem saber com exatidão qual o meu próximo movimento, e por isso mesmo não alimento a pretensão de entrar em disputa com um oponente real, mas também não abdico de conviver com um adversário imaginário – eu, próprio, que intento sempre sair melhor desse embate.

A Filosofia serve ao meu propósito de aclarar algumas questões da linguagem que, por vezes, parecem difíceis de ser resolvidas quando leio prosa, poesia, política e teologia. E pergunto-me como fugir do dilema poesia ou filosofia?

No ensaio “A tragédia da política”, o escritor Martim Vasques da Cunha (MVC) ilumina “a velha discórdia entre filosofia e poesia”, ao interpretar “o mito da caverna” de Platão. Martim nos fala da necessidade de uma conversão (periagoge), essa “verdadeira reviravolta na alma” que é o “pressuposto para se contemplar as formas eternas e não se preocupar apenas com as aparências”. Enfim, talvez, seja este um falso dilema.

Sou levado a seguir o conselho de MVC, “lidar com a filosofia como se tivesse uma `voz´ que a aproximasse das qualidades da poesia, e não como se fosse um método lógico” e, nunca me esquecendo da máxima heideggeriana, prossigo em busca de minha morada, afinal: “a linguagem é a casa do ser”.

Há muitas vozes a serem ouvidas, na poesia e na filosofia, pois, “na atual sociedade democrática, ´o que nos resta é a disciplina superior do conhecimento`, a única que a unidade da poesia, da filosofia e da política pode nos dar; é a negação de que a determinada forma [deste mesmo] conhecimento se possa atribuir superioridade incontestável”.
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Bergson Express

Henri BERGSON.
Uma série especial do INA.fr.
5 emissões da InaFrançaSobreBergson

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Jacques Émile Blance, estudo – Perfil de BERGSON.

Henri Bergson, pensador e escritor maior das letras francesas, marcará a muitos em França (Jacques Maritain, Étienne Gilson, Jean Guitton), mas também na pátria lusa terá influência sobre figuras tão eminentes como o Cardeal Cerejeira.

Na obra “A Filosofia de Bergson”, escreve Leonardo Coimbra: «A metafísica bergsonista, a sua metafísica integral, é hoje a metafísica de uma realidade criação de almas, trazendo consigo como exigência implícita a matéria e a vida, que acompanhando essas almas, lhe fizeram condições de mérito no esforço, de crescimento na invenção, de heroísmo no amor, capazes para darem às almas o alimento espiritual de uma nova vida, a vida religiosa, com exigências e promessas de infinito e eternidade».

Henri Louis Bergson é o segundo de sete irmãos. Nasce no dia 18 de outubro de 1859, em Paris, no seio de uma família judaica, sendo que seu pai, Michael Bergson, é polaco, professor no Conservatório, e a mãe Katherine Levison, inglesa.

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Bergson é educado nas exigências e práticas do judaísmo. Os primeiros anos são vividos em Londres, mas em 1868 volta a França para frequentar o Liceu Concorcet, onde foi aluno brilhante, distinguindo-se em latim e grego.

Terminados os estudos de Retórica, inicia-se no aprofundamento da Filosofia. Embora dotado para as ciências exatas, como ilustra o prémio recebido em 1877 pela solução de um problema levantado por Pascal e cuja solução seria publicada em 1888 no “Annales Matematiques”, o jovem Bergson vai estudar Filosofia na Escola Normal Superior. Durante estes anos tem como colegas Durkheim, o futuro Cardeal Baudrillard e Jaurés.
LEIA MAIS sobre a vida de H. BERGSON…Fonte no link.
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Fontes: links web citados. E mais – este registro de ina.fr: “En 1966, pour le 25e anniversaire de la mort du philosophe Henri BERGSON, Henri GOUHIER et Pierre TROTIGNON, philosophes, lui rendent hommage dans une série de 5 émissions radiophoniques.
La philosophie de BERGSON reposait sur l’intuition des données de la conscience, dégagées de l’idée d’espace et de la notion scientifique du temps. Ce qu’il a expliqué dans ses ouvrages : “Essai sur les données immédiates de la conscience”, “Matière et mémoire”, “L’évolution créatrice” et “Les deux sources de la morale et de la religion”. Henri GOUHIER, philosophe et témoin de la vie de BERGSON et Pierre TROTIGNON, qui prépare une thèse sur la philosophie de la vie de BERGSON, évoquent leurs souvenirs et vision du grand philosophe.” (c) ina.fr e autores citados.

Motivação, segundo Ortega Y Gasset

Ortega Y Gasset, Um espectador privilegiado e talentoso.
O que é um Homem Culto, qual o papel da Cultura?
“Pienso que no debiera llamarse culto sino al hombre que ha tomado posesión de todo sí mismo. Cultura es fidelidad consigo mismo, una actitud de religioso respeto hacia nuestra propia y personal vida. Decía Goethe que no podía estimar a un hombre que no llevase un diario de sus jornadas. El detalle del diario puede abandonarse; pero reservemos la aguda verdad diamantina que envulve esa frase. Un ser que desprecia su propia realidad no puede ‘verdaderamente’ estimar nada ni haber en él nada verdad. Su ideas, sus actos, sus palabras tendrán sólo una calidad ilusoria: no serán nunca lo que aparentan ser. No por su contenido son reales mi fe o mi duda, sino como trozos de mi vida personal. Un hombre que no cree en sí mismo no puede creer en Dios.
“La norma de llevar un diario que Goethe nos propone es muy significativa. Equivale a la indicación de que no dejemos trasvolar nuestro ayer sin subrayarlo, y a que el mañana, saliéndonos al encuentro, nos halle prevenidos, bien dispuestos los odres para recibir lo que nos traiga. Dando de este modo frecuente reviviscencia a todo lo que fuimos y lo que aspiramos a ser, vivimos en actual y plenaria posesíon de nuestra vida y la hacemos gravitar íntegra sobre cada hora transeúnte.
“Yo creo que todo hombre superior ha tenido esta faculdad de asistir a su propia existencia, de vivir un poco inclinado sobre su propia vida, en actitud a la vez de espectador exigente y de investigador alerta, pronto a corregir una desviación o desperfecto, presto al aplauso y al silbido. Y esto debe ser la vida de cada cual: a la vez un armonioso espectáculo y un valiente experimento.
(1916)

Noite Cultural reúne Schmidt e Ortega Y Gasset

PORQUE A BELEZA FOI FEITA PRA SER ROUBADA….50 Anos da Ausência/Presença escondida de Augusto Frederico Schmidt.

Convite Noite Cultural na Acieg Participe!https://plus.google.com/+AdalbertoQueiroz/posts/MNdESVjfyty

VILÉM FLUSSER (EXCERTOS PART II) – (4)

A POESIA – tem alguma serventia?

Vilém Flusser(1920-1991)

O filósofo tcheco-brasileiro Vilém Flusser

Há futuro para a escrita? – indagava Vilém Flusser em 2010.

HOJE SIGO PERGUNTANDO-ME, lendo e relendo Flusser, quando decrescente é o número de leitores da Poesia. Confira.

“Se tentássemos escrever uma história da percepção a partir da hipótese de que as cores são percebidas de maneira diferente antes e depois de Van Gogh, ela seria uma história da estética, da experiência. Tomemos a nossa experiência amorosa como exemplo.
“É possível reconhecer em nossa experiência amorosa atual concepções de amor elaboradas em Hollywood, que se baseiam naquelas da poesia romântica, que por sua vez foram elaboradas a partir das dos trovadores. Por trás dessas concepções, encontramos a do amor cristão e, anterior a ele, novamente, a dos judeus e dos gregos, até que suas raízes se percam na pré-história. Nessa árvore genealógica das concepções de amor, podemos constatar ramos contíguos como o do Eros platônico, o do amor intellectualis, de Spinoza, ou do amor fati de um Nietzsche. Essa visão histórica leva, porém, a um tipo de darwinismo estético. Nossa próopria experiência amorosa é comparável à experiência amorosa dos gregos antigos tanto quanto a orelha do mamífero em relação à guelra do peixe; ou é comparável à experiência amorosa dos astecas tanto quanto o olho do mamífero em relação ao olho dos insetos. O modelo hollyoodiano parece ser o mais recente e o maior elo de um desenvolvimento linear : imperialismo estético. Nós percebemos melhor e experienciamos melhor do que todas as culturas anteriores e ‘subdesenvolvidas’. O que nós percebemos é o mais verdadeiro. 
E o vento levou...(c)imagem de http://hdwallpapers.be/

O modelo hollywoodiano canaliza a experiência amorosa do presente

“Uma vez que sabemos como os modelos são produzidos, como a poesia é feita, isto é, por meio da computação de modelos anteriors com a inserção de ruídos, tal história da percepção não é mais factível. Não temo diante de nós uma árvore genealógica que se ramifica, mas um leque de modelos que se expande em todas as direções, no qual desenvolvem-se ligações transversais entre os modelos particulares. Pode-se falar de uma variedade de percepções ao invés de progresso da percepção; de um complexo sistema de modelos estéticos ao invés de história da estética. O fato de que, hoje, apenas alguns poucos modelos de experiência dirigem nossa vida não deve ser interpretado historicamente (nem politicamente, como a vitória do mais forte sobre o mais fraco), mas ciberneticamente.

“O modelo amoroso hollywoodiano – não o budista nem o da África Central – canaliza a experiência amorosa do presente, porque os canais da mídia são construídos de acordo com um padrão de fundo histórico e imperialista. Após a superação desse padrão, os canais podem se ligar de outra maneira. Se cabos forem introduzidos, por exemplo, nas mídias, elas poderão transmitir modelos amorosos tanto da África Central quanto os hollywoodianos. Para uma adaptação dessa natureza não é necessária uma revolução histórica (uma revolta dos fracos contras os fortes). Semelhante adaptação já se encontra em curso porque a mídia, de acordo com sua estrutura de comunicação, exige ser sintonizada transversalmente. E, por isso, inúmeros modelos de percepção até então reprimidos já urgem agora nos canais que nos alimentam. Nós já percebemos agora de uma maneira muito mais complexa do que as gerações anteriores. Não só nossa vida amorosoa, como também nossa experiência de cores, sons e sabores tornam-se cada vez mais complexas. Hoje, a poesia, no sentido de construção de modelos de experiência, já começa a se desdobrar, para alcançar, em futuro breve, dimensões até então inimagináveis. Não se pode imaginar tudo aquilo que vamos perceber e viver no futuro.
“Falava-se há pouco acerca de imagens com sons e movimentos. Naturalmente, podemos subsumir a língua falada nessa reflexão e dizer que também a poesia em sentido stricto, a poesia como jogo de linguagem, se desdobrará de maneira impressionante graças à sintonização transversal das mídias em forma de imagens que falam. Poderíamos esperar não só uma nova força de criação poética em imagens e música, como também na língua. Todavia, tudo aquilo que valorizamos na poesia se perderia caso dissociássemos a produção poética do alfabeto?

(à suîvre….segue).

*****
FLUSSER, Vilém. “A Escrita…”, Trad. do alemão por Murilo J da Costa – São Paulo : Annablume, 2010, p.87/88.

Boécio e a Consolação da Filosofia, por César Miranda

TUDO que sabemos é: um dia, morreremos. 

Death And Life, by G Klimt

Gustav Klimt


E o que fazemos quanto a isso? Muito pouco, quase nada (quando muito evitar o assunto).
No post em referência (link) , César Miranda mostra ao Leitor(a) como Boécio escreveu “A Consolação da Filosofia”, com profunda calma e tranquilidade, mesmo condenado à espera da Morte, no fundo de sua cela – “sem tons de ressentimento ou tristeza, sem súplica ou proselitismo. sem súplica nem proselitismo” – um livro fundamental para todos os que amamos a Literatura e a Filosofia.

E se por Boécio choramos, lembremo-nos com CM do dever de “agradecer a Deus pela condenação injusta que o autor sofreu, única razão do livro existir, se esquecendo que esta é uma das grandes especialidades de Deus: tirar do mal um bem tão infinitamente maior, a ponto de agradecermos pelo mal sofrido. O Livro!”

Todos já recebemos “a pena de morte”.  E César dá a sentença para o futuro dos que vamos morrer:

“Não há um que já não esteja apenas esperando o dia. Ninguém sabe que dia é esse, mas a execução de tal pena é certíssima. Quando sentaremos em nossa cela e produziremos o nosso A Consolação da Filosofia? (…)

“Pois bem, o livro que você escreverá ou o que eu escreverei, se escrevermos, não sei como será, mas o de Boécio é um dos melhores já escritos na história.”

Neste post primoroso, uma amostra do talento de meu amigo César.

A PENA

TUDO que sabemos é: Um dia, morreremos. E o que fazemos quanto a isso?

– Muito pouco, quase nada. Neste post , César Miranda mostra ao Leitor(a) como o filósofo BOÉCIO escreveu, com profunda calma e tranquilidade, do fundo de sua cela , “sem súplica nem proselitismo” – um livro fundamental para todos os que amamos a Literatura e a Filosofia. E se por Boécio choramos, lembremo-nos com CM que “esta é uma das grandes especialidades de Deus: tirar do mal um bem tão infinitamente maior, a ponto de agradecermos pelo mal sofrido”.
Eis porque César ousou dizer dessas “Consolações…”(Boécio): Eis o Livro! (com exclamação e tudo, sim senhores!).

Pró Tensão

ArquivoExibir

O filósofo, estadista e teólogo romano Boécio escreveu, no século VI, seu livro “A Consolação da Filosofia” na prisão enquanto esperava pelo cumprimento da pena de morte a que fora condenado. A chegada da morte pode nos fazer criar juízo, se interessar pelo que realmente interessa e até virar santo. O que não entendemos é o óbvio: todos nós recebemos à pena de morte. Não há um que já não esteja apenas esperando o dia. Ninguém sabe que dia é esse, mas a execução de tal pena é certíssima. Quando sentaremos em nossa cela e produziremos o nosso A Consolação da Filosofia? Pois bem, o livro que você escreverá ou o que eu escreverei, se escrevermos, não sei como será, mas o de Boécio é um dos melhores já escritos na história. Não é sem justiça que o livro está em toda lista de livros fundamentais que se encontre. Mesmo que as…

Ver o post original 357 mais palavras

Entendendo Edmond Husserl (2)

SEMPRE com respeito às fontes e fazendo deste blog um Caderno de anotações…

“Mind and body” – por David Woodruff – pp. 323-393

“Fenomenologia, a ciência da consciência, seria de toda a filosofia.

No entanto, quando olhamos de perto o que Husserl diz sobre a mente e o corpo, quando lemos Husserl com um olho para o problema mente-corpo, por si só, a sua metafísica parece muito diferente. Husserl formou uma ontologia intricada da mente e do corpo, coordenada com uma rica fenomenologia da nossa consciência do corpo e da mente, bem como uma epistemologia dos tipos de evidências que temos sobre o corpo e a mente. Proponho escavar e reconstruir essa ontologia da mente e do corpo de Husserl, juntamente com a fenomenologia de coordenadas.

O resultado é um monismo de substratos (indivíduos ou eventos) e um pluralismo de essências, bem como os sentidos, do corpo e da mente (que podem ser aplicadas aos mesmos indivíduos ou eventos). Este monismo de muitos aspectos (o termo não é de Husserl) é obscurecido pela superestrutura de Husserl – “idealismo transcendental“, que não se define bem no fundamento monista. Vamos retirar (em certo sentido, desconstruir) essa superestrutura, revelando e restaurando o monismo subjacente.”

Woodruff Smith, David. “Mind and body”, The Cambridge Companion to Husserl. Ed. Smith, Barry, and David Woodruff Smith. 1st ed. Cambridge: Cambridge University Press, 1995. pp. 323-393. Cambridge Companions Online. Web. 12 August 2014. http://dx.doi.org/10.1017/CCOL0521430232.008

THE MIND-BODY PROBLEM IN HUSSERL

Husserl is often read as an idealist, more like Kant than Berkeley, or else as a dualist, with epistemological motivations like those of Descartes. It would be only fitting for Husserl then to set aside the physical world and study pure consciousness. Phenomenology, the science of consciousness, would become the whole of philosophy.

However, when we look closely at what Husserl says about mind and body, when we read Husserl with an eye to the mind-body problem per se, his metaphysics looks very different. Husserl fashioned an intricate ontology of mind and body, coordinated with a rich phenomenology of our awareness of body and mind, as well as an epistemology of the kinds of evidence we have about body and mind. I propose to excavate and reconstruct Husserl’s ontology of mind and body, along with the coordinate phenomenology. The result is amonism of substrata (individuals or events) and a pluralism of essences, as well as senses, of body and mind (which may apply to the same individuals or events). This many-aspect monism (not Husserl’s term) is obscured by the superstructure of Husserl’s “transcendental idealism,” which does not set well on the monistic foundation. We shall remove (in a sense, deconstruct) that superstructure, revealing and restoring the underlying monism.

David Woodruff Smith. (1995). Mind and body. In: Barry Smith and David Woodruff Smith (eds.) The Cambridge Companion to Husserl. pp. 323-393. [Online]. Cambridge Companions to Philosophy. Cambridge: Cambridge University Press. Available from: Cambridge Companions Online <http://dx.doi.org/10.1017/CCOL0521430232.008> [Accessed 12 August 2014].

Mendo Henriques, Martin Buber: “Eu E Tu”

 

Já tratei aqui no blog do pensamento do judeu austríaco Martin Buber (1878-1965).

Agora, deixo com vocês uma apresentação em SlideShare do escritor e filósofo português Mendo Castro Henriques, autor de “Filosofia Política em Eric Voegelin: Dos Megalitos à Era Espacial”; como também líder do Site “Olá, Consciência!

Mendo Henriques, Martin Buber: “Eu E Tu”

 

Já tratei aqui no blog do pensamento do judeu austríaco Martin Buber (1878-1965).

Agora, deixo com vocês uma apresentação em SlideShare do escritor e filósofo português Mendo Castro Henriques, autor de “Filosofia Política em Eric Voegelin: Dos Megalitos à Era Espacial”; como também líder do Site “Olá, Consciência!