O título original desta era “O milagre da Mestra”, mas parece que os editores não acreditam em milagres…

O milagre da Mestra
Por Adalberto de Queiroz, especial para O POPULAR
Daqui a cinco dias, manda o calendário oficial que formalmente nos lembremos do Professor, afinal é o dia dedicado a este profissional, esquecido em quase todos os outros 364 dias do ano. Faço, pois, desta crônica, uma pauta específica: honrar os professores que eu tive e que, por seu trabalho e dedicação, geraram neste aluno um admirador eterno.
Quando penso no filme com Sidney Poitier “Ao mestre com carinho” (To Sir with love, no original), penso nos professores e professoras da minha infância e adolescência, naquele meu tempo de dura formação em Anápolis. Penso no consagrado ator do filme que retomo hoje – Sidney Poitier, que foi um ator, diretor, autor e diplomata norte americano (pelas Bahamas), que faleceu em janeiro deste 2022.
Naquele tempo, em Anápolis, eu tinha na escola e nos estudos a minha maior esperança – sair do orfanato e ter direito a uma vida digna em algum lugar no mundo. No filme, tomamos conhecimento de pessoas revoltadas e depois apaziguadas pelo talento de um professor negro; com o reforço da música tão bem interpretada por Lulu, “To Sir with Love”. Quantas memórias isso tudo nos traz quando revemos o filme ou voltamos a ouvir a música-tema da fita.
Eu me lembro de alguns professores como aquele de nome alemão, professor Hegel, sim, homônimo do filósofo germânico. A principal característica dele e que me marcou para a vida era a de um disciplinador gentil, formal, mas sempre gentil. Quantas filas tive que seguir e quantos horários cumprir baseados nas exigências do professor Hegel pelo que lhe sou grato por toda a vida.
A minha primeira professora, Lia, era doce e gentil e não posso esquecer-me da afeição quase materna com que tratou o menino órfão que eu era, sem recursos, sem eira nem beira, mas faminto de aprender as primeiras letras. Depois, a baiana Dona Anézia, de quem já falei com meus benévolos leitores aqui mesmo neste espaço, sob o título de “lembranças vestidas num mané pelado”
Hoje minha homenagem vai para uma pessoa muito especial que a vida me proporcionou reencontrar quando adulto. Falo de Ercília Macedo-Eckel, da Academia Feminina Goiana de Letras e Artes de Goiás. Que alegria reencontrar a professora Ercília, pelas mãos do saudoso Anatole Ramos. A exigente e disciplinadora mestra era também uma espécie de tia amorosa, que tinha olhares para o pouco que tínhamos de bom em nossas naturezas falhas. Tal como no poema “A oração da mestra”, da poetisa chilena Gabriela Mistral:
“Senhor, Tu que ensinaste, perdoa que eu ensine; que leve o/nome de mestra, que Tu levaste pela Terra. (…)/Dá-me o ser mais mãe que as mães, para poder amar e defender como estas o que não é carne de minha carne. Dá-me que alcance/a fazer de uma de minhas crianças meu verso perfeito e a deixar-lhe cravada minha mais penetrante melodia, para quando meus lábios não cantem mais.”
E o milagre se deu. O menino tímido que se esforçou por manter as melhores notas da classe e garantir a bolsa de estudos Colégio Couto Magalhães, talvez o melhor do estado à época, continua ressoando em sua alma a melodia da mestra inesquecível em crônicas e poemas.
Gratidão à autora de “Portais da viagem” com quem hoje convivo sob a ordem da amizade, aquela que leu com mais generosidade meus livros de poesia, mas, principalmente, como a que me concedeu o direito de herdar boa parte de seus livros; e entre estes o importante estudo sobre “Maíra” (de Darcy Ribeiro), romance do qual retirei o nome de minha primeira filha.

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