Adeus a J.O. de Meira Penna (14/3/1917-29/7/2017)

O adeus! a Meira Penna.

O pacto de silêncio em torno da obra deste grande brasileiro, falecido ontem com a idade de um século, parece rondar até sua própria morte. É fato. A cobertura é defeituosa e indevida para a dimensão da personagem – Meira Penna, mas a imprensa de viés esquerdista não quer saber sobre os livros, o pensamento e, tampouco, sobre o obituário se desconhecem (ou desdenham o autor por sentirem-se opostos no plano das ideias) – desconhecem “o nariz do morto“…

Primeiro soube da notícia por mídias alternativas – O Antagonista, o blog do Rodrigo Constantino na Gazeta do Povo e, na mídia tradicional, um obituário pobre em O Estado de São Paulo.

Assim cobriram a morte de J.O. de Meira Penna (veja fotos e notas abaixo).
Mas, antes, a quem interessar possa, meus dois livros favoritos, disponíveis em pdf nos links que se seguem.
1 – Dinossauro – sobre o Estado brasileiro.

2 – Em berço esplêndido. Ensaios de psicologia coletiva brasileira. 2a. ed. 1999.
Deste, volto com mais notícias depois do luto pelo gigante que não pode ser esquecido – J.O. de Meira Penna. Espero pautar os amigos de Liberesfera/Libertatum.
Capa de Em berço esplêndido_Meira PennaPara visualizar ou baixar o livro em formato PDF, clique sobre a figura da capa.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A cobertura campenga.

O Antagonista. Nota curta, mas certeira e imediata, 29/7/17, 20h03.

Blog do Constantino.Obituário de Meira Penna 1

  • Link para a matéria no blog do Constantino.
  • Estadão destaca o embaixador e “se esquece” do escritor, com uma pífia referência à imensa obra de Meira Penna.
    Obituário de Meira Penna 2.JPG
  • N´O Globo não uma linha sobre o evento – nem obituário, nem nota literária.
  • Na Folha de São Paulo, idem – pesquisa retorna zero!
    Obituário de Meira Penna 3.JPG
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“Porque estás vivo aqui, agora e sempre…” Adeus, poeta!

IVAN JUNQUEIRA, 1934-2014, poeta e tradutor, autor entre outros de “Os Mortos” (1964), “Três Meditações na Corda Lírica” (1977), “A Rainha Arcaica” ( 1980). Tradutor a quem devemos o melhor de T.S. Eliot em português – “Quatro Quartetos” (1967) e T.S.Eliot Poesia Completa (1981) e os Ensaios (1991). Para consultar uma 
bibliografia completa visite este link da ABL.

No último dia 03 de julho, em meio às notícias geradas pela Copa do Mundo da Fifa/14, somos comunicados da morte do poeta Ivan Junqueira. Entre os inúmeros obituários, dou a preferência a este, escrito no website do colégio em que o poeta fez seus primeiros estudos – o Colégio Notre Dame de Ipanema no Rio de Janeiro.

Membro da Academia Brasileira de Letras, o ex-aluno do Notre Dame, estudou Medicina e Filosofia, sem terminar os cursos, voltando-se ao chamado das letras na imprensa e como tradutor e, principalmente, poeta. Dele disse o presidente da ABL, ao saber de seu passamento: “…grande poeta, mestre indiscutível nas artes do ensaio crítico e da tradução literária, Ivan deixa um legado que enriquece a nossa tradição e a história literária do Brasil.”

Li pela vez primeira os poemas de Ivan na década de 80, com o belo volume de “A rainha arcaica”.

Dentro do volumezinho lido e relido – tantas vezes assustado com a grandeza do poeta, que me deixa(va) envergonhado de me pretender poeta, encontro um recorte da Folha de S.Paulo, em que Nogueira Moutinho exalta a poesia de Ivan, com frase lapidar:

“O poeta pertence, realmente, à família dos que preferem sugerir e entremostrar em vez de praticar uma incisão nítida na  placa metálica da linguagem. Não é um gravador, é antes um debuxador de ‘fusains’. Nesses desenhos a carvão que são alguns de seus poemas, eu destacaria as ‘Três Meditações na Corda Lírica”, sobretudo a primeira, em que Ivan Junqueira parece delinear os princípios de sua arte poética, fora do tempo, mas no tempo audível” .

Talvez por essa observação gravada no recortezinho, apaixonei-me pelo poema, que reproduzo aqui  – como minha forma de dizer Adeus ao poeta Ivan e aos leitores: sei que o poeta está vivo…

Ivan Junqueira

Três Meditações na Corda Lírica (1)

(À Margarida)

“Only trough time time is conquered” (T.S.Eliot, Four Quartets, Burnt Norton, 92).

Deixa tombar teu corpo sobre a terra
e escuta a voz escura das raízes,
do limo primitivo, da limalha
fina do que é findo e ainda respira.

O que passou (não tanto a treva e a cinza
que os mortos vestem para rir dos vivos)
mais vivo está que toda essa harmonia
de claves e colcheias retorcidas,
mais vivo está porque o escutas limpo,
fora do tempo, mas no tempo audível
de teu olvido, partitura antiga,
para alaúde e lira escrita, timbre
que vibra sem alívio no vazio,
coral de sinos, música de si
mesma esquecida, aquém e além ouvida.

O que passou (à tona, cicatriz)
é dor que nunca dói na superfície,
ao nível do martírio, mas na fibra
da dor que só destila sua resina
quando escondida sob o pó das frinchas
e que, doída assim tão funda e esquiva,
é mais que dor ou cicatriz: estigma
aberto pela morte de outras vidas
nas pálpebras cerradas do existido,
espessa floração de espinhos ígneos,
solstício do suplício, dor a pino
de te saberes resto de um menino
que anoiteceu contigo num jardim
entre brinquedos e vogais partidas.

E tudo é apenas isso, esse fluir
de vozes quebradiças, ida e vinda
de ti por tuas veias e teus rios,
onde o tempo não cessa, onde o princípio
de tudo está no fim, e o fim na origem,
onde a mudança e movimento filtram
sua alquimia de vigília e ritmo,
onde és apenas linfa e labirinto,
caminho que retorna ao limo, à fina
limalha do que é findo e ainda respira
para depois, o mesmo, erguer-se a ti,
ao que serás, porqu estás vivo aqui,
agora e sempre, antes e após de tudo.

Deixa tombar teu corpo e te acostuma,
húmus, à terra – útero e sepulcro.
+++++
Fonte: JUNQUEIRA, Ivan. “A rainha arcaica”, Rio de Janeiro, Nova Fronteira Edit. , 1980.

“Porque estás vivo aqui, agora e sempre…” Adeus, poeta!

IVAN JUNQUEIRA, 1934-2014, poeta e tradutor, autor entre outros de “Os Mortos” (1964), “Três Meditações na Corda Lírica” (1977), “A Rainha Arcaica” ( 1980). Tradutor a quem devemos o melhor de T.S. Eliot em português – “Quatro Quartetos” (1967) e T.S.Eliot Poesia Completa (1981) e os Ensaios (1991). Para consultar uma 
bibliografia completa visite este link da ABL.

No último dia 03 de julho, em meio às notícias geradas pela Copa do Mundo da Fifa/14, somos comunicados da morte do poeta Ivan Junqueira. Entre os inúmeros obituários, dou a preferência a este, escrito no website do colégio em que o poeta fez seus primeiros estudos – o Colégio Notre Dame de Ipanema no Rio de Janeiro.

Membro da Academia Brasileira de Letras, o ex-aluno do Notre Dame, estudou Medicina e Filosofia, sem terminar os cursos, voltando-se ao chamado das letras na imprensa e como tradutor e, principalmente, poeta. Dele disse o presidente da ABL, ao saber de seu passamento: “…grande poeta, mestre indiscutível nas artes do ensaio crítico e da tradução literária, Ivan deixa um legado que enriquece a nossa tradição e a história literária do Brasil.”

Li pela vez primeira os poemas de Ivan na década de 80, com o belo volume de “A rainha arcaica”.

Dentro do volumezinho lido e relido – tantas vezes assustado com a grandeza do poeta, que me deixa(va) envergonhado de me pretender poeta, encontro um recorte da Folha de S.Paulo, em que Nogueira Moutinho exalta a poesia de Ivan, com frase lapidar:

“O poeta pertence, realmente, à família dos que preferem sugerir e entremostrar em vez de praticar uma incisão nítida na  placa metálica da linguagem. Não é um gravador, é antes um debuxador de ‘fusains’. Nesses desenhos a carvão que são alguns de seus poemas, eu destacaria as ‘Três Meditações na Corda Lírica”, sobretudo a primeira, em que Ivan Junqueira parece delinear os princípios de sua arte poética, fora do tempo, mas no tempo audível” .

Talvez por essa observação gravada no recortezinho, apaixonei-me pelo poema, que reproduzo aqui  – como minha forma de dizer Adeus ao poeta Ivan e aos leitores: sei que o poeta está vivo…

Ivan Junqueira

Três Meditações na Corda Lírica (1)

(À Margarida)

“Only trough time time is conquered” (T.S.Eliot, Four Quartets, Burnt Norton, 92).

Deixa tombar teu corpo sobre a terra
e escuta a voz escura das raízes,
do limo primitivo, da limalha
fina do que é findo e ainda respira.

O que passou (não tanto a treva e a cinza
que os mortos vestem para rir dos vivos)
mais vivo está que toda essa harmonia
de claves e colcheias retorcidas,
mais vivo está porque o escutas limpo,
fora do tempo, mas no tempo audível
de teu olvido, partitura antiga,
para alaúde e lira escrita, timbre
que vibra sem alívio no vazio,
coral de sinos, música de si
mesma esquecida, aquém e além ouvida.

O que passou (à tona, cicatriz)
é dor que nunca dói na superfície,
ao nível do martírio, mas na fibra
da dor que só destila sua resina
quando escondida sob o pó das frinchas
e que, doída assim tão funda e esquiva,
é mais que dor ou cicatriz: estigma
aberto pela morte de outras vidas
nas pálpebras cerradas do existido,
espessa floração de espinhos ígneos,
solstício do suplício, dor a pino
de te saberes resto de um menino
que anoiteceu contigo num jardim
entre brinquedos e vogais partidas.

E tudo é apenas isso, esse fluir
de vozes quebradiças, ida e vinda
de ti por tuas veias e teus rios,
onde o tempo não cessa, onde o princípio
de tudo está no fim, e o fim na origem,
onde a mudança e movimento filtram
sua alquimia de vigília e ritmo,
onde és apenas linfa e labirinto,
caminho que retorna ao limo, à fina
limalha do que é findo e ainda respira
para depois, o mesmo, erguer-se a ti,
ao que serás, porqu estás vivo aqui,
agora e sempre, antes e após de tudo.

Deixa tombar teu corpo e te acostuma,
húmus, à terra – útero e sepulcro.
+++++
Fonte: JUNQUEIRA, Ivan. “A rainha arcaica”, Rio de Janeiro, Nova Fronteira Edit. , 1980.