Último dia em Lisboa. Uma semana que correu…
É tarefa refletir sobre tudo que vivemos nesses sete dias de viagem a Portugal o que deverá trazer mais densidade a essas notas. Por ora, fico com as impressões que ainda estão por assim dizer à flor da pele…
(…)
Parei nessa frase, porque a correria desses dias nos levou à exaustão até que tivéssemos que acordar cedo para voltar ao aeroporto de Lisboa e desde aí voltar a Brasília em 9 horas…Ora, pois, a good trip!
[ para ler com um fado de background, clique aqui https://dl-web.dropbox.com/get/02%20Saudades%20Do%20Brasil%20Em%20Portugal.m4a?w=d462b960 ]
No calor do meu lar, em dia chuvoso e com um delay de 3 horas gravadas no “burrinho do meu corpo” (como dizia S.Francisco) já em Goiânia, um dia depois, posso retornar a essas notas para dizer aos meus 3 leitores que foi uma alegria enorme retornar a Portugal.
Aí o retornar é também verbo intransitivo. Amamos e pronto!, como dizem os pernambucanos, copiando os ancestrais portugueses, sem o mesmo ritmo e doce melancólia da velha Lisboa ou do berço da lusofonia na capital cultural da Europa 2012 (onde também estivemos): Guimarães, e onde fomos calorosamente recebidos na ACIG (Associação Comercial de Guimaráes), como em Lisboa e no Alentejo e Aveiro e partout en Portugal…
E daqui do meu canto de leitura e boas lembranças, lembro-me do homem do mundo e cearense-português GERARDO Mello Mourão que me permite dizer poeticamente (eu também): vimos a serrra da Estrela, depois que o infante Dom Henrique inventou a escola e a pedra de Sagres, porque “em todo o Mar Oceano não havia navios latinos/senão as caravelas do Portugal e Algarve” e agora há a TAP a nos transportar em 9h desde Brasília:
“E agora tu, Diôniso, me ensina,
E tu, Isabel, canta-me o mote
para este cantar – pois vou cantar
O mar, a terra e as mulheres e os homens
a parição e a aparição do mundo.
Tu, Senhor creaste o planeta
e eles inventaram as terras e os mares
o Oceano com suas ilhas, suas palmeiras, seus viventes.”
E porque estamos ao leste do jardim do Éden, relembramos com alegria atravessar o mar tão rápido quanto a imaginação lusitana da Conquista jamais imaginara e ver que só a creação nos une tão fraternamente:
“A leste do jardim do Éden começaste o mundo
e o Infante em sua pedra sobre
as águas de Portugal
lançou a pedra fundamental de outro mundo
e marcou suas partes de terra e suas partes de água
os caminhos dos quatro
pontos cardeais.”
E eis-nos aqui saudosos de um lado e outro, entoando o fado – que de vez em quando nos irmana ao samba-canção, como chinelas e sandálias da humildade de um povo que chora e constrói futuro como irmãos. Não há quem nos valha na adversidade senão que nossa própria irmandade – Brasil e Portugal unidos mesmo que o euro acabe (com 2 trilhões de Euros perdidos a Europa unida parece sonho perdido, pois como bom profeta Ortega Y Gasset já o advertira (em 1930):
“…a Europa não é uma coisa mas um equilíbrio” um equilíbrio que não passa pela ilusão esquerdista da unicidade e sim por ter sido ‘the great secret of modern politics’ (Robertson).
“Segredo grande e paradoxal, sem dúvida! (acentua Gasset)… porque “o equilíbrio ou balança de poderes é uma realidade que consiste essencialmente na existência da pluralidade. Se esta pluralidade se perdesse, aquela unidade dinâmica esvanecer-se-ia. Europa é, pois, com efeito, um enxame: muitas abelhas e um só voo. Este carácter unitário da magnífica pluralidade europeia é o que eu chamaria a boa homogeneidade, a que é fecunda e desejável, a que já fazia dizer a Montesquieu: ‘L’Europe n’est qu’une nation composé de plusieurs’, e fazia falar a Balzac, mais romanticamente…” (como bom romancista e leitor d’almas, digo eu):
“…L’Europe: la grande famille continentale, dont tous les efforts tendent à je ne sais quel mystère de civilisation”.
Bem, e isso tudo para o primeiro post da volta ao Brasil, publicado quando está sendo posto à prova o “homem-massa” que nos advertia Ortega Y Gasset que parece crescer sua voz nas libertinagens do ‘ocupemos’ x ou y espaço com sua alma oca… E há de desmoronar!
Até breve, Portugal. Obrigado a meus 3 leitores por terem voltado aqui.
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Fontes: “MOURÃO, Gerardo Mello. “Invenção do Mar”. Ed.Record. Rio de Janeiro, 1997. pág.58-61. ORTEGA Y GASSET, José. “A Rebelião das Massas”, Antropos/Relogio d’Agua Ed., s/data, pág.12-15.
Letra do Fado de Filipe Acácio (sem declaração de co-autorias no cd):
O sal
Das minhas lagrimas de amor
Criou o mar
Que existe entre nós dois
P’ra nos unir e separar
Pudesse eu te dizer
A dor que dói, dentro de mim
Que mói meu coração
Nesta paixão, que não tem fim
Ausência tão cruel
Saude tão fatal
Saudades do Brasil, em Portugal
Meu bem
Sempre que ouvires um lamento
Chorar desolador, na voz do vento
Sou eu em solidão, pensando em ti
Chorando todo tempo que perdi.
(*)Se o link não funcionar, tente este http://www.youtube.com/watch?v=E0mik9QuPpU
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