O temor ao Grifo
“…encolhe-se o animal nas entrelinhas,
e ri-se a sós de quem, por estar vivo,
faz da poesia um desafio e um risco.” (Ivan Junqueira).
Dizer o quê – do posto em que me vejo?
– Todo dia ler um pouco e estar a postos.
Não é o rio de minha aldeia nenhum Tejo.
Restam-me esses parcos versos compostos.
Digo do ponto de vista em que me vejo:
Ler e reler o mesmo livro, au rez-de-chaussée
‘Vehementius et pronfundius‘ – é meu desejo.
Confissão de leitor, doravante réu do escrever.
Ler e reler o mesmo livro de alto a baixo,
antes de o véu noturno cobrir-me o rosto
de solidão e medo qual a Ciência amarga.
Seguir incólume à fera que nas dobras do livro
A poesia abafa; ah, sede que o Grifo encolhido;
Sobranceiro, ameaça quem, sedento, vá ao poço.
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Goiânia, abril 2016.