
Alain Chartier (circa 1380-1433).
Alain CHARTIER , poeta e diplomata francês do séc. XV, foi também um orador célebre – considerado “o Sêneca Francês”. Dele sabemos ter nascido em Bayeux, cerca de 1380. Viveu, pois, no séc. XV – portanto, no chamado outono da Idade Média e madrugada do Renascimento. Teria o poeta sido beijado (enquanto dormia). Margaret da Escócia ? Teria conhecido o primeiro lírico da França e seu contemporâneo François Villon? essas e outras questões nascem da observação do quadro pintado por Edmund-Blair “Alain-Chartier-and-Margaret-of-Scotland” (foto 1).
Chartier viveu no séc. XV – portanto, no chamado outono da Idade Média e madrugada do Renascimento – época que o mestre Segismundo Spina diz viver “ainda o Primado Italiano” (na obra-prima “A cultura literária medieval”, de 1997).
Já com mais precisão, acentua a sisuda Britannica que, em 1417, como secretário do rei Carlos VI, em virtude da invasão inglesa em França, e pela reação “bourguignonne” ao reinado (Borgonha), segue com a Corte para a Alta Normandia, e continua seu ofício de escritor no estilo dos poemas corteses da época. Em 1422, os males políticos de sua pátria, levam-no a escrever “O Quadrílogo” (Le Quadrilogue) sob forte influência de Sêneca e da oratória Latina antiga. Por sua técnica e estilo, Alain Chartier será conhecido em França como “O Pai da Eloquência“.
Alain Chartier morre por volta de 1449.
Foto 1. Chartier e Margareth da Escócia*.
Chartier, se perguntado em um balanço final: “o que fizeste de tua vida?” – teria muito a responder. Não sabemos ao certo, contudo, se Margaret da Escócia teria mesmo beijado o poeta enquanto dormia. Seria mais assunto para colunas sociais e não para a história da literatura francesa. Sabemos que o poeta-diplomata lá esteve para negociar o casamento desta com o futuro Luís XI.
Provavelmente, Chartier viu (santa) Joana D’Arc ser queimada viva (1431). Da santinha camponesa (santa, sim, para os católicos simples e o polemista Bernanos, não para o pessoal da Igreja e os combatentes que a traíram, entregando-a aos ingleses). Georges Bernanos que nos legou “Joana, relapsa e Santa” como o modelo da infância e da coragem dos que crêem – afinal “o coração do mundo está sempre batendo…A infância é esse coração”). Dela mesma, a “santa relapsa” teria dito o poeta Chartier:
“Deixe Tróia celebrar Heitor, deixe a Grécia orgulhar-se de Alexandre, a África, de Aníbal, a Itália, de César e de todos os generais romanos. A França, embora conte com muitos destes, pode bem contentar-se apenas com sua donzela” – (Alain Chartier).
Teria Chartier copiado outro poeta ? Teria sido Baudet Herenc o verdadeiro autor da Balada original (como deixa crer um certo Piaget)?
Teria o poeta visto (e lido) o ‘baladeiro‘-mor de sua época, Monsieur François Villon? – ele Villon que se desgarrou de seus confrades da épcoa para o panteão da Literatura Francesa com “o maior lírico da Idade Média”?
– São perguntas que nos fazemos os que amamos a idade Média, quando pagamos o preço da honestidade intelectual e não, simplesmente, compramos a balela jornalística de que teria sido uma época de trevas – mentira difundida à exaustão de se transformar em verdade, após a revolução Francesa e repetida hoje por neo-ateístas que se consagram como medievalistas – argh!
“O ingresso na cultura medieval, em especial a literária – ressalta o mestre Spina – “não se faz sem pagarmos um pesado tributo; a compreensão dos valores dessa época exige do estudioso uma perspectiva ecumênica, pois as grandes criações do espírito medieval – na arte, na literatura, na filosofia – são frutos de uma coletividade que ultrapassa fronteiras nacionais. E uma visão de conjunto só se adquire depois de muitos anos de trato e intimidade.” (Segismundo Spina).
A Balada dos Enforcados (La Ballade des Pendus) é publicada em 1462. Está definitivamente no cânone da poesia e da história de França. E, Chartier, oh, pobre poeta menor, nem sequer, no meu tempo de Alliance Française, citado pelo guia de Thoraval (Jean) – Les Grandes Etapes de la Civilization Française. Dommage.
Por uma dessas coincidências literárias, no entanto, Chartier desperta diante do olhar deste sexagenário com tão grata e forte referência, a partir de um inglês – um talentoso poeta morto precocemente aos 26 anos de idade – John Keats (oops! havia escrito Jean!) que reinventa a balada, mesmo sendo conhecido mais por sua Odes… isso já é bem outra estória.
Para ler John Keats que em Chartier se inspirou, veja poema transcrito abaixo e recorra a dois bons sites de traduções de Keats em português: Escamandro e J. Keats on Tublr.
Voltemos às baladas. Primeiro a beleza do manuscrito. Só isso valeria ao bibliófilo a pesquisa mas há mais. Ainda estou à procura de uma tradução do longo poema de Chartier para o português.
Por segundo, e não menos importante, porque o original de Chartier é a inspiração para o poeta inglês, ressalta a Biblioteca de Chetham que é um manuscrito está em distintivo e formosamente executada por mão ‘bastarda’, criação típica das produções literárias francesas do século XV, e é indubitavelmente o resultado de uma comissão de um mecenas rico, com bom pergaminho, margens largas e colorido que ilumina a decoração.

Foto 2. Manuscrito do poema de Chartier, Chetham Library.
(c)Fotos: 1 – Encyclopædia Britannica Online. Web. 26 Dec. 2015. (Alain-Chartier-and-Margaret-of-Scotland-painting-by-Edmund-Blair).
Foto 2 – manuscrito do poema de A. Chartier do website da Chethams Library UK.
La Belle Dame sans Merci: A Ballad
NOTES: POL participants and judges: in this poem’s third-to-last stanza, recitations that include “Hath thee in thrall!” or “Thee hath in thrall!” are both acceptable.
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Fonte para J. Keats: Selected Poems (Penguin Classics, 1988).