Encare toda aquela coisa sobre janeiro: a cabeça velha voltada para trás, a nova, para a frente. Observamos o que se passou, projetamos algo novo – decisões de ano novo. Quão novo? Quão velho? Caberá ao leitor decidir como fazer o balanço do ano velho e projetar o novo.
Nesta crônica inicial na #Recorte Lírico, o poeta inglês Robert Graves dá o tom e Santo Agostinho o expande.
É hora de firmar nossos propósitos para o novo ano. Avante.
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Palestra sobre viagem & literatura
Ontem tive a honra de ministrar uma palestra sobre um tema que muito me atrai – “Literatura & Viagem. Nos rastros de James Joyce em Trieste”.
Abaixo, o arquivo (formato pdf) da palestra e algumas fotos da viagem e do evento.
Clique no link abaixo para ver os slides da palestra>>>>
Palestra Viagem e Literatura: nos rastros de James Joyce em Trieste
Na plateia, uma ouvinte muito especial, que quase não comparece a eventos culturais – minha Helenir Queiroz.
V.S. Naipaul (3)
Henry James como confidente…
Kazuo Ishiguro (I)
Para ler a coluna DESTARTE de hoje, 02 NOV 2017, peço ao distinto leitor que clique na imagem abaixo que o levará ao link do Jornal Opção Cultural (Goiânia). Dedico-me a entender as conexões do romance “O gigante enterrado” (Kazuo Ishiguro, 2015) – Nobel de 2017; e as relações entre esquecimento e a paz (entre os casais e as Nações). Aproveite, dileto Leitor.
Obrigado.
Um soneto escrito em 15 minutos permanece vivo há dois séculos
SIM, quinze minutos teria sido o tempo que levou Keats para escrever um soneto que é hoje um clássico. Isso é que nos conta Péricles Eugênio da Silva Ramos sobre este soneto abaixo, traduzido pelo próprio autor da introdução ao volume de Poemas do inglês KEATS e cujo original vai abaixo transcrito, após a tradução.
O original do poema “On the Grasshoper and Cricket” teria sido escrito por John Keats em uma competição havida na casa do poeta, ensaísta e jornalista Leigh Hunt. Este – um dos poucos amigos que Keats fez no mundo da literatura inglesa – teria proposto o tema “o canto do grilo” e se considerado batido pelo amigo Keats. O hoje famoso “O Gafanhoto e o Grilo” não foi o único poema gerado em competição.
Há, segundo Péricles Eugênio, também o famoso soneto “To the Nile” (Ao Nilo), em que este teria aparentemente superado Shelley, em 1818 – mas onde quem teria saído vitorioso fora o amigo jornalista-poeta (Hunt).
A tradução de Péricle Eugênio de “Sobre o Gafanhoto e o Grilo”
Original de “On the Grasshoper and Cricket”
***********por John Keats.
A poesia da terra nunca, nunca morre:
Quando ao vigor do sol languesce a passarada
E se abriga nas ramas, um zizio corre
De sebe em sebe, em torno à várzea já ceifada;
É o gafanhoto, que a assumir o mando acorre
No fausto do verão; e nunca dá parada
Ao seu prazer, pois de erva amável se socorre
Para descanso, ao fim de sua alegre zoada.
A poesia da terra nunca se termina:
Do inverno em noite só, quando com a geada cresce
O silêncio, do fogão se ergue de repente
O zinido do grilo, sempre mais ardente,
E para alguém zonzo de sono ele parece
O gafanhoto em meio à relva da colina.
ORIGINAL do poema
“On the Grasshopper and Cricket”
Fonte: KEATS, John. Poemas de John Keats, trad. introdução e notas de Péricles Eugênio da Silva Ramos. – São Paulo : Art Ed., 1985, p.71. [O livro citado foi premiado com o Jabuti 1986 da Câmara Brasileira do Livro].
Sobre Leigh Hunt (1784-1859). Autor de “The story of Rimini” (1816) era amigo de Keats, Byron e de Shelley, bem como de Hazlitt e Lamb. Teria sido “o homem de letras mais importante de que Keats cultivou a amizade…” diz-nos Péricles Eugênio, embora ressalte que respeitando Shelley, “dele Keats não se aproximou para preservar sua prória individualidade. Ou talvez porque a nobreza de Shelley não o atraísse. Extrema ironia do destino dos poetas, Shelley afoga-se tendo nos bolsos dois livros – um destes era o último livro de John Keats…
“John Keats aliás não se achegou a nenhum dos grandes poetas de seu tempo, como Wordsworth ou Coleridge, os quais veio a conhecer, admirando o primeiro, apesar de certas divergências (julgava sua poesia egotista, diretriz que não era a dele) e também o segundo, com o qual veio a ter mais tarde uma palestra proveitosa, segundo parece, e ao qual deu a impressão de que já trazia a morte nas mãos.” – afirma Péricles Eugênio na introdução ao volume de Poemas.
Quero ler… o quê? (II)
IAN McEWAN.
“The Children Act”
Penguin/Vintage, 2014, 216 p./ISBN 9780099599647
Dia 05 de setembro passado, eu estava em Helsinque (Finlândia), à espera do meu trem para São Petersburgo. Tive uma hora ou duas, entre a chegada do barco da “Viking Line” que nos trouxera de Estocolmo e a saída do trem para a Rússia…
Andando pela cidade, em busca de um café que nos reconfortasse de nossa travessia do Báltico minha mulher e eu encontramos uma grande livraria, onde comprei, entre outros, este livro de bolso de McEwan (2014) que me acompanhou até à chegada a S. Petersburgo e alguns dias mais.
O livro é um McEwan puro. Sabe-se que McEwan é um candidato ao Nobel de Literatura (preterido mais uma vez, em 2016) e que faz muita pesquisa para chegar à publicação de um romance. Neste caso, o autor registra seu reconhecimento e gratidão ao juiz Sir Alan Ward, que com sua (dele) experiência ajudou o autor a obter mais verossimilhança para a trama. McEwan cumpre bem a lição flaubertiana (ou Vargas Llosiana) de devotar-se a seu ofício com tal obstinação que marcou seu estilo como um dos maiores romancistas (quiçá o maior) de língua inglesa nos dias atuais. Este é mais um romance de uma safra produtiva de ficção. McEwan é britânico, nascido em 21/06/1948.
Neste romance, lemos com grande interesse a história da doutora Fiona Maye, juíza de 59 anos, que está de plantão no tribunal e atende às questões de infância. É uma histórica que coloca o leitor diante de uma polêmica romanesca tratada por McEwan com “inteligência e sensibilidade” – as mesmas cartacterística pelas quais é conhecida a própria ilustrada juíza que também tem vasta cultura e habilidades musicais. O caso urgente de um adolescente (a meses de tornar-se adulto) cujos pais não querem autorizar a transfusão de sangue, por princípios religiosos, é uma corrida contra o tempo para salvar o jovem.
Ao longo da história, vamos entendendo o comportamento da juíza e seus princípios de firme inteligência e sensibilidade como julgadora. Uma visita ao hospital, acompanhada da assistente-social, desperta sentimentos nela e emoções incríveis no jovem em tratamento e que precisa de uma decisão “de vida-ou-morte“. Esta sentença de Fiona mexerá com o futuro dos dois e o livro prenderá o leitor até à última página ansioso que estará para saber o que ocorrerá com o casamento de Fiona e o futuro de Adam.
Tal como em “Sábado”, há uma referência cruzada de prosa e poesia – o garoto Adam tem talento musical e poético; Dra. Fiona, musical. Sabem meus leitores que não sou um big fã de enredos (“a poética de enredo é uma parte, às vezes mínima – porém supervalorizada pela crítica – da satisfação que um romance nos dá” – disse alhures!), mas eis um romance em que facilmente o leitor tornar-se-á presa da história em si (do enredo – como de resto na maioria dos romances de McEwan).
Não hei de lhe tirar, caro leitor, o prazer de descobrir o que se passa até o final do romance, desde que me prometa que quando estiver aí pela altura da segunda parte do romance, lembrar-se-á deste resenhista lendo um poema – (de novo como em Sábado) do qual não conheço o ritmo musical, mas que me ficou na mente por oras enquanto passeava pelas mesmas ruas em que passaram Dostoiévski e Pushkin.
“In a field by the river my love and I did stand,
And on my leaning shoulder she laid her snow-white hand.
She bid me take life easy, as the grass grows on the weirs;
But I was young and foolish, and now am full of tears.” (W.B.Yeats*)
Falarei, então, como Fiona o fez, na cena da visita ao hosspital, ao repetir o poema cantado – (conheça versão cantada do poema de Yeats no link do youtube abaixo!) – com o jovem Adam – “She bid me take life easy“, she quoted to him…” (p.118). ♥♥♥♥
Veja o poema em dueto no YouTube.
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(*)Poema de W.B. Yeats, trecho citado à pág. 117 e o fecho em p.118. Não me consta que tenha sido traduzido. Comprar em eBook na Bertrand.