
Leiam, todos – ainda que poucos…
Cultura literária medieval (2)
Leiam, todos – ainda que poucos…
Cultura literária medieval (2)
A tendência do cronista, já disse, é fazer o que todos fazem, mas as listas abundam em redor, melhor fazer um levantamento poético-afetivo do ano que finda. E para isso, as musas me concederam lembrar de dois poetas – Lucchesi, tradutor e escritor e do poeta Carlos Drummond de Andrade, que em sua receita de ano novo, constata que há muitos que insistem em sonhar com o champanhe e a birita para desvelar o que só o interior pode revelar: a fórmula de um bom Ano Novo.
**************Clique na figura abaixo para ler a crônica na íntegra!****************
Ele diz:
(…) Mas a história nos conta que houve um ser humano capaz de atravessar esses véus de intangibilidade, uma única pessoa que concebeu a partir de uma decisão direta. Esse ser humano foi a Virgem Maria. Virgem, porque, entre o seu espírito e o Espírito que lhe cobriu com sua sombra, não havia os ruídos da carne. A sua decisão repercutiu imediatamente, sem o intermédio dos instrumentos humanos. Certamente ela não podia decidir quem seria esse ser humano que carregaria em seu seio, especialmente quando a forma dessa alma seria a própria Forma divina, pela qual todas as outras coisas foram criadas. O anjo Gabriel lhe deu a notícia de quem seria, e a Virgem, passado o natural espanto, acolheu a decisão divina, determinada a receber o princípio mesmo do universo dentro de sua alma. Só de uma tal decisão poderia brotar, não mais um animal racional entre tantos, mas o próprio Verbo encarnado, a própria Sabedoria que os filósofos tanto buscaram e que parecia infinitamente distante. A partir dela finalmente reestabeleceu-se uma ponte firme e segura entre os dois planos da realidade até então aparentemente irreconciliáveis desde a criação do mundo. O mistério da decisão humana, da escolha da alma racional, onde essa passagem de um plano ao outro acontece em um núcleo escuro e inacessível, em Maria se dá de maneira tão fulgurosa, que é como a versão humana do Fiat lux!, o ato original de toda a realidade. “Faça-se (em mim) a (vossa) luz”.
“A escolha máxima havia de ser uma máxima entrega. A aceitação de um poder infinito em seu seio equivalia à integração definitiva entre o espírito e a matéria, entre o ideal e o real, entre o Céu e a Terra. A humanidade de Deus, longe de ser absurda, era a única resposta possível ao problema mais interior da própria existência. “E o Verbo se fez carne, e habitou entre nós”. Imaculado, o seio da Virgem, ao aceitar a proposição que lhe fora feita no sexto mês, tornou-se como a repetição do Sétimo Dia, em que Deus finalmente decidiu repousar. (Renan Martins dos Santos).
A compaixão da Mãe e a Paixão do Filho, imortalizadas no mármora já exatamente famoso: “Pietà”, de Michelangelo, no Museu do Vaticano.
“Magnificat anima mea Dominum
Minha alma exalta ao Senhor Deus
Et exsultavit Spiritus meus in Deo Salutari meo
E meu Espírito se alegra em Deus, meu Salvador.
AMÉM!
Fonte:
JOÃO PAULO II, Papa e Santo da Igreja: “A Virgem Maria – 58 Catequeses do Papa João Paulo II”, Editora: Cléofas; Idioma: Português; ISBN: 978-85-88158-46-7; O texto de Renan Martins no Medium.
Adalberto de Queiroz
Especial para o Jornal Opção
Em abril, foi lançado o livro “As Heresias de Pedro Abelardo” (É Realizações, 120 páginas, tradução de Carlos Nougué e Renato Romano), livro em edição bilíngue latim-português, de alto valor tanto para os fiéis e os estudiosos da obra de São Bernardo de Claraval, bem como para aqueles que mesmo não partilhando da fé católica, prezam a verdade e estão interessados nos pensadores da Idade Média. Depois de publicar Duns Scot, Clemente de Alexandria e Santo Tomás de Aquino, com títulos raros ou disponíveis apenas em edições portuguesas, a editora É Realizações, sob a coordenação do medievalista Sidney Silveira, presta um grande serviço ao leitor brasileiro interessado no pensamento dos filósofos e teólogos medievais. “Este lançamento representa um ato pedagógico”, resume Sidney Silveira.
Continue lendo no link Opção Cultural.
Neste link, leia o artigo completo, antes da edição pelo jornal.
De “O Outono da Idade Média”, J. Huizinga, p.333 e ss. da ed. brasileira. Google Livros pdf anexo.“Ao cultivar o senso contínuo da nossa conexão com o poder que faz as coisas como elas são, estamos mais preparados para nos ajustarmos a sua recepção. A face externa da natureza não precisa ser modificada, mas as expressões de significado precisam.
“”Ao cultivar o senso contínuo da nossa conexão com o poder que faz as coisas como elas são, estamos mais preparados para nos ajustarmos a sua recepção.
A face externa da natureza não precisa ser modificada, mas as expressões de significado precisam.
Estava morto e agora reviveu. É a diferença entre olhar uma pessoa sem amor e olhar a mesma pessoa com amor…
Quando vemos tudo em Deus e atribuímos todas as coisas a Ele, lemos uma expressão superior do significado nas questões comuns.”
(William James, “Varieties of Religious Experience”, pp.474-5, cit. por Huizinga, em O Outono da Idade Média, p.335).
Mais? GoogleBooks – pdf do WJ.
Para Saber Mais, siga o link: http://books.google.com.br/books?id=2AezbiIYHssC&lpg=PP1&dq=varieties%20of%20religious%20experience&hl=pt-BR&pg=PP1&output=embed” target=”_blank”>Google Books.
Professor JANE ELLEN Musicista, Palestrante e Compositora
Como meus seis leitores sabem, estou nos EUA, num programa de estudos continuados da UNM CONTINUING EDUCATION – seguindo o “Osher Lifelong Program“, um tempo precioso que estou investindo, neste período outonal no hemisfério norte (Fall’14) em cursos, preferencialmente sobre a era Medieval.
“Knowledge is a road to wisdom.
The Human soul is made for the Eternal”
– esta é minha legenda nesse período, tirei da obra de São Boaventura.
Até agora, passados +30 dias de permanência no Novo México, eu vos digo que este foi o melhor curso. A paixão pelo assunto e o conhecimento da palestrante como musicista que é, fizeram o perfeito complemento para que o curso “19844 Hildegard of Bingen” saísse do catálogo da UNM para o meu coração e minha mente.
The Man in Sapphire-Blue
O que pretendo com essa série de posts é transmitir-lhes um pouco do continuado interesse que Hildegard pode gerar ao estudioso de nossos tempos interessado nas lições da Idade Média e tão carente de boa música e de aprofundar sua espiritualidade.
Há razões para amar Hildegard hoje, mas é melhor percorrer o caminho que leva ao coração e ao espírito – é o que mais conta nesta jornada. Hildegard é um dos pontos profundos entre os mestres e místicos da Idade Média.
Nascida em família nobre na cidade de Bickelhein/Rhineland (Alemanha), esta freira visionária fundou dois mosteiros, compôs mais de 70 canções – em sua maioria, música angélica -; escreveu mais de 100 cartas a amigos, confessores, bispos, arcebispos e poderosos dirigentes de sua época – em alguns ipassando um pito; compôs mais de 70 poemas; escreveu e publicou 9 livros sobre temas diversos, incluindo temas diversos como o uso medicinal das plantas, botânica e biologia além de, naturalmente, caminhos de divinização da vida (ver ‘Scivia’, adiante).
RECOMENDO que você, leitor, continue lendo e ouvindo a sequência musical abaixo, de uma série de obras compostas por Hildegard, vou contando o resto…
Primeiro dia do programa de estudos do Fall’14, na UNM.
Depois voltarei com mais detalhes.
Por ora, só passo pra manifestar meu entusiasmo dessa volta às aulas…
Na entrada do CE Building UNM, Albuquerque, NM
Fixo-me neste primeiro insight que recebi no curso – e tal como Sidonius, estou usando o final deste meu ano sabático para estudos e reflexões – “Otium Rustica“.
https://plus.google.com/103334966744194030988/posts/XVeDP5pCW3o
O fato me animou a retornar à UNM no próximo Outono (Fall ‘14), para me dedicar aos estudos de Humanidades (Francês e estudos Medievais), que por muitos anos foram sendo adiados em virtude da agenda quase sempre repleta de compromissos comerciais, como diretor da Multidata Informática nestes últimos 20 anos.
Ao designar a era Medieval como idade das trevas, não fazem tais críticos senão uma ‘generalização apressada’ sobre uma período riquíssimo em cultura, espiritualidade e visões definitivas para o que hoje gozam no ambiente acadêmico e cultural pós-Iluminista.
“ A idade Média…não foi, de forma alguma, a Dark Ages inventada pelos historiadores liberais do séc. XIX, mas genuína herdeira do mundo greco-romano. (*)
“Desde logo acentue-se que sem o conhecimento de sua história torna-se impossível a compreensão do mundo moderno, consequentemente do mundo contemporâneo.
Há um fato fundamental, que, dizendo de sua importância, também elide as teorias que a definiram como época escura: ela significa a fundação da Europa em sua base cristã-romana. Para apreender-se o veio subterrâneo que a informou basta pensar, numa simplificação que, apesar de ser quase um despojamento histórico, nem por isto despe-se de significação cultural, em dois fatos que ocorreram no seu seio: o estupendo fato da literatura provençal e a aparição da poesia dos clerici vagantes.
“…Pense-se nos vários proto-renascimentos que ocorreram no bojo do Medievo, onde Francesco d’Assisi acionou a grande revolução espiritual de que se nutriram a pintura de Giotto, o visionarismo libertário de Gioacchino da Fiore, de Giovanni da Parma, de Pier di Giovanni Olivi, Ubertino da Casale, Michele da Cesena, Almarico di Bena, os Spirituali e a poesia de Dante.” (1)
a) DO ESCOPO do evento:
NOTA-SE, desde logo, um claro ecumenismo na programação do evento, o que se refletiu também no auditório, onde era notável a presença de diversos credos.
No primeiro dia sentei-me ao lado do meu colega Bernard Hassan (Ossian), e logo travamos relacionamento com dois padres que estavam sentados na fila atrás de nós. O frei Peter é o pároco na igreja santa Maria de la Via Abbey (Our Lady of the Most Holy Rosary). Seu interesse naturalmente é imenso sobre o tema, muito mais porque acaba de concluir alguns anos de pesquisa e deve preparar um livro sobre a idade Média, com foco no Tomismo. Havia outros clérigos católicos e leigos de diversas religiões (protestantes, islamitas, judeus e hindus), além, é claro, de membros (amigos) da sociedade que patrocina o evento junto com o ISM – veja no verso do folheto em cópia os apoios, com destaque para a sociedade “Friends of Medieval Studies”.
O programa incluía, pois, uma mirada ampla que começava nos místicos cristãos Hildegard de Bingen e Giocchiano da Fiore; passando por dois mestres muçulmanos – Avicena e al-Farabi; chegando ao Sufismo medieval (com Jalal al-Din Rumi); além de uma sessão dedicada ao Budismo tibetano, representado na vida e obra de Yeshe Tsogyal, figura central da mais antiga escola tibetana de Budismo.
Sem dúvida, Os palestrantes eram todos de alto nível, como se pode ver pela ficha de cada um deles, sempre professores eméritos, mestres e doutores com uma ou várias publicações sobre o tema que focaram em suas conferências. Um especialista em filosofia islâmica e judaica – Lenn E. Goodman abordou os dois mestres muçulmanos (Al-Farabi e Avicena), além da vida e obra do Rabbi Moses ben Maimon (1138-1204) – que não são objeto deste post.
b) DOS MÍSTICOS CRISTÃOS – O professor Dr. Bernard McGinn foi o palestrante que mais me empolgou, seja pela qualidade das intervenções, seja pela vitalidade e bom-humor demonstrados em suas conferências.
Especialista em história da teologia Cristã, em Patrística e Medievalismo, McGinn tem diversos livros publicados (veja lista no link abaixo) e, recentemente, tem se dedicado a escrever sobre escatologia e história da espiritualidade e do misticismo.
Como fiquei fã do estilo e do alto saber do professor, superei minha timidez e ousei pedir-lhe um autógrafo em livro que eu já havia encomendado à Amazon: “The Doctors of the Church”.
Escolhi esse e mais um outro exemplar para adquirir durante o evento por conta de interesses anteriores – p.ex., minha admiração e constante desejo de conhecer mais aprofundadamente a obra de Santa Teresa d’Ávila, São João da Cruz; Santa Catarina de Sena entre outros Doutore(a)s da Igreja. Adquiri também “ (Modern Library Classics)” – vide resenha neste link.
Ambos estão na fila de leitura que aumentou consideravelmente depois deste seminário na UNM.
Fiquei impressionado com a força espiritual e muito interessado em dois personagens que eu não conhecia tanto, em meio a tantos Mestres e Místicos (do período abordado); além do visionário Gioacchino Da Fiori (que eu já conhecia de minhas leituras nos livros de Eric Voegelin) – destaco Hildegard de Bingen e Mestre Eckhart.
O traço comum que encontrei entre esses homens e mulheres deste rico período medieval foi a imensa capacidade que tiveram de manter contínuo diálogo com Deus, de manter a centralidade no Sagrado e uma forte determinação de manter fina sintonia com o Criador.
Fiquei também muito interessado em ler os Sermões de Eckhart, o dominicano de Colônia (Alemanha) que encantou Paris com suas homilias, mas não agradou o papa João XXIII, que o acusa de heresia e o persegue mesmo depois da morte do mestre Eckhart…
O raro título de “Magister Academus” (Meister) recebido na Sorbonne se incorpora ao seu nome de batismo, passando o dominicano Johannes Eckhart a ser chamado de Meister Eckhart (**) – “um servo de Deus que nunca parou de sonhar e de trabalhar, pregador, doutrinador e escritor incansável..”Ele recebeu de seus colegas dominicanos a fraternidade e a láurea de ser reconhecido o primeiro pregador a juntar a Escolástica com a Nova Teologia em vernáculo (a chamada “emerging vernacular theology”, lembrando que o Latim era a língua da Igreja, nos sermões e nos estudos teológicos à época).
Apesar da grandeza de tudo que fez, Mestre Eckhart teve divergências com o papa. Na época em que João XXIII ordena que ele justifique uma nova série de proposições extraídas de seus escritos, ele declarou:
“Eu posso errar, mas eu não sou um herege, pois errar tem a ver com a mente e o segundo com a vontade!”
Diante de juízes que não tinham experiência mística comparável a sua própria, Eckhart se referiu a sua certeza interior assim:
“…O que eu tenho ensinado é a verdade nua e crua”; pois:
“O olho com que eu vejo Deus é o mesmo pelo qual Ele me vê…”
A bula do Papa João XXII , de 27 de março de 1329, condena 28 proposições extraídas das duas listas. Uma vez que fala de Meister Eckhart como já morto, infere-se que Eckhart morreu algum tempo antes, talvez em 1327 ou 1328. Ele também diz que Eckhart tinha recolhido os erros da acusação.
Era intensa e íntima sua ligação com Deus e esse era o caminho que desejava para os seus fiéis e o que pregava em seus sermões. Uma frase sintetiza sua definição prática do que seu misticismo:
“Misticismo é profunda consciência de Deus em nossa vida;
é busca de profundo conhecimento e profunda União com Deus…”
O professor McGinn criou um gráfico (manual mesmo) sobre o pensamento místico da maturidade do Meister Eckhart – baseado em “Grunt = Ground” – quatro estágios da união entre a alma humana e Deus: algo na linha do que a enciclopédia Britannica considera como traços de “dissimilarity, similarity, identity, breakthrough” no maduro Eckhart (e muito mais!) – e quem sabe, me animo a num próximo post dedicar-me a repercutir esse aspecto da palestra, pois que amplo e profundo demais para o final dessas linhas?!
NOTAS ESPARSAS – de B.McG.
– 3 são os tipos de cristãos do Medievo:
a) Os visionários; b) Os místicos; c) Os Profetas.
Joaquim da Fiori reúne as 3 qualidades. (cfme. II Cor. 12: Os sinais distintivos do verdadeiro apóstolo se realizaram em vosso meio através de uma paciência a toda prova, de sinais, prodígios e milagres.).– No Evangelho de S. João o dom que caracteriza o “Visionário” se torna evidente em 24 citações do verbo “Ver” (em diversos tempos), incluindo o convite: “Vinde e Vede…”
(Ev. Jo.: 1:38 – “Voltando-se Jesus e vendo que o seguiam, perguntou-lhes:
Que procurais? Disseram-lhe: Rabi (que quer dizer Mestre), onde moras?
39 Vinde e vede, respondeu-lhes Ele…”).– Comuns aos apóstolos e seguidores de Cristo até a idade Média, as “Visões” foram decisivas para a construção do Cristianismo e dos espaços que a Igreja viria a ocupar – ordens, templos, escritos, releitura da Tradição etc. A Revelação continuada se traduz, assim, em visões espirituais e intelectuais. Essas visões se tornam formas externas de uma “extasis” (cf. ecstasis).
– Aquilo que designamos por “visões supernaturais”, restritas a uns poucos é “um Olhar especial para Deus”. Por vezes, essas visões permitem construir mosteiros (Hildegard de Bingen e Joaquim da Fiori), descobrir continentes (Colombo e a visão de novas terras); o dom de fornecer “dicas” sobre eventos futuros – vide o encontro de Da Fiori com o Rei Ricardo “Coração de Leão”; exercer uma pedagogia (educação de noviços, disciplina para o serviço religioso: pregadores, monges e monjas) – entender (e fazer entender) o mistério da Santíssima Trindade (p.ex., em Hildegard).
– As visões de Hildegard, diz McGinn “indicam sempre um didático propósito: a Unidade da Santíssima Trindade
(vide figuras que bem ilustram as visões).
Santa Hildegard de Bingen
foi declarada Doutora da Igreja por Bento XVI, em 2012. Sua obra mais difundida e que dela faz quase um consenso de que é uma Santa para o nosso século – “The Book of Divine Works”.Fico devendo também algumas linhas (mais aprofundadas) sobre Gioacchino da Fiori e Hildegard de Bingen, ambos visionários e realizadores, sempre inspirados na sua Fé e em viver o misticismo inteiramente
c) E antes de terminar, alinho minhas perspectivas e sonhos de voltar à UNM no próximo Outono ( Fall’14 ) para cursos de Religião comparada e de Francês, departamento este em que fui muito bem recebido pela professora Marina Peters-Newells.
d) Plano de leituras e livros referenciados no conclave:
Perdoe-me se o tempo e o espaço não me permitem me dedicar a outras conferências, mas como se sabe, todo texto exige escolha de palavras e é comandado pelo gosto pessoal do blogueiro.
Não imagine o leitor que desgostei das demais palestras, mas por ter gostado tanto das palestras e dos temas de McGinn, é que escolhi dedicar-me mais aos tópicos por ele levantados. E, para finalizar, deixo aos interessados nos livros do dr. Bernard McGinn, um link da Amazon dos livros de sua autoria e da página especial dedicada no website ao Autor.
LINK para >>>Dr. Bernard McGinn na AMAZON.com Bernard McGinn
(*) Conexões: um agradecimento especial a meu amigo Bernard Hassan e à professora Marina Peter-Newells (French Department) pelas orientações e pelas conexões que me ajudaram a sonhar com (e tornar possível) meu retorno à Universidade do Novo México em setembro próximo, para estudos em Religião e Francês.
+++++
Fontes:
(1) DE OLIVEIRA, Franklin. “Literatura e Civilização”, Ed. Difel-INL/Mec, S. Paulo, 1978. p.18/19.
“…Idade Média: esta nova aetas, que Melchior Goldast, em 1604 denominou medium aevum e Joachim von Watt media aetas – nesta linha de seccionamento da unidade do fluxo histórico navegaram Beatus Rhenanus e Heerwegwn, utilizando-se em Basiléia dos conceitos de media antiquitas e media tempora, e Georg Horn, em Leiden, que incorporaram em 1665 o período à historia recentior em oposição à historia antiqua…”
(**) Mestre Eckhart nasceu por volta de 1260 e faleceu em 1327/8.
(2) McGINN, Bernard. Obra completa – veja link – Amazon. Ref. cit. acima (link).
Folheto do evento – com os agradecimentos aos patrocinadores.
O fato me animou a retornar à UNM no próximo Outono (Fall ‘14), para me dedicar aos estudos de Humanidades (Francês e estudos Medievais), que por muitos anos foram sendo adiados em virtude da agenda quase sempre repleta de compromissos comerciais, como diretor da Multidata Informática nestes últimos 20 anos.
Ao designar a era Medieval como idade das trevas, não fazem tais críticos senão uma ‘generalização apressada’ sobre uma período riquíssimo em cultura, espiritualidade e visões definitivas para o que hoje gozam no ambiente acadêmico e cultural pós-Iluminista.
“ A idade Média…não foi, de forma alguma, a Dark Ages inventada pelos historiadores liberais do séc. XIX, mas genuína herdeira do mundo greco-romano. (*)
“Desde logo acentue-se que sem o conhecimento de sua história torna-se impossível a compreensão do mundo moderno, consequentemente do mundo contemporâneo.
Há um fato fundamental, que, dizendo de sua importância, também elide as teorias que a definiram como época escura: ela significa a fundação da Europa em sua base cristã-romana. Para apreender-se o veio subterrâneo que a informou basta pensar, numa simplificação que, apesar de ser quase um despojamento histórico, nem por isto despe-se de significação cultural, em dois fatos que ocorreram no seu seio: o estupendo fato da literatura provençal e a aparição da poesia dos clerici vagantes.
“…Pense-se nos vários proto-renascimentos que ocorreram no bojo do Medievo, onde Francesco d’Assisi acionou a grande revolução espiritual de que se nutriram a pintura de Giotto, o visionarismo libertário de Gioacchino da Fiore, de Giovanni da Parma, de Pier di Giovanni Olivi, Ubertino da Casale, Michele da Cesena, Almarico di Bena, os Spirituali e a poesia de Dante.” (1)
a) DO ESCOPO do evento:
NOTA-SE, desde logo, um claro ecumenismo na programação do evento, o que se refletiu também no auditório, onde era notável a presença de diversos credos.
No primeiro dia sentei-me ao lado do meu colega Bernard Hassan (Ossian), e logo travamos relacionamento com dois padres que estavam sentados na fila atrás de nós. O frei Peter é o pároco na igreja santa Maria de la Via Abbey (Our Lady of the Most Holy Rosary). Seu interesse naturalmente é imenso sobre o tema, muito mais porque acaba de concluir alguns anos de pesquisa e deve preparar um livro sobre a idade Média, com foco no Tomismo. Havia outros clérigos católicos e leigos de diversas religiões (protestantes, islamitas, judeus e hindus), além, é claro, de membros (amigos) da sociedade que patrocina o evento junto com o ISM – veja no verso do folheto em cópia os apoios, com destaque para a sociedade “Friends of Medieval Studies”.
O programa incluía, pois, uma mirada ampla que começava nos místicos cristãos Hildegard de Bingen e Giocchiano da Fiore; passando por dois mestres muçulmanos – Avicena e al-Farabi; chegando ao Sufismo medieval (com Jalal al-Din Rumi); além de uma sessão dedicada ao Budismo tibetano, representado na vida e obra de Yeshe Tsogyal, figura central da mais antiga escola tibetana de Budismo.
Sem dúvida, Os palestrantes eram todos de alto nível, como se pode ver pela ficha de cada um deles, sempre professores eméritos, mestres e doutores com uma ou várias publicações sobre o tema que focaram em suas conferências. Um especialista em filosofia islâmica e judaica – Lenn E. Goodman abordou os dois mestres muçulmanos (Al-Farabi e Avicena), além da vida e obra do Rabbi Moses ben Maimon (1138-1204) – que não são objeto deste post.
b) DOS MÍSTICOS CRISTÃOS – O professor Dr. Bernard McGinn foi o palestrante que mais me empolgou, seja pela qualidade das intervenções, seja pela vitalidade e bom-humor demonstrados em suas conferências.
Especialista em história da teologia Cristã, em Patrística e Medievalismo, McGinn tem diversos livros publicados (veja lista no link abaixo) e, recentemente, tem se dedicado a escrever sobre escatologia e história da espiritualidade e do misticismo.
Como fiquei fã do estilo e do alto saber do professor, superei minha timidez e ousei pedir-lhe um autógrafo em livro que eu já havia encomendado à Amazon: “The Doctors of the Church”.
Escolhi esse e mais um outro exemplar para adquirir durante o evento por conta de interesses anteriores – p.ex., minha admiração e constante desejo de conhecer mais aprofundadamente a obra de Santa Teresa d’Ávila, São João da Cruz; Santa Catarina de Sena entre outros Doutore(a)s da Igreja. Adquiri também “ (Modern Library Classics)” – vide resenha neste link.
Ambos estão na fila de leitura que aumentou consideravelmente depois deste seminário na UNM.
Fiquei impressionado com a força espiritual e muito interessado em dois personagens que eu não conhecia tanto, em meio a tantos Mestres e Místicos (do período abordado); além do visionário Gioacchino Da Fiori (que eu já conhecia de minhas leituras nos livros de Eric Voegelin) – destaco Hildegard de Bingen e Mestre Eckhart.
O traço comum que encontrei entre esses homens e mulheres deste rico período medieval foi a imensa capacidade que tiveram de manter contínuo diálogo com Deus, de manter a centralidade no Sagrado e uma forte determinação de manter fina sintonia com o Criador.
Fiquei também muito interessado em ler os Sermões de Eckhart, o dominicano de Colônia (Alemanha) que encantou Paris com suas homilias, mas não agradou o papa João XXIII, que o acusa de heresia e o persegue mesmo depois da morte do mestre Eckhart…
O raro título de “Magister Academus” (Meister) recebido na Sorbonne se incorpora ao seu nome de batismo, passando o dominicano Johannes Eckhart a ser chamado de Meister Eckhart (**) – “um servo de Deus que nunca parou de sonhar e de trabalhar, pregador, doutrinador e escritor incansável..”Ele recebeu de seus colegas dominicanos a fraternidade e a láurea de ser reconhecido o primeiro pregador a juntar a Escolástica com a Nova Teologia em vernáculo (a chamada “emerging vernacular theology”, lembrando que o Latim era a língua da Igreja, nos sermões e nos estudos teológicos à época).
Apesar da grandeza de tudo que fez, Mestre Eckhart teve divergências com o papa. Na época em que João XXIII ordena que ele justifique uma nova série de proposições extraídas de seus escritos, ele declarou:
“Eu posso errar, mas eu não sou um herege, pois errar tem a ver com a mente e o segundo com a vontade!”
Diante de juízes que não tinham experiência mística comparável a sua própria, Eckhart se referiu a sua certeza interior assim:
“…O que eu tenho ensinado é a verdade nua e crua”; pois:
“O olho com que eu vejo Deus é o mesmo pelo qual Ele me vê…”
A bula do Papa João XXII , de 27 de março de 1329, condena 28 proposições extraídas das duas listas. Uma vez que fala de Meister Eckhart como já morto, infere-se que Eckhart morreu algum tempo antes, talvez em 1327 ou 1328. Ele também diz que Eckhart tinha recolhido os erros da acusação.
Era intensa e íntima sua ligação com Deus e esse era o caminho que desejava para os seus fiéis e o que pregava em seus sermões. Uma frase sintetiza sua definição prática do que seu misticismo:
“Misticismo é profunda consciência de Deus em nossa vida;
é busca de profundo conhecimento e profunda União com Deus…”
O professor McGinn criou um gráfico (manual mesmo) sobre o pensamento místico da maturidade do Meister Eckhart – baseado em “Grunt = Ground” – quatro estágios da união entre a alma humana e Deus: algo na linha do que a enciclopédia Britannica considera como traços de “dissimilarity, similarity, identity, breakthrough” no maduro Eckhart (e muito mais!) – e quem sabe, me animo a num próximo post dedicar-me a repercutir esse aspecto da palestra, pois que amplo e profundo demais para o final dessas linhas?!
NOTAS ESPARSAS – de B.McG.
– 3 são os tipos de cristãos do Medievo:
a) Os visionários; b) Os místicos; c) Os Profetas.
Joaquim da Fiori reúne as 3 qualidades. (cfme. II Cor. 12: Os sinais distintivos do verdadeiro apóstolo se realizaram em vosso meio através de uma paciência a toda prova, de sinais, prodígios e milagres.).– No Evangelho de S. João o dom que caracteriza o “Visionário” se torna evidente em 24 citações do verbo “Ver” (em diversos tempos), incluindo o convite: “Vinde e Vede…”
(Ev. Jo.: 1:38 – “Voltando-se Jesus e vendo que o seguiam, perguntou-lhes:
Que procurais? Disseram-lhe: Rabi (que quer dizer Mestre), onde moras?
39 Vinde e vede, respondeu-lhes Ele…”).– Comuns aos apóstolos e seguidores de Cristo até a idade Média, as “Visões” foram decisivas para a construção do Cristianismo e dos espaços que a Igreja viria a ocupar – ordens, templos, escritos, releitura da Tradição etc. A Revelação continuada se traduz, assim, em visões espirituais e intelectuais. Essas visões se tornam formas externas de uma “extasis” (cf. ecstasis).
– Aquilo que designamos por “visões supernaturais”, restritas a uns poucos é “um Olhar especial para Deus”. Por vezes, essas visões permitem construir mosteiros (Hildegard de Bingen e Joaquim da Fiori), descobrir continentes (Colombo e a visão de novas terras); o dom de fornecer “dicas” sobre eventos futuros – vide o encontro de Da Fiori com o Rei Ricardo “Coração de Leão”; exercer uma pedagogia (educação de noviços, disciplina para o serviço religioso: pregadores, monges e monjas) – entender (e fazer entender) o mistério da Santíssima Trindade (p.ex., em Hildegard).
– As visões de Hildegard, diz McGinn “indicam sempre um didático propósito: a Unidade da Santíssima Trindade
(vide figuras que bem ilustram as visões).
Santa Hildegard de Bingen
foi declarada Doutora da Igreja por Bento XVI, em 2012. Sua obra mais difundida e que dela faz quase um consenso de que é uma Santa para o nosso século – “The Book of Divine Works”.Fico devendo também algumas linhas (mais aprofundadas) sobre Gioacchino da Fiori e Hildegard de Bingen, ambos visionários e realizadores, sempre inspirados na sua Fé e em viver o misticismo inteiramente
c) E antes de terminar, alinho minhas perspectivas e sonhos de voltar à UNM no próximo Outono ( Fall’14 ) para cursos de Religião comparada e de Francês, departamento este em que fui muito bem recebido pela professora Marina Peters-Newells.
d) Plano de leituras e livros referenciados no conclave:
Perdoe-me se o tempo e o espaço não me permitem me dedicar a outras conferências, mas como se sabe, todo texto exige escolha de palavras e é comandado pelo gosto pessoal do blogueiro.
Não imagine o leitor que desgostei das demais palestras, mas por ter gostado tanto das palestras e dos temas de McGinn, é que escolhi dedicar-me mais aos tópicos por ele levantados. E, para finalizar, deixo aos interessados nos livros do dr. Bernard McGinn, um link da Amazon dos livros de sua autoria e da página especial dedicada no website ao Autor.
LINK para >>>Dr. Bernard McGinn na AMAZON.com Bernard McGinn
(*) Conexões: um agradecimento especial a meu amigo Bernard Hassan e à professora Marina Peter-Newells (French Department) pelas orientações e pelas conexões que me ajudaram a sonhar com (e tornar possível) meu retorno à Universidade do Novo México em setembro próximo, para estudos em Religião e Francês.
+++++
Fontes:
(1) DE OLIVEIRA, Franklin. “Literatura e Civilização”, Ed. Difel-INL/Mec, S. Paulo, 1978. p.18/19.
“…Idade Média: esta nova aetas, que Melchior Goldast, em 1604 denominou medium aevum e Joachim von Watt media aetas – nesta linha de seccionamento da unidade do fluxo histórico navegaram Beatus Rhenanus e Heerwegwn, utilizando-se em Basiléia dos conceitos de media antiquitas e media tempora, e Georg Horn, em Leiden, que incorporaram em 1665 o período à historia recentior em oposição à historia antiqua…”
(**) Mestre Eckhart nasceu por volta de 1260 e faleceu em 1327/8.
(2) McGINN, Bernard. Obra completa – veja link – Amazon. Ref. cit. acima (link).
Folheto do evento – com os agradecimentos aos patrocinadores.