Leia : “Leveza & Esperança” em livro

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Narrativas (I)

JÁ PERDI muito dos meus medos na vida. Comecei com o de escuro. Esse não é fácil porque sei de muita gente que é até mais velho que eu e ainda tem. Tem gente com medo de fantasmas. De verdade, não o das revistinhas da banca do tio Cláudio.

Na casa dele, sempre aprendi coisas novas nas revistas em quadrinhos. O meu primo tinha tudo quanto é revista do Tarzan e eu duvido que alguém tenha desenhado melhor para revistinhas como o fizeram naquelas lá. O Onziberto tinha uma inveja danada de mim quando eu ia pra casa do tio Cláudio.

A viagem era meio extensa, mas valia a pena. Para não ficar com enjôo, eu ia na boléia do caminhão. Acho que foi daí que eu causei tanta inveja no meu primo. Éramos uma escadinha duns seis . Não sei porque ele destoou tanto de nome: era uma parelha boa eu e outro dos sete.

A gente andava muito junto, catando gabiroba, armando armadilha pra passarinho e até mesmo quando olhamos a Creuza tomando banho nua na cachoeira lá no Pirenópolis, a gente andava de parelha. Até pra pegar sarampo. Caxumba também foi junto. É o que lembro.
Foi quando subia de ônibus para Sobradinho que eu pensei:
A armadilha que me aprontaram para assustar foi o que me fez parar com esse medo de saltar; de viagem longa e de cachoeira.
A gente só ia e vinha – ia-e-envinha, de conforme Sêo Alcides – era de carroça; lombo de cavalo aprendi na Coivara, fazendinha do irmão da igreja de crente.
Agora o ônibus e o caminhão do meu tio vieram depois.
Naquele tempo, uma viagem de Anápolis a Pirenópolis levava uma boa horinha.
O Salto de Corumbá, esse já era bem mais perto. Ia rápido, ou então era eu que gostava mais do lugar para achar isso.
Deu-se, então, que eu tive que saltar de ponta do barranco, por conta duma aposta boba que eu tinha com o Nadim.
– Salta, nada – ele disse. Você é mole demais. E falou outras coisas que não é de boa conta ficar repetindo.
Por dentro, eu estava tremendo, mas o tempo favorecia. Rezei calado e fui andando rumo do barranco. Não falei nada de volta.
Pulei. Depois de ver outros fazendo, aprendi a mágica.
Foi um salto e tanto. Não demorei dentro d’água nem um minuto; eu acho que por conta de que era mês sem erre e toda a gente já sabia disso.
– O braço meu por debaixo do subaco ficou parecendo bife batido; e nas partes por dentro, então, menino, estavam que só um sumido…Fiquei todo engilhado, mas pulei.
Nunca mais deu de o Nadim ficar mangando de mim.
No convento de lá, de Pirenópolis, havia um buraco no muro, mas isto já é outra história.
Δ/ΔQ.

Livros, a lista 2015

ESTE ANO como há muitos outros...
Eis a lista, que de resto serve a muito pouco. 2 ou 3 comentários e lixo!
O que importa é que se algum moço ou moça pelo Brasil afora tomar essa lista e procurar ler um livro por mês no ano que se segue, o blogueiro terá cumprido sua missão.
Separei este ano apenas 12 livros – nem todos dados como lidos, concluídos – pois que alguns são livros de consulta e de estudo.
A tônica de 2015 foi mesmo a de que estivemos diante de um bom ano para os conservadores. Muitos bons livros que não constam da lista – pela rigidez que me impus do número 12 atestariam essa afirmação. O catálogo de editoras como a É Realizações, Resistência Cultural e outras “alternativas” – como Concreta; o vigor de uma revista como “Nabuco” e um certo destemor na expressão de setores do pensamento nacional que pareciam sufocados pela política editorial-educacional do governo no poder são outras evidências objetivas disto.

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Livros novos ou antigos – o conservador ganhou espaço nas estantes das livrarias e editoras.

2015 – deve (e para mim foi) lembrado como o ano do Cinquentenário do livro 1 da lista – “Sonetos”, de Augusto Frederico Schmidt e da morte do autor. Este blog tem uma boa memória sobre o assunto, pois com Caminhos Livraria e Editora produzimos um livreto sobre a efeméride.
O livro 2 – é “Esquecidos & Superestimados” de Rodrigo Gurgel, o professor que realizou o prodígio de nos fazer  voltar a ler boa crítica literária em português do Brasil – no dizer de Bruno Garschagen, agradecimento feito na “orelha” do livro e que endosso, quando mais não fosse pelos ensaios sobre Euclides da Cunha e Coelho Neto.
3 – A Beleza Salvará o Mundo (Gregory Wolfe) – um estilo próprio para dizer o que precisamos em meio ao ruído ideológico das guerrilhas, elevando o debate e marcando estilo próprio. Não, não é um pastiche de Bloom como este não o foi de Mortimer Adler…Escritor, professor e editor, Wolfe é um dos pioneiros do ressurgimento do interesse na relação arte e religião.
4 – A Poeira da Glória – Um Martin Vasques da Cunha para ser estudado. Livro de referência. Como anda na contra-mão da crítica tupiniquim, há de desagradar a muitos. O curriculum do autor e a qualidade do texto devem enriquecer meu 2016.
5 – Bruno Garschagen – fez-me sedimentar uma intuição. O que eu já imaginava – que “governo nos olhos dos outros é refresco” – se confirma; foi por isso que acompanhei com prazer a leitura de “Pare de Acreditar no Governo”.
6 – JÚLIO MESQUITA e seu tempo – de Jorge Caldeira, vol. 1 – o Jornal de prelo locomotores e República; seguido de outros 3 volumes. Do primeiro posso dizer que há sim interesse por um catatau sobre a história do criador de O Estado de São Paulo, porque o que se conhece não é apenas o jornal (do qual sou leitor e assinante) mas o país do período retratado e este assino deste pequenininho – como nacionalista não eufórico.
7 – G.K. Chesterton – “Contos de fadas e Outros Escritos” – outro exemplo de retomada da obra de um conservador na mão de uma editora alternativa, publicação via crowdfunding – sem dinheiro de governos e bancado pelos leitores, como este blogueiro.
8 – Javier Marías – “Assim começa o mal” – Uma ficção de valor que é para a vida se movimentar em pura imaginação. Neste caso pecaminosa e soberbamente bem escrita. O desejo é o pano de fundo da história, tal como “é um dos motores mais poderosos da vida”. Uma outra Beatriz que não move o poeta mas um ficcionista de valor – um dos que dominam plenamente sua arte.
9 – O diário sentimental de uma viagem ao Chile será sempre lembrado pelos bons livros que de lá trouxe. Em minha viagem, relatada aqui e no jornal Opção, cito este e outros livros. O Antologista Erwin Díaz nos prova com “Poesia chilena de hoy” que o pequeno país costeiro tem, além de dois prêmios Nobel, uma rica poesia, além e apesar do icônico Pablo Neruda.
10 – Dona Adélia – Poesia Reunida. A paixão do verso e a postura civica me fazem amar esta cidadã. “Lírica, bíblica, existencial, faz poesia como faz bom tempo” – tenho que concordar em como Drummond colocou-a em verso definida.
11 – “A vida intelectual” – Há muitos anos recebi um arquivo pdf com este texto que agora a É Realizações traz a lume. O padre e educador A.D.Sertillanges é para ser lido, relido, estudado e tido à cabeceira. Evoé, editores, por este “livro dedicado a todos aqueles que desejam uma vida pleana…” Eu me senti incluído e feliz com a edição.
12 – Olavo de Carvalho – “A  dialética simbólica”. Sim, não se assuste amigo de formação e prática política. É muito bom esse livro, apesar de ser uma seleta de artigos, anotações de aulas e que ficariam dispersos não fosse o esforço do pensador e do editor de reuni-los em livro “de grossa lombada”. Mesmo que considerados “escritos menores” esses textos trazem a marca de “um dos mais originais e audaciosos pensadores do Brasil”. Eu sou muito grato ao professor Olavo por ter acompanhado seu (dele) COF – não a tosse! – mas o Curso Online de Filosofia e com ele aprendi muito. Se você conseguir passar por sobre a camada de verniz que o nome recebeu – como os móveis antigos de bom Carvalho devem receber – perder o preconceito, há de descobrir um pensador original e um provocador que nada tem de sisudo mas que pode e deve ser levado a sério para pensarmos o país.

De resto, Boas Leituras a você e um 2016 de reencontro com a Essência.
Abraço fraterno

Beto Queiroz

Poesia Falada também é Poesia…É o declamador que vai acordar os poemas prisioneiros das páginas dos livros antigos (e nem tanto…).

Notas de uma arrumação hesitante I — Os que se foram

Fal Azevedo e a memória afetiva dos livros.

Rebloggling

Pessoas queridas:

Parece que muitas pessoas querem retomar o hábito de blogar, sem ser pagas por isso.

Se você tiver este propósito claro,é possível não ser corrompido por uma empresa ou por uma multinacional brasileira que carrega verbas do tipo *.gov pra que você blogue o dia inteiro.

Esse não é o propósito de gente que tem poucos e fiéis leitores e amigos de blogs antigos. Mas há um aliado a toda gente de bem. O Google promete dar evidência a sua Autoria nos posts (confira no link).

Nosso propósito é mesmo reviver uma fase ingênua dos blogs em que éramos calmos e lentos, discutíamos muitos e não havia um escambo entre o fazer blogs.

Há pessoas maravilhosas envolvidas nesse desejo de voltar a “blogar”. Algumas delas se expressaram a partir de uma provocação de Mônica Manna no FB.

Daí, vieram muitas pessoas para falar do mesmo tema: como era verde o nosso vale de blogs. Hoje, tudo parece mais cinza, mais rápido, mais ininteligível para todos nós. Há também outras hipóteses, p.ex. uma comunidade no Google _+  pode ser uma hipótese de retomada dos nossos contactos.

Bem-Vindo(a)!

Encarando problemas…

Ainda bem que nem sempre tenho que encarar problemas só com meus próprios recursos e dons.

As técnicas para solução são muitas. Os amigos são valiosos.

Essas dicas do Andersom podem valer… Pra mim, valem muito!

Petite prose en poème

No passado, eram petites poemes en prose;
Agora, é isso – “It’s a little poetic post: imperdível!

Claire vê a Cartago de Flaubert

“A CARTAGO DE FLAUBERT”
Autora: Claire Scorzi*

Por volta de 1857, Gustave Flaubert começou a planejar o romance Cartago. Viajou até a África, visitando as ruínas da cidade, leu em torno de 100 volumes para embeber-se no tema – obras de História, Arte Militar, Patologia, Religião e outras. Em suas cartas, registrou o sofrimento que era dedicar-se à realização desse livro. “Que tema miserável! Eu passo alternadamente da ênfase mais extravagante à convenção mais acadêmica” escreveu ele ao escritor Ernest Feydeau em fins de 1857. Em 29-30 de novembro de 1859, ao mesmo amigo escrevia: “É preciso ser absolutamente louco para empreender livros semelhantes! A cada linha, a cada palavra, supero dificuldades de que ninguém terá idéia, e está certo talvez que delas não se faça idéia. Pois se meu sistema é falso, a obra estará fracassada.”

Salambô, como acabou por intitular-se o romance histórico sobre Cartago, é uma obra impressionante: páginas e páginas de descrições de ambientes, vestimentas, objetos, costumes, páginas descrevendo batalhas com vividez e crueza. O efeito da leitura é monumental, o que é curioso porque o livro em si é pequeno (168 páginas em letra miúda, margens apertadas, enfim, uma edição econômica; a edição mais volumosa que encontrei possui 216 páginas). Contudo, enquanto vamos lendo, Cartago ressurge – ainda que seja decerto a Cartago de Flaubert, não se trata de um feito desprezível – aos nossos olhos, majestosa, poderosa, soberba, despótica: sua riqueza entra-nos pelos olhos, apela a nossos outros sentidos (o tato: como se tocássemos seus tecidos finíssimos; o paladar: como se provássemos suas iguarias). Desde o primeiro capítulo, com o banquete dos mercenários durante o qual fica subentendido que não receberão seu soldo após a guerra, a leitura nos prende. À medida que o romance avança, acompanhamos a revolta dos mercenários, o encontro entre o soldado Matô e a filha de Amílcar, Salambô, o roubo da túnica do deus fenício Tanit, as batalhas entre os mercenários e os cartagineses, o cerco de Cartago, a fome e a sede, a captura e o destino horrendo dos prisioneiros de ambos os lados, tudo isso perpassado da mesma monumentalidade, da mesma impressão do grandioso.

Flaubert era um grande escritor. A crítica considera Madame Bovary sua obra-prima. Pessoalmente, é no Flaubert experimental e satírico de Bouvard Pécuchet, no Flaubert escritor dedicado ao sacerdócio da Literatura nas Cartas, e agora nesse Flaubert meticuloso, fascinante e recriador de um mundo desaparecido em Salambô que encontro o gênio tantas vezes incensado; no escritor dessas últimas obras, encontro um escritor de minha predileção.

Vale ainda observar: quantos, dentre os nossos pretensos teóricos e críticos literários, terão lido Salambô? Relembro os comentários de Boris Schnaiderman, impressionado com a brutalidade dos relatos de fome e loucura em Narrativa de Kolyma de Chalamov. É verdade: Chalamov descreve fatos, não ficção. Ainda assim, é difícil não crer nas descrições que Flaubert faz do cerco e dos esforços dos mercenários para tomar Cartago – a brutalidade dos combates, a chegada da fome que leva ao canibalismo, o desespero que leva à superstição: o sacrifício de crianças ao deus Moloque. Crueza. Horror. Recriação de um tempo e de uma cultura. Numa obra-prima de 1862.”

(*Texto e pesquisa de Claire Scorzi, do ex-Blog Claire Insone)
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Quase um ano depois de ter fechado seu excelente blog, Claire começou uma nova e interessante atividade, para atender a um pedido de sua irmã ela enviou uma resenha por email a amigos virtuais e instituiu o que chamou de PostMail e nós, seus amigos virtuais, fomos brindados com seus sempre consistentes textos através deste novo meio. A resenha que reproduzi acima é a terceira da série e muito mais me agradou por dizer respeito a um escritor francês que muito prezo e sobre quem já havia feito uma ou duas referências no meu antigo blog.
Por email, confessei à amiga a dificuldade que oferece Salammbô pra ser lido em francês, mesmo por um sujeito que fez o Nancy-3 da velha e boa Aliança Francesa. Mas já consegui uma edição portuguesa perdida em minha prateleira e por conta deste texto da Claire, vou encarar a leitura dos dois volumes
de Lello & Irmão (Porto, s/data).

Mais uma vez, Claire, obrigado por compartilhar.