A minha 1ª. Remington

UMA FOTO INUSITADA  me anima muito e me provoca a este post.
Retirada de um site alemão esta foi o toque bastante para dar um clique em minha memória.
É como se voltasse ao curso de datilografia, nos anos 60, usando uma velha Remington, batendo nas teclas, repetitivamente, até à quase perfeição (ainda não havia o papel corretor, imagine o liquid paper).
Era um interminável “asdfg çlkjh qwert poiuy alsldkfjgh” etc e tal, sob o olhar atento de minha irmã Dora, nossa professora de datilografia.

Depois, veio a 1ª. máquina que usei como escrivão – uma Olivetti (recuperada em estilo de época por minha mulher que a mantém em nossa biblioteca como um troféu). Enfim, uma série de toques na memória afetiva de um escrivão de polícia que nunca viria a realizar o sonho de ser Escritor.
Deixo ao leitor a apreciação da inusitada foto do Taz.De , enquanto elaboro sobre o tema desta Memorabilia, pensando em quanto foi `o barco agitado de minha vida´ (obrigado, Paulinho).

Minha Olivetti 1TINHA EU 14 anos de idade”, diria repetindo o sambista Paulinho da Viola, quando exerci minha primeira ocupação não-remunerada, mas que terminava me dando algumas recompensas e muitas alegrias.

Era eu o escritor de cartas para meus irmãos adotivos do orfanato onde éramos criados. Eles me contavam o que queriam escrever aos padrinhos nos EUA e eu colocava em bom português o que depois seria traduzido pelo patrocinador dessa inusitada aliança de generosos mantenedores norte-americanos, ajudando um orfanato no Brasil do final dos anos 60, início dos 70.
Naturalmente, uma carta bem feita poderia garantir ao remetente (era o que imaginávamos!) um bom presente no Natal ou no aniversário (e esses sempre chegavam, independente do mérito do texto que eu produzisse. Eu sempre dizia a mim mesmo, ao ver os presentes dos outros, que não havia caprichado na minha própria carta ao padrinho…). O que era mesmo certo é que eu recebia uma atenção especial neste ofício de ghost-writer: havia um local mágico onde  eu “ trabalhava” (a biblioteca). Era a distância perfeita para outro local de onde queria ficar longe: o eito, a lida real de cabo-de-enxada, a roça, a capina. Não que tenha feito alguma coisa a mais para receber a designação pejorativa de ´preguiçoso` –  creio hoje, com muita firmeza, que nunca me me adaptaria ao trabalho rude da roça e ponto parágrafo.

O que fiz para me distanciar do eito, me levou ao mundo das letras. Tinha predileção por bibliotecas, no orfanato e no Colégio particular, onde estudávamos (nós, os do Abrigo), como bolsistas, e tínhamos a obrigação de obter boas notas. A biblioteca era, então, meu refúgio onde passavas os recreios a ler as coleções inteiras a que tive acesso, uma a uma, sob a orientação sempre correta de dona Delfina, nossa zelosa bibliotecária.

Hoje fiquei pensando nas frases de um filósofo que encontrei recentemente sobre lembranças. Eric Voegelin reabilita lembranças profundas, desde a mais tenra infância (adoro o termo, pois é como se fôssemos frutas frescas e vulneráveis, o que de resto é a definição da infância).
Lembrei-me também de Mario Vargas Llosa e suas memórias de infância. Não que a infância seja imprescindível. Eu penso: A infância é apenas de onde viemos e, provavelmente, de onde nunca sairemos.
Eric Voegelin nos alerta sobre a importância da memória:
“Experiências impelem à reflexão e estas excitam a consciência para a ‘dor’ da existência”.

Diga aí, Betinho! Ah, o diminutivo `que me devolve à calça curta´ (como em Vargas Llosa, “Tia Júlia e o Escrivinhador`). E eis que há uma Remignton na capa e no conteúdo do livro de Vargas Llosa:
Uma carroça funerária sobre a qual não agiam os anos (…) e quando sob ameaça: “mas para levá-la teria que passar pelo cadáver de Pascual… , dizia o Marito de `Tia Júlia e o Escrevinhador`.
Há uma máquina de escrever aí e um escritor de cartas no `Batismo de Fogo’, mas estou com preguiça de procurar (hum, acho que sou mesmo um preguiçoso!).
(…)
A verdade é que penso, seriamente, em transformar minha velha Olivetti numa máquina retrô IT num kit retrô-TI . Ela, a minha inesquecível máquina de escrever do tempo da PF, que tanta  experiência me deu, ao longo da minha vida de escrivão de polícia e pela vida a fora.
(Segue em post futuro…).
+++++
Fontes: Voegelin, Eric. “Anamnese”. Edit. É Realizações, Anamnese: da teoria da história e da política / Eric Voegelin, introdução David Walsh ; tradução Elpídio Mário Dantas Fonseca. – S.Paulo : É Realizações, 2009. – (Coleção Filosofia Atual)./ Vargas Llosa, Mario. Tia Julia e o Escrevinhador. Circulo do Livro, 1977.

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A minha 1ª. Remington

UMA FOTO INUSITADA  me anima muito e me provoca a este post.
Retirada de um site alemão esta foi o toque bastante para dar um clique em minha memória.
É como se voltasse ao curso de datilografia, nos anos 60, usando uma velha Remington, batendo nas teclas, repetitivamente, até à quase perfeição (ainda não havia o papel corretor, imagine o liquid paper).
Era um interminável “asdfg çlkjh qwert poiuy alsldkfjgh” etc e tal, sob o olhar atento de minha irmã Dora, nossa professora de datilografia.

Depois, veio a 1ª. máquina que usei como escrivão – uma Olivetti (recuperada em estilo de época por minha mulher que a mantém em nossa biblioteca como um troféu). Enfim, uma série de toques na memória afetiva de um escrivão de polícia que nunca viria a realizar o sonho de ser Escritor.
Deixo ao leitor a apreciação da inusitada foto do Taz.De , enquanto elaboro sobre o tema desta Memorabilia, pensando em quanto foi `o barco agitado de minha vida´ (obrigado, Paulinho).

Minha Olivetti 1TINHA EU 14 anos de idade”, diria repetindo o sambista Paulinho da Viola, quando exerci minha primeira ocupação não-remunerada, mas que terminava me dando algumas recompensas e muitas alegrias.

Era eu o escritor de cartas para meus irmãos adotivos do orfanato onde éramos criados. Eles me contavam o que queriam escrever aos padrinhos nos EUA e eu colocava em bom português o que depois seria traduzido pelo patrocinador dessa inusitada aliança de generosos mantenedores norte-americanos, ajudando um orfanato no Brasil do final dos anos 60, início dos 70.
Naturalmente, uma carta bem feita poderia garantir ao remetente (era o que imaginávamos!) um bom presente no Natal ou no aniversário (e esses sempre chegavam, independente do mérito do texto que eu produzisse. Eu sempre dizia a mim mesmo, ao ver os presentes dos outros, que não havia caprichado na minha própria carta ao padrinho…). O que era mesmo certo é que eu recebia uma atenção especial neste ofício de ghost-writer: havia um local mágico onde  eu “ trabalhava” (a biblioteca). Era a distância perfeita para outro local de onde queria ficar longe: o eito, a lida real de cabo-de-enxada, a roça, a capina. Não que tenha feito alguma coisa a mais para receber a designação pejorativa de ´preguiçoso` –  creio hoje, com muita firmeza, que nunca me me adaptaria ao trabalho rude da roça e ponto parágrafo.

O que fiz para me distanciar do eito, me levou ao mundo das letras. Tinha predileção por bibliotecas, no orfanato e no Colégio particular, onde estudávamos (nós, os do Abrigo), como bolsistas, e tínhamos a obrigação de obter boas notas. A biblioteca era, então, meu refúgio onde passavas os recreios a ler as coleções inteiras a que tive acesso, uma a uma, sob a orientação sempre correta de dona Delfina, nossa zelosa bibliotecária.

Hoje fiquei pensando nas frases de um filósofo que encontrei recentemente sobre lembranças. Eric Voegelin reabilita lembranças profundas, desde a mais tenra infância (adoro o termo, pois é como se fôssemos frutas frescas e vulneráveis, o que de resto é a definição da infância).
Lembrei-me também de Mario Vargas Llosa e suas memórias de infância. Não que a infância seja imprescindível. Eu penso: A infância é apenas de onde viemos e, provavelmente, de onde nunca sairemos.
Eric Voegelin nos alerta sobre a importância da memória:
“Experiências impelem à reflexão e estas excitam a consciência para a ‘dor’ da existência”.

Diga aí, Betinho! Ah, o diminutivo `que me devolve à calça curta´ (como em Vargas Llosa, “Tia Júlia e o Escrivinhador`). E eis que há uma Remignton na capa e no conteúdo do livro de Vargas Llosa:
Uma carroça funerária sobre a qual não agiam os anos (…) e quando sob ameaça: “mas para levá-la teria que passar pelo cadáver de Pascual… , dizia o Marito de `Tia Júlia e o Escrevinhador`.
Há uma máquina de escrever aí e um escritor de cartas no `Batismo de Fogo’, mas estou com preguiça de procurar (hum, acho que sou mesmo um preguiçoso!).
(…)
A verdade é que penso, seriamente, em transformar minha velha Olivetti numa máquina retrô IT num kit retrô-TI . Ela, a minha inesquecível máquina de escrever do tempo da PF, que tanta  experiência me deu, ao longo da minha vida de escrivão de polícia e pela vida a fora.
(Segue em post futuro…).
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Fontes: Voegelin, Eric. “Anamnese”. Edit. É Realizações, Anamnese: da teoria da história e da política / Eric Voegelin, introdução David Walsh ; tradução Elpídio Mário Dantas Fonseca. – S.Paulo : É Realizações, 2009. – (Coleção Filosofia Atual)./ Vargas Llosa, Mario. Tia Julia e o Escrevinhador. Circulo do Livro, 1977.