Dois andares na “Casa da poesia brasileira”

Para os poetas Augusto Frederico Schmidt e Tasso da Silveira…

E ao traçar estes dois perfis em resumida crônica, encerro o ciclo “Poetas católicos do Brasil”.

Confira o artigo na íntegra, clicando no link abaixo:Destarte 11 ABR 2018.PNG


 

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UM FELIZ E SANTO NATAL a você, Leitor(a)!

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Com seus versos, alguns poetas provam que “o amor é mais sublime do que o mero pensamento, pois o pensamento absoluto é amar…”

Uma inspiração divina leva alguns homens a escrever, às vezes sem compreender toda a extensão do que escrevem. A inspiração divina nos leva àqueles versos ditos “inspirados” que podem também ser compreendidos melhor como resultados de visões de homens que miram o império divino – de Virgílio a Vinícius de Moraes (o jovem ainda católico, ainda crente de uma realidade expandida, não o velho entregue aos vícios e às seitas afro-brasileiras!); de Fernando Pessoa a Tasso da Silveira, passando pelo incontornável Jorge de Lima, talvez o maior poeta católico do Brasil.

Este é o terceiro de quatro artigos programados para este mês de dezembro de 2017. Confiram e curtam lá no site do jornal que dão endosso a que eu continue minha missão como colunista do prestigioso Opção Cultural, o maior jornal de literatura do país.

PARA LER A COLUNA, CLIQUE NA FIGURA ABAIXO.

Destarte 21 DEZ 2017.PNG

A estatura do poeta Tasso (i)

– MAS POR QUE ler e pesquisar um poeta tão velho?
A pergunta vem de gente instruída, leitores de boa cepa, conhecedores da literatura da hora e da antiga.
Não me surpreende tal desconhecimento, em relação ao Tasso da Silveira, quanto me chocou o mesmo, ao eleger o Augusto Frederico Schmidt como alvo de uma homenagem ao Cinquentenário de seu último livro (Sonetos) – o evento que realizamos, com sucesso, no primeiro semestre deste ano 2015 teve de superar o estigma do “poeta velho”.
HomeroPoeta Tasso-da-SilveiraTorquato Tasso

Minha resposta em um modo meio embaraçado é mais ou menos na linha do pesquisador que ama o assunto pesquisado. Então, hum…
Por dentro, respondo em silêncio:
– Velho? Imagina. Perto de Homero é uma criança saída dos cueros, como o outro Tasso (o Torquato) é um jovem adulto.
Não há idade na boa Poesia ou se prefere use a metáfora do vinho etc. etc.
Portanto, prossigo com minha leitura encantada da obra de um dos maiores poetas do Brasil no século passado. Poeta Tasso da Silveira_Bico-De-PenaIsmailovitch

Então, dá-se que descubro um artigo do professor José Carlos Zamboni (ver link abaixo para ler a íntegra) – o que só me fez caminhar para uma certeza: o que seria uma palestra-artigo sobre “A tríade dos poetas católicos do Brasil” há de se tornar um ensaio sobre um quarteto, em que o 4o. elemento passa de coadjuvante a protagonista. Agora são 4: Augusto, Jorge, Murilo e Tasso.

Assim provocou-me o professor Zamboni, falando sobre o Tasso da Silveira – entre os demais católicos escritores ao falar de “nomes como os romancistas Cornélio Pena, Lúcio Cardoso, Octavio de Faria (cunhado de Alceu), Gustavo Corção, José Geraldo Vieira, Plínio Salgado; e poetas como Tasso da Silveira, Murilo Mendes, Jorge de Lima, Augusto Frederico Schmidt, e até o Vinícius de Moraes da primeira fase (que depois trocaria o catolicismo da juventude pelo animismo panteísta dos terreiros de candomblé). Não se deve excluir desta lista nem o poeta Manuel Bandeira, que foi recuperando a fé à medida que envelhecia, nem Mário de Andrade, católico que fingia não o ser…

“O mais homogeneamente católico dos nossos poetas católicos foi sem dúvida o curitibano Tasso da Silveira, cuja obra se encontra infelizmente esquecida dos editores e do público. Quando for reeditado, os futuros leitores de poesia tombarão de espanto (na remota hipótese dessa espécie, a dos leitores de poesia, sobreviver aos predadores culturais desta e das próximas décadas).

“UM POETA a ser lembrado sempre. Curitibano, cantou sua terra, viveu a poesia mesmo com a vista cansada lhe faltou. A história do “mais homogeneamente católico” dos poetas-católicos-poetas do Brasil assim se pode contar.”

Poetas católicos do Brasil
Por José Carlos Zamboni*

“Num país e numa época em que os principais críticos literários brasileiros eram homens sem fé religiosa, ou já sem entusiasmo pela fé, a conversão e militância católica de Alceu de Amoroso Lima foi uma extraordinária novidade, de extensa repercussão, sobretudo a partir de 1928, ano em que assumiu a direção do Centro Dom Vital e de sua revista “A Ordem”, criados em 1922 por Jackson de Figueiredo (mesmo ano da exageradamente famosa semana de arte moderna paulista). Jackson morreu prematuramente, em 1927, e foi o principal responsável pela conversão de Alceu.

”Ainda está por ser feito o estudo definitivo da importância do Centro Dom Vital e de sua revista “A Ordem” para o pensamento brasileiro, responsáveis pela criação de uma mentalidade cultural cristã disposta a discutir a realidade contemporânea e nela seriamente influir. Aquele periódico criou uma atmosfera favorável à expressão e expansão de uma corrente literária espiritualista, basicamente católica, que reunia nomes como os romancistas Cornélio Pena, Lúcio Cardoso, Octavio de Faria (cunhado de Alceu), Gustavo Corção, José Geraldo Vieira, Plínio Salgado; e poetas como Tasso da Silveira, Murilo Mendes, Jorge de Lima, Augusto Frederico Schmidt, e até o Vinícius de Moraes da primeira fase (que depois trocaria o catolicismo da juventude pelo animismo panteísta dos terreiros de candomblé). Não se deve excluir desta lista nem o poeta Manuel Bandeira, que foi recuperando a fé à medida que envelhecia, nem Mário de Andrade, católico que fingia não o ser.” (José Carlos Zamboni em “Poetas católicos do Brasil”).

Da tríade elevada ao quarteto e a importância do 4o. elemento. Eis o meu delicioso desafio da hora presente.

Mini-bio de TASSO DA SILVEIRA (1895-1968).LivroTassodaSilveira_CancoesCuritibaPoeta Tasso-da-Silveira

Murilo Mendes, retrato by Guignard.

Poeta e escritor nascido em Curitiba (Paraná, Brasil). Formado em Direito,  no Rio de Janeiro. Considerado um dos representantes da ala espiritualista do modernismo, ao lado de Cecília Meireles e Tristão de Ataíde. Pertenceu ao Jorge de Lima_Foto Retocadagrupo da

O grande lírico, o

O grande lírico, o “poeta-gordo”, o poeta do amor, do mar, da morte. O poeta de Deus.

Revista Festa, da qual foi um dos fundadores. Estreou como poeta com Fio d’Água, em 1918. Somente a partir do terceiro livro — Alegorias do Homem Novo—, em 1926  é que adere ao verso livre.

Seleta
A seleção de poemas de Antonio Miranda é uma amostra representativa da poesia de Tasso da Silveira e eu a li com alegria, mas o pequeno volume “Canções a Curitiba & Outros Poemas”, intr. e seleção de Cassiana Lacerda Carolo, editado pela prefeitura de Curitiba no centenário do poeta em 1996, na coleção Farol do Saber* provê ao leitor visão mais ampla da obra poética de Tasso.

Da SELEÇÃO de Antonio Miranda…entre as jóias do “mais homogeneamente católico” dos ‘católicos-poetas’ do Brasil.
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O ÚLTIMO SONETO

AINDA hoje a Vida, a carcereira,
deu-me, por entre as grades da prisão,
a minha bilha de água verdadeira
e o meu pedaço humílimo de pão.

A fome fez da minha boca mendigueira
uma cítara, e a sede deu-lhe a afinação
que têm as folhas outoniças da amendoeira
para os dedos sutis da viração.

Assim, cada bocado de centeio
que trituro nos dentes, sabe-me, antes,
a um manjar esquisito e sem igual.

E cada sorvo de água, fresco e cheio,
vibra em meu paladar cordas ressoantes
de secreta lascívia espiritual.

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LIBERTAÇÃO

NOSSOS desejos se purificaram
e o nosso pensamento
foi subindo, ascendendo, serenando…

Nossas paixões se altearam
como o vento,
que, depois de varrer o pó do chão,
para as estrelas tremulas se eleva,
e, mais alto que a sombra, além da treva,
fica ressoando,
longe e livre, na ignota solidão…
++++++
Fonte: SILVEIRA, Tasso da. O Canto absoluto seguido Alegria do mundo. Poemas. Rio de Janeiro: Edição dos Cadernos da Hora Presente, 1940. 143 P. 15X21 cm. “ Tasso da Silveira “ Ext. bibl. Antonio Miranda.


| Do livro “Canções a Curitiba & Outros poemas” |

INVERNO.
(c) Tasso da Silveira.
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Chegou junho …
E Curitiba vestiu-se toda de branco
e apertou o seio túmido,
que cheira a malva, em rendas alvas,
e pôs no cabelo a estrela da manhã
pensando que o sol claro
era um príncipe louro e jovem
que vinha
todo coberto de ouro,
pedir-lhe a mão …
Oh, logo à noite, ela porá, sem dúvida,
o seu colar de fogueiras de São João …
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PENSAMENTO
A Jackson de Figueiredo.

Ah! ventura de ser a pedra informe
que não sonha, não pensa, não cogita,
e dentro da mudez erma e infinita
do próprio ser eternamente dorme …

A dor suprema, o orgulho desconforme,
o ódio a sangrar, – tudo o que em mim se agita –
devo-o à centelha dessa luz maldita
que mais negra me faz a treva ernome …

O mal que dela nasce, o mal tremendo,
foi subindo … aumentando … foi crescendo,
e hoje minha alma toda inteira inunda …

E hei-de ir em busca do Último-Momento,
vendo que se me torna o Pensamento
uma ferida cada vez mais funda ! …
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Do livro “Canções a Curitiba & Outros Poemas”, Tasso da Silveira, Farol do Saber, Curitiba, 1996, edição do Centenário do Poeta. p. 14 e 38/39.

FIO D’ÁGUA (1918) – poema 1
(sem título)
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(c) Tasso da Silveira.

Fio d’água, humilde e brando,
Da transparência dos cristais:
Tão claro e límpido vais
Cantarolando,
Que deixas ver, lá, no fundo,
A areia fina alvejando …
Tão diáfano ! Até parece
Que a areia é que vai cavando …
Verso meu, fio d’água oriundo
Da fonte da dor … pudesse
(Ai de mim!)
Fazer-te tão claro assim,
que se visse, lá no fundo,
– só – minha alma cantando
ou soluçando …
++++++++++++++++++++++

O POÇO
O poço estreito e profundo
é que era o centro do mundo.
Havia outras coisas mais:
a cerca de ripa tosca,
além da cerca, o banhado,
onde as rãs em tom maguado,
cantavam na noite fosca
velhas cantigas irreais:
vago, perdido, distante,
no descampado da frente,
o dormente chafariz,
ensinando a toda gente
seu jeito de ser feliz.

Mas o poço é que era o centro
do mundo, com a água inquietante
dormindo, a sonhar, lá dentro.
Quando a branca madrugada
surgia no azul etéreo,
do fresco e puro mistério
do poço é que, em debandada,
a matinal passarada
erguia o vôo triunfante.
E quando a sombra suspensa
sobre o mundo, serenava
meu juvenil alvoroço,
as estrelas fascinadas
tombando da noite imensa
caíam na água do poço.
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Tasso da Silveira, “Canções a Curitiba & outros poemas”, edição do centenário do poeta. Farol do Saber, Curitiba, 1996. Ilustr. bico-de-pena de Dimitri Ismailovitch, 1961, retrato de Tasso da Silveira (do livro citado, p.xxv).


Coda – o último poema.
Solilóquio (i) – Tasso da Silveira(*) – Nota do livro citado:
“Este foi o último texto ditado por Tasso da SIlveira a sua mulher. Este livro [Regresso a Origem, 1960] integra textos de um período no qual o poeta já havia perdido a visão, e tinha em sua mulher uma companheira de trabalho a quem ditava seus versos. Contam os filhos que este texto foi ditado à noite, como que antevendo a morte da mulher no dia seguinte. Como o pássaro que ficou só depois que o outro ergueu o vôo,Tasso da Silveira deixou definitivamente de escrever.” (in Canções…p.123, nota do editor).

Soliloquio_Poema de Tasso Da SilveiraPara finalizar, deixo um estudo de O.M. GOMES “Tasso da Silveira e seu Itinerário Luminoso”/. Aproveitem e apaixonem-se pela poesia de deste poeta que merece estar no panteão dos católicos poetas do Brasil. Clique neste link.Tasso e seu Itinerário Luminoso (O.M.Martins)