Poema inédito 2020 (2)

Isaías fala (1) 

Qual tecelão, eu ia tecendo a minha vida,
mas agora foi cortada a sua trama
.”

Contrito, o poeta lê o livro do profeta hebreu.
Em busca de palavras, abre o livro, medita sua letra.


Antes fora o medo, é bom que se diga;
e não fonemas, o que à leitura o moveu.

Antes ainda, o apocalipse diário o deixara
frente ao oráculo, e conheceu a infertilidade.

Isaías fala em nome de Deus, que com a brasa
sob a tenaz do Anjo, este lhe tocara os lábios.

Sabemos que o rei para a parede seu rosto voltara –
e chorou, como choro eu, choras tu, choramos todos.

O rei chorou, ao ouvir do profeta o veredito:
– “Vais morrer!”.
O rosto do rei é o teu rosto, leitor apaixonado:
a face dele, dita banhada – eu te digo: de medo turvada,
é tua face; o medo que tenho eu, tens tu, temos todos.

Porém, o profeta o fez imaginar possível um novo pacto
com a vida – como a reencontrou Ezequias, rei de Judá.

Então, o rei rezou e com Deus fez novo pacto, pois não queria morrer.
(Só os vivos louvam o nome de Deus, não me tires dentre os viventes.) Naquele tempo, havia um relógio de sol –
e o Senhor reconsiderou sua sombra atrasar…

Os dez graus da sombra no relógio de Acaz atrasada
significavam 15 anos à vida do rei de Judá adicionados.

Quem sabe ao poeta Deus conceda o mesmo, Isaías amado?

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