Isaías fala (1)
“Qual tecelão, eu ia tecendo a minha vida,
mas agora foi cortada a sua trama.”
Contrito, o poeta lê o livro do profeta hebreu.
Em busca de palavras, abre o livro, medita sua letra.

Antes fora o medo, é bom que se diga;
e não fonemas, o que à leitura o moveu.
Antes ainda, o apocalipse diário o deixara
frente ao oráculo, e conheceu a infertilidade.
Isaías fala em nome de Deus, que com a brasa
sob a tenaz do Anjo, este lhe tocara os lábios.
Sabemos que o rei para a parede seu rosto voltara –
e chorou, como choro eu, choras tu, choramos todos.
O rei chorou, ao ouvir do profeta o veredito:
– “Vais morrer!”.
O rosto do rei é o teu rosto, leitor apaixonado:
a face dele, dita banhada – eu te digo: de medo turvada,
é tua face; o medo que tenho eu, tens tu, temos todos.
Porém, o profeta o fez imaginar possível um novo pacto
com a vida – como a reencontrou Ezequias, rei de Judá.
Então, o rei rezou e com Deus fez novo pacto, pois não queria morrer.
(Só os vivos louvam o nome de Deus, não me tires dentre os viventes.) Naquele tempo, havia um relógio de sol –
e o Senhor reconsiderou sua sombra atrasar…
Os dez graus da sombra no relógio de Acaz atrasada
significavam 15 anos à vida do rei de Judá adicionados.
Quem sabe ao poeta Deus conceda o mesmo, Isaías amado?