Yeats, prêmio Nobel de Literatura de 1923.
Legível, até ao último verso.
Legível, até ao último verso.
A Coat
I made my song a coat
Covered whith embroideries
Out of old mythologies
From heel to throat;
But the fools caught it,
Wore it in the world’s eyes
As though they’d wrought it.
Song, let them take it,
For there’s more enterprise
In walking naked.
Uma Capa
Uma capa fiz do meu canto
De baixo a cima
Bordada
De antigas mitologias;
Mas tomaram-na os tolos
Para exibi-la ao mundo
Como se por eles fora lavrada.
Deixa, canto, que a tomem,
Pois maior feito existe
Em andar nu.
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Fonte: W.B. Yeats, Uma Antologia, Assírio & Alvim, Lisboa, 1996, pág. 70-71, Tradução José Agostinho Baptista.
A poesia nesta manhã de sábado pode fazer enorme bem à alma (como faz à minh’alma) sedenta de algo acima do meio-fio da rotina diária.
Mantenho com a poesia uma relação apaixonada, na qual uma importante tensão é, confesso, a do desejo de ter escrito versos que amo.
Transcrever poemas é, pois, uma maneira de dizê-los (declamá-los, como se dizia antigamente) em voz baixa aos amigos mais distantes, como quem mandasse um recado, sussurando:
– Ei, camarada, a poesia diz um pouco das saudades que sinto de mim mesmo (do menino antigo) e de você cuja voz talvez não ouvi, mas cuja articulação textual foi presente e importante para mim, outrora.
A Capa, tomada de empréstimo a W.B. Yeats é uma maneira de dizer-lhe:
– Venha ver que tolice cometo, escancaradamente, ao transcrever poemas.
A poesia vista assim tem algo de naïf, mas pode ser uma armadilha ao leitor apressado. Lendo com vagar e atenção talvez mistérios se descortinem…
– Ponha a capa ou ande nu com o poeta.