T.S.Eliot (3) + PostPost

Uma amiga querida, recentemente, indagava o porquê de Mário Faustino preferir Pound a T.S.Eliot – dúvida a que não soube responder, mesmo correndo ao meu “Poesia Completa e Traduzida”, d’onde me lembrava ter aprendido com o prof. Benedito Nunes que o autor de “O Homem e Sua Hora” era conhecedor e apreciador dos dois bardos anglófonos, a quem amou sem copiar – e “como Mestre no sentido poundiano, cultivou e aperfeiçoou formas herdadas da tradição poética“, das fontes onde dessedentou-se; mas isso é assunto para um outro post, pois que agora estou entusiasmado demais com o que Russell Kirk(*) escreve sobre T.S.Eliot.

Já sobre a amizade dos dois poetas de língua inglesa, basta dizer que Thomas adorava Pound, a quem dedica o Waste Land com uma epígrafe em Latim e essa dédicace:

Eliot, digno de todas as celebrações.

Fonte da ilustração – siga o link.

“For Erza Pound, il miglior fabbro”. Ponto. Vamos ao post, sem mais delongas.

Post no GoogleDrive  – este post é, na verdade, a continuação desse pensar e de um postzinho (transcrição no FB).

“Um funcionário de banco de modos suaves, escrevendo versos e resenhas num apartamento de Londres, estava iniciando um trabalho de restauração intelectual bem diferente das expectativas errantes de Shaw.

“Por intermédio da imaginação moral, a ordem do espírito e da comunidade poderiam ser reconquistadas; e Eliot, embora não fosse amante de belos sistemas de tipo sociológico, começara a fazer nascer em sua geração, tal faculdade imaginativa adormecida”

(KIRK, Russell. op. cit., p.188 – “A Era de T.S. Eliot: A Imaginação Moral do Séc. XX”, É Real., S. Paulo, 2011. Trad. Márcia Xavier de Brito.

Já falei aqui sobre este belíssimo livro e hei de continuar, porque Russell nos dá notícias da vida do poeta de modo crítico e com informações relevantes para compreendermos que espécie de trabalho silencioso Eliot fez para que através da “imaginação moral” pudessem ser reconquistadas a “Ordem do espírito e da comunidade”.


 

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Emily Dickinson (“uma centena de poemas”)

QUÃO SABOROSAS SÃO AS MANHÃS DE SÁBADO… Tanto mais quando as completamos com poesia.

ABRO “Uma Centena de Poemas”(*) ao acaso, como quem abrisse um breviário. E me vem este presente:

Trad., introd. e notas de Aíla de Oliveira Gomes

Trad., introd. e notas de Aíla de Oliveira Gomes

Dizem, ‘com o tempo se esquece’,
Mas isto não é verdade,
Que a dor real endurece,
Como os músculos, com a idade.

O tempo é o teste da dor,
Mas não é o seu remédio –
Prove-o e, se provado for,
É que não houve moléstia.
(686)
School

E virando a página:

“Um pensamento me veio hoje à mente
Que já antes me ocorreu.
Não o concluí; foi tempo atrás; que ano
Não lembro corretamente;

Nem para onde foi, nem porque veio
A mim por segunda vez;
Nem, em definitivo, o que ele era
Tenho a arte de dizer.

Mas – em algum canto – em minha alma – eu sei
Que já encontrei Coisa assim –
Foi só um relembrar – foi tão somente –
E já não mais veio a mim.
(701)

 

+++++
Fonte: DICKINSON, Emily. “Uma Centena de Poemas”. Trad., introd. e notas por Aíla de Oliveira Gomes. T.A. Queiroz/USP, S.Paulo, 1984, p. 100/103.

Ver também os poemas no original:
606
They say that “Time assuages” –
Time never did assuage –
An actual suffering strengthens
As Sinews do, with age –

Time is a Test of Trouble –
But not a Remedy –
If such it prove, it prove too
There was no Malady –


701
A Thought went up my mind today –
That I have had before –
But did not finish – some way back –
I could not fix the Year –

Nor where it went – nor why it came
The second time to me –
Nor definitely, what it was –
Have I the Art to say –

But somewhere – in my Soul – I know –
I’ve met the thing before –
It just reminded me – ‘twas all –
And came my way no more –
© Emily Dickinson, trad. AÍLA DE OLIVEIRA GOMES.

Emily Dickinson (“uma centena de poemas”)

QUÃO SABOROSAS SÃO AS MANHÃS DE SÁBADO… Tanto mais quando as completamos com poesia.

ABRO “Uma Centena de Poemas”(*) ao acaso, como quem abrisse um breviário. E me vem este presente:

Trad., introd. e notas de Aíla de Oliveira Gomes

Trad., introd. e notas de Aíla de Oliveira Gomes

Dizem, ‘com o tempo se esquece’,
Mas isto não é verdade,
Que a dor real endurece,
Como os músculos, com a idade.

O tempo é o teste da dor,
Mas não é o seu remédio –
Prove-o e, se provado for,
É que não houve moléstia.
(686)
School

E virando a página:

“Um pensamento me veio hoje à mente
Que já antes me ocorreu.
Não o concluí; foi tempo atrás; que ano
Não lembro corretamente;

Nem para onde foi, nem porque veio
A mim por segunda vez;
Nem, em definitivo, o que ele era
Tenho a arte de dizer.

Mas – em algum canto – em minha alma – eu sei
Que já encontrei Coisa assim –
Foi só um relembrar – foi tão somente –
E já não mais veio a mim.
(701)

 

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Fonte: DICKINSON, Emily. “Uma Centena de Poemas”. Trad., introd. e notas por Aíla de Oliveira Gomes. T.A. Queiroz/USP, S.Paulo, 1984, p. 100/103.

Ver também os poemas no original:
606
They say that “Time assuages” –
Time never did assuage –
An actual suffering strengthens
As Sinews do, with age –

Time is a Test of Trouble –
But not a Remedy –
If such it prove, it prove too
There was no Malady –


701
A Thought went up my mind today –
That I have had before –
But did not finish – some way back –
I could not fix the Year –

Nor where it went – nor why it came
The second time to me –
Nor definitely, what it was –
Have I the Art to say –

But somewhere – in my Soul – I know –
I’ve met the thing before –
It just reminded me – ‘twas all –
And came my way no more –
© Emily Dickinson, trad. AÍLA DE OLIVEIRA GOMES.