Um amigo já me dissera que amor demais aos livros nutre (ou seria denota?) certo desamor à leitura.
Mas há uma reflexão de Teresa d´Ávila, esquecida alhures (a reflexão, biensûr!), a ressaltar que se não houvera livro novo, a alegria diminuia… Era a pequena Teresa ainda a caminho da santificação de sua vida!
Eis-me, pois, muito contente e pleno de curiosidade com dois novos volumes adquiridos de um sebo em B.Horizonte (Páginas Antigas), estabelecimento que recomendo pela atenção do bibliófilo que dirige a casa.
O meu desejo é ler esses dois novos volumes antigos em minhas férias, que começam daqui a 16 dias.
(…)
Ah, esse oráculo dos tempos modernos, me trouxe a lembrança (esfumaçada) da leitura da biografia de Santa Teresa d´Ávila que cito, pois foi com os pais que Teresa d´Avila …
“descobriu o mundo da literatura de ficção, e passou
a se empolgar com as aventuras de guerreiros cristãos e mouros por suas terras e por terras estranhas. Mais uma vez, é ela própria quem nos conta isso, em sua autobiografia: “Era aficionada a libros de cavallerías […] Yo comencé a quedarme en costumbre de leerlos […] Era tan estremo lo que
esto me embevía que, si no tenía libro nuevo, no me parece tenía contento” (Libro de la Vida, 2,1). Aliás, Teresa não se limitava a ler: teve a idéia de ser autora de uma novela de cavalaria. Chegou a começá-la, com a ajuda de seu irmão. Mas tudo não passou de uma brincadeira de criança, que não foi adiante“.
Naturalmente, depois dessa ´brincadeira de criança`, Teresa decidiu ser santa e com o passar do tempo virou para muitos a Teresona (para distinguir de outra Santa não menor em estatura, mas em literatura, Santa Teresinha de Jesus…). E conforme prossegue o estudo citado:
“Depois de adulta, Teresa percebeu os perigos da leitura desenfreada dessas novelas, que levariam à loucura o grande Quixote. Não se pode esquecer, porém, que a leitura dos livros de cavalaria ajudou a santa a formar o gosto pelas histórias bem escritas, cheias de lances surpreendentes e imprevistos, que prendem a atenção do leitor. Uma biógrafa contemporânea, Marcelle Auclair, a denomina “a dama errante de Deus”. E não é difícil reconhecer nas peripécias da reforma carmelita, contadas por Teresa no Libro de las Fundaciones, algo da vivacidade narrativa que ela aprendera a apreciar, na juventude, ao ler as histórias de cavaleiros andantes. Podemos também supor que algumas imagens nupciais da obra teresiana fossem recordações dos romances de cavalaria, dos famosos cavaleiros andantes apaixonados, como Dom Quixote por sua Dulcinéia.”
Se eu fosse você, ia logo pra lá!